*Estagiário sob supervisão de Silvana Salles e Tabita Said
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
Durante o ano, o Jornal da USP abordou diversos temas dentro da realidade étnico-racial. Entre pautas que denunciaram a violência e outras que enalteceram conquistas, 2023 foi um ano repleto de acontecimentos neste campo. Nos despedimos de Glória Maria e relembramos sua contribuição ao jornalismo; tivemos Ailton Krenak se tornando o primeiro indígena a receber o título de Imortal pela Academia Brasileira de Letras. Completaram-se também 20 anos da implementação da Lei 10.639/2003, uma das maiores conquistas da educação antirracista no Brasil, que segue sendo um dos principais assuntos abordados dentro do tema.
Abordando visões acadêmicas, artísticas e históricas, o portal teve o espaço reservado a esses povos preenchido por matérias que deram visibilidade a reivindicações por direito e à luta antirracista.
Nos últimos dias, o Jornal da USP apresentou retrospectivas das principais matérias de Diversidade e Inclusão publicadas em 2023 nos eixos de inclusão social e gênero. Nesta matéria, fechamos a retrospectiva com uma seleção de conteúdos do ano na temática étnico-racial.
Em janeiro, contamos que dois graduandos da Faculdade de Direito (FD) da USP foram premiados no 1º Concurso de Monografias sobre Equidade Racial, promovido pelo escritório Pinheiro Neto Advogados. Os trabalhos dos estudantes expõem as formas como o Direito foi utilizado para legitimar a discriminação racial ao longo da história.
Outro destaque foi o lançamento do livro Tecer Amizade, Habitar o Deserto: Território e Política no Quilombo Família Magalhães, que é resultado da tese de doutorado de Daniela Perutti em Antropologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Publicada pela Edusp, a obra busca compreender as comunidades quilombolas contemporâneas a partir do caso do Quilombo Família Magalhães, em Goiás.
Monografias de André Cozer e Cristóvão Borba apresentam perspectivas do racismo dentro do campo jurídico e apontam caminhos para a luta antirracista
Lançamento da Edusp tem origem em pesquisa de doutorado e revela particularidades do Quilombo Família Magalhães, em Goiás; comunidade originária do território Kalunga aguarda a titulação de suas terras desde 2004
No dia 2 de fevereiro de 2023, o Brasil perdeu uma das maiores figuras do jornalismo do País. Glória Maria (1949 – 2023) fez a primeira reportagem ao vivo e em cores da televisão nacional, em 1977. Num tempo de autoritarismo e repressão, a repórter mostrou a força e coragem da mulher negra.
Resgatamos a história pouco conhecida de Francisco de Assis Martins, advogado, professor, palestrante, conferencista, representante de instituições e que possuiu diversas propriedades, além de falar cinco idiomas. Um formando da Faculdade de Direito da USP em 1945 como qualquer outro, não fosse pelo fato de ser um homem negro e de origem humilde.
A jornalista Glória Maria, que morreu no último dia 2 de fevereiro, marcou época na TV brasileira com sua coragem e independência
A trajetória pouco conhecida de Francisco de Assis Martins, nascido em 1920, desafiou a estrutura social da época. Era o período pós-abolição, marcado pela marginalização da população negra, com consequências sentidas até os dias atuais
Em março, o Jornal da USP apresentou algumas matérias que trouxeram à tona mais fatos sobre a realidade da luta antirracista no Brasil. Como a pesquisa de mestrado em Sociologia, apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que traz uma discussão sobre a presença de pessoas e movimentos negros dentro da igreja evangélica e a luta contra a discriminação racial. Ainda falando sobre a atuação de pessoas negras, outra pesquisa da FFLCH discorre sobre uma das estratégias de manutenção do racismo no Brasil, que é invisibilizar o negro em importantes episódios da história.
No Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, apresentamos o livro que celebra a trajetória acadêmica e militante do professor Kabengele Munanga, referência para uma geração de docentes negros e negras que disputa os rumos da educação brasileira.
Movimento negro evangélico que atua em algumas igrejas evangélicas busca legitimidade na luta contra a discriminação racial
Pesquisa destaca a participação de lideranças negras no episódio, considerado um dos mais sangrentos da ditadura militar brasileira
Kabengele Munanga é referência para uma geração de docentes negros e negras que disputa os rumos da educação brasileira
O mês de abril trouxe alguns assuntos que geralmente não estão entre as principais discussões quando se fala em pautas raciais. Como a moda, por exemplo, que foi tema do livro Moda afro-brasileira é design de resistência da luta negra no Brasil. Lançada pela Coleção Caramelo, a obra destaca a atuação de jovens negros e marginalizados que se expressam por meio do vestuário.
No mesmo mês em que é comemorado o Abril Indígena, a USP recebeu representantes indígenas Fulni-ô, povo de Pernambuco que é o único no Nordeste a ter preservada a sua língua materna, a yaathê. A Editoria de Diversidade também visitou a exposição Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação, no Museu da Língua Portuguesa, e apresentamos as línguas faladas pelos povos indígenas em um vídeo-imersão.
Lançada pela USP, obra destaca atuação de jovens negros e marginalizados que, desde a Conjuração Baiana, expressam uma consciência política por meio do vestuário
Partindo de Águas Belas, no agreste pernambucano, grupo indígena participa de uma série de atividades na Cidade Universitária, mostrando a diversidade e a cultura dos povos originários
“Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação” convida para conhecer as línguas faladas pelos povos indígenas e as transformações decorrentes da invasão colonial; exposição, que teve colaboração da USP, fica em cartaz até 23 de abril em São Paulo
Em maio, tivemos importantes episódios dentro do campus em prol da luta contra o racismo. O destaque é do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, que anunciou a criação de seu primeiro kit pedagógico africano e afro-brasileiro, produzido em colaboração com a Secretaria de Educação Municipal e com financiamento do CNPq. A coleção já contém kits como os de arqueologia do Mediterrâneo e de arqueologia brasileira, mas pela primeira vez o material produzido é focado na educação antirracista. Também mostramos um projeto comunitário desenvolvido em Cidade Tiradentes, que exibe uma mostra itinerante com retratos de mestres capoeiristas pioneiros, históricos e de contemporâneos da cidade de São Paulo, na região periférica da capital.
Além dos avanços no âmbito educacional, em maio contamos as trajetórias de três personagens da história brasileira que entraram para a lista oficial de heróis e heroínas da pátria: Jaime Nelson Wright, pastor presbiteriano e defensor dos direitos humanos no Brasil; Adhemar Ferreira da Silva, atleta negro e primeiro bicampeão olímpico brasileiro; e Antonieta de Barros, primeira mulher negra parlamentar do País. Outra importante homenagem foi a Kabengele Munanga, que recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O docente tem contribuições importantes nos debates sobre identidade, políticas afirmativas e racismo.
Parceria entre o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) possibilitará o desenvolvimento de material pedagógico físico e digital com o intuito de recontar a história a partir de um olhar colaborativo e decolonial
Desenvolvido pelo Coletivo Brincapoeirar, da Cidade Tiradentes, o projeto Ecos da Ancestralidade realizará mostra itinerante com retratos de mestres capoeiristas pioneiros e históricos, e de contemporâneos da cidade de São Paulo
Professores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), ambas da USP, comentam as homenagens às personagens que terão seus nomes inscritos em monumento em Brasília
Munanga receberá o título pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH); o docente tem contribuições importantes nos debates sobre identidade, políticas afirmativas e racismo
A música desempenha um papel fundamental na construção da identidade cultural, refletindo valores, tradições e experiências de uma comunidade. Em junho, pudemos acompanhar alguns destaques da presença da quarta arte na discussão étnico-racial, seja no combate ao apagamento cultural dos povos originários com o rap indígena, ou com o tradicional samba brasileiro e a importância de artistas negros em sua história. Ainda dentro das manifestações artísticas, mostramos o projeto Docências compartilhadas, formação continuada e a Lei 10.639/03 da Faculdade de Educação da USP, cuja proposta é ampliar os debates étnico-raciais em salas de aula a partir de conhecimentos da cultura africana.
Da música para a matemática, lembramos que o ambiente competitivo e excludente no bacharelado influencia mulheres negras a preferirem a licenciatura, cuja presença feminina fortalece rede de alianças.
Músicas denunciam opressões centenárias aos povos originários por meio de um movimento que completa 50 anos em 2023, o hip hop; pesquisador branco e músico indígena contam experiência conjunta que levou ao nascimento do grupo Oz Guarani
A partir dos acervos do MIS nas duas capitais estaduais, pesquisadores compararam como as origens do samba foram narradas nas duas cidades
Projeto desenvolvido na Faculdade de Educação da USP aproxima atividades escolares das vivências de estudantes periféricos, trazendo elementos de suas experiências cotidianas e criando espaços de acolhimento – Fotomontagem: Jornal da USP – Imagens: Freepik e Pixabay
Ambiente competitivo e excludente no bacharelado influencia mulheres a preferirem a licenciatura, cuja presença feminina fortalece rede de alianças
O racismo persiste como uma preocupante manifestação de discriminação e violação de direitos. Um relatório do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP mostrou que a discriminação racial e a seletividade das abordagens policiais estão presentes desde cedo na vida das crianças negras. Segundo o estudo, jovens negros se tornam alvos da polícia desde os 11 anos.
Na saúde, virou notícia um caso de racismo em uma UTI de hospital particular. Um médico plantonista do Hospital São Luiz, na zona sul de São Paulo, se referiu a uma alta médica como “carta de alforria” após uma paciente negra ter perguntado sobre sua liberação. Além da violência racista, a paciente deixou o hospital se queixando também de não ter recebido o cuidado adequado para seu quadro de saúde.
Pesquisa inédita acompanhou adolescentes de escolas públicas e privadas de São Paulo por quatro anos; dados confirmam que jovens negros se tornam alvos do policiamento ostensivo desde os 11 anos
Caso de racismo em UTI de hospital privado de São Paulo chama a atenção para importância do letramento racial dos profissionais de saúde
Em 9 de agosto celebra-se o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Criada pela ONU em 1995, a data simboliza a luta pela garantia de condições de existência dignas aos povos indígenas de todo o planeta. Durante o mês, algumas pautas do Jornal da USP abordaram assuntos da realidade dos povos originários do Brasil, como o direito à educação indígena e as complexas relações entre cultura e território.
Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, professores e estudantes de comunidades tradicionais afirmam que a data deve ser tratada como um momento para relembrar as lutas que ainda devem ser enfrentadas; atividades na USP apresentam cotidiano de escolas indígenas
Escolarização em comunidade baniwa se pauta na curiosidade dos alunos e na participação ativa da comunidade; plurilinguismo e falta de formação de professores são empecilhos
Relatos de indígenas ouvidos por antropólogo escancaram impactos do avanço da monocultura da soja no Pará e as consequências devastadoras para as comunidades do Baixo Tapajós
Em setembro, no julgamento do marco temporal, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria contra a tese jurídica que afirma que os povos indígenas só teriam direito às terras que ocupavam na data de promulgação da Constituição Federal de 1988. O Jornal da USP conversou sobre o assunto com Maurício Terena, doutorando em Antropologia na USP e coordenador jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Terena falou sobre a resistência indígena e a morosidade dos processos de demarcação de terras.
Enquanto isso, no campo da cultura, a animação Eîori! Um horizonte existencial foi selecionada para exibição na Student Animation Showcase, exposição internacional que reúne trabalhos de conclusão de curso de todo o mundo. E outra exposição na USP teve como tema a língua, mas desta vez a diversidade cultural do português falado pelo mundo, com especial destaque para os sotaques e gírias usados em países africanos.
Tese que restringe reivindicações de terras indígenas tem quatro votos contrários e dois favoráveis; julgamento continuará no dia 20
Animação desenvolvida na Escola de Comunicações e Artes (ECA) é selecionada para o Student Animation Showcase; vídeo aborda a perspectiva indígena e novos modos de conhecimento
Em exibição na USP até 10 de setembro, a produção apresenta a diversidade cultural do português nos países falantes da língua, por meio de elementos visuais e auditivos, além de ressaltar a variedade linguística da educação africana
Em outubro, Ailton Krenak, filósofo, ambientalista e poeta, se tornou um dos Imortais da Academia Brasileira de Letras. Krenak se tornou a primeira pessoa indígena a ocupar uma cadeira na instituição. O Jornal da USP acompanhou a repercussão da nomeação e trouxe os comentários de algumas pessoas indígenas de dentro da Universidade que falaram sobre a conquista.
No mundo acadêmico, tivemos uma abordagem sobre a influência da cor da pele na saúde mental. Pesquisa de mestrado mostrou que pessoas que se autodeclaram negras estão mais sujeitas a desenvolverem um primeiro episódio de psicose. Estudo foi desenvolvido na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Na visão de pesquisadores, professores da USP e lideranças indígenas, o novo imortal dará visibilidade para questões relacionadas à terra, meio ambiente e direitos dos mais diversos povos tradicionais
Constatação é feita em estudo realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e avaliou pacientes em Ribeirão Preto e em outras 25 cidades da região
Novembro é o mês da consciência negra, em que se celebra, no dia 20, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Em 2023, também foram completados 20 anos da implementação da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas do País. O Jornal da USP trouxe algumas matérias dentro dos temas em comemoração às datas.
No mês da consciência negra, série de eventos unificou agenda das instituições federais e estaduais de ensino superior, discutindo o acesso e a permanência de pessoas negras na universidade
Projeto de pós-doutorado é contemplado em congresso da USP, apresentando saberes de comunidades negras do interior paulista
Jogos e brincadeiras africanas são uma forma de incluir a cultura negra na educação infantil, de acordo com pesquisa da USP
Documentário discute a multiculturalidade na educação brasileira a partir da trajetória de vida do pesquisador e ativista Munanga; mostra será exibida a partir de 16 de novembro no Cinusp, Canal Futura e Globoplay, gratuitamente
Dezembro ainda teve tempo de trazer mais destaques dentro da discussão étnico-racial. Tivemos a abordagem da arte como manifestação de resistência, que foi tema de artigo na área da Antropologia Social. O texto aborda a reconfiguração do teatro negro, suas transformações estéticas e técnicas, e sua permanência como ferramenta de resistência política.
No mesmo mês, Mauricio da Silva, arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, teve seu trabalho premiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A pesquisa abordava comunidades tradicionais do Amazonas e a valorização dos achados arqueológicos.
Fechando o ano, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP anunciou a unificação de concursos distintos para cargos de docente, viabilizando pela primeira vez a adoção do sistema de reserva de vagas para candidaturas de pessoas que se autodeclaram pretas, pardas ou indígenas.
Pesquisa da USP com comunidades tradicionais no Amazonas envolveu moradores e trabalhadores ribeirinhos na valorização dos achados arqueológicos; trabalho foi premiado pelo Iphan
Performances ganharam mais visibilidade com o tempo, mas seguem alvo de racismo
Pela primeira vez, processo seletivo para professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo agrega concursos distintos e adota sistema de reserva de vagas
*Estagiário sob supervisão de Silvana Salles e Tabita Said
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
12 meses de histórias e ações em pautas que buscam sensibilizar e aproximar o leitor de pessoas com deficiência, população 60+ e outras minorias para fomentar uma sociedade mais inclusiva
Confira o que foi notícia no “Jornal da USP” neste ano sobre diversidade de gênero e sexualidade