2023 na USP: mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ avançam na academia e no mercado de trabalho a passos lentos

Confira o que foi notícia no Jornal da USP neste ano sobre diversidade de gênero e sexualidade

 19/12/2023 - Publicado há 5 meses

Texto: Laura Pereira Lima*
Arte: Carolina Borin**

Retrospectiva da Editoria de Diversidade apresenta as melhores matérias sobre gênero de 2023 - Fotomontagem: Jornal da USP - Imagens: kstudio/Freepik, pikisuperstar/Freepik e Freepik

Retrospectiva da editoria de Diversidade apresenta as melhores matérias sobre gênero de 2023
Retrospectiva da editoria de Diversidade apresenta as melhores matérias sobre gênero de 2023 - Fotomontagem: Jornal da USP - Imagens: kstudio/Freepik, pikisuperstar/Freepik e Freepik​

Violência obstétrica, invisibilização na academia, assédio nas artes marciais, feminicídio. No ano de 2023, o Jornal da USP trouxe pautas importantes — e trágicas — que desenham a experiência feminina no Brasil. Tragédias à parte, o ano também ficou marcado por iniciativas dos coletivos feministas e implementação de Comissões de Inclusão e Pertencimento em diversas unidades da USP, além da nova lista de leituras obrigatórias da Fuvest, que faz um aceno em direção à valorização das trajetórias de mulheres.

O fim do ano de 2023 também trouxe uma novidade: o Vaticano autorizou o batizado de pessoas trans. O que parece um avanço humanitário em certos setores sociais esconde outros problemas enfrentados pela população LGBTQIAPN+ no Brasil e no mundo, como a falta de acesso aos serviços de saúde e a tramitação de um Projeto de Lei que busca proibir pessoas do mesmo sexo de se casarem. Mas em meio ao turbilhão de catástrofes, notícias como a premiação da primeira mulher trans no Prêmio Gutierrez de Melhor Tese em Matemática e a proliferação de vozes e vivências queer nas redes sociais renovam a esperança no futuro.

Janeiro

Assim como a vida não acaba no dia 31 de dezembro, a resistência não termina na prisão. Inaugurando o ano de 2023, o Jornal da USP contou a história de quatro mulheres que foram presas na ditadura militar, mas nunca deixaram de lutar. Uma pesquisa da USP analisou a trajetória de Lenira Machado, Nair Kobashy, Iara Prado e Márcia Mafra, estudantes da USP que foram encarceradas no presídio de Tiradentes entre 1969 e 1976.

A perseguição da ditadura militar não foi um fenômeno inédito para as mulheres, e Chica Barrosa é a prova disso. Violeira negra do século 19, Chica participou de batalhas de poesia improvisadas, propagando o feminismo e o antirracismo no sertão brasileiro — e foi brutalmente assassinada durante uma dessas sessões de cantoria.

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Fevereiro

Nas quadras, campos e ringues, a participação feminina ainda é uma disputa. Mesmo o esporte sendo considerado um impulsionador para a equidade de gênero, algumas modalidades ainda são, essencialmente, masculinas. É o caso das artes marciais. Segregacionismo, ausência de compreensão da singularidade feminina, abusos e assédio marcam a trajetória das poucas mulheres que se aventuram nas lutas, segundo estudo da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP).

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Março

No mês das mulheres, a participação feminina na USP entrou em pauta. No 8 de março, o Jornal da USP relembrou conquistas de alunas, docentes e funcionárias nos últimos anos e reuniu os principais coletivos feministas que atuam na Universidade.

As pesquisadoras da USP também foram lembradas no mês. Um estudo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) analisou as produções acadêmicas entre 1973 e 2001 para mapear a frequência das mulheres como objetos de pesquisa e concluiu que a mulher só se torna tema de pesquisa quando ela mesma começa a fazer pesquisas.

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Abril

Seguindo a onda do mês das mulheres, o Jornal da USP divulgou o relatório As Mulheres na Pós-Graduação, feito pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG). O documento revelou que, apesar de serem maioria na pós-graduação, as mulheres ocupam apenas 30% das cadeiras de docente titular e são minoria nas áreas de exatas.

Ainda na pauta de desigualdade de gênero, um artigo escrito por professores da Escola de Artes e Ciências Humanas (EACH) analisou a participação de mulheres nos grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) e concluiu que o alcoolismo é permeado por assimetria de gênero. O texto do Jornal da USP, que conta com relatos de algumas dessas mulheres, evidenciou que muitas delas se sentem pouco à vontade nas reuniões e relatam preconceito e assédio.

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Maio

A data de 17 de maio é o Dia Internacional do Combate à LGBTQIAPN+fobia e, pensando nisso, o Jornal da USP explorou os diversos aspectos da identidade queer, da militância política até do amor. O dia 17, que marca a retirada da homossexualidade do Código Internacional de Doenças em 1990, foi um dia de comemoração pelas conquistas e de denúncias dos atrasos no País que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. A história do movimento LGBTQIAPN+ no Brasil e os retrocessos dos últimos anos foram tema da Editoria de Diversidade.

As narrativas e os relacionamentos de casais trans também foram explorados em maio. Uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) entrevistou casais compostos por pelo menos uma pessoa trans e concluiu que a solidariedade dos amigos e a militância são essenciais para esses casais se fortalecerem.

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Junho

O mês do orgulho LGBTQIA + reacendeu discussões fundamentais sobre gênero e sexualidade no Jornal da USP

Um momento com ansiedade aguardado por muitos homens trans e pessoas transmasculinas é a mamoplastia masculinizadora, um procedimento cirúrgico que envolve a reconstrução do peitoral, a fim de trazer características estéticas masculinas. Uma pesquisa de pós-doutorado da USP que investigou como são esses processos constatou que a troca de presentes entre médicos e pacientes é uma prática comum, e os presentes vão desde artesanatos até vinhos e chocolates. A cirurgia é muito pouco acessível: apenas 19 procedimentos do tipo foram registrados pelo Ministério da Saúde entre 2019 e 2022. 

Os cargos de liderança são outro campo de acesso restrito às pessoas LGBTQIAPN+. Os poucos que atingem esses cargos sofrem discriminação e são cobrados por uma performance mais alta do que os demais líderes. Foi isso que uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) constatou, após entrevistar 20 líderes LGBTQIAPN+. 

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Experiências de pessoas trans com cirurgias são marcadas por trocas de presentes

Profissionais LGBTQIA+ encontram maior resistência para alcançar cargos de liderança

Julho

Você sabia que a desigualdade de gênero pode afetar a estrutura cerebral das mulheres? Esta é a constatação de uma pesquisa que teve a participação da Faculdade de Medicina (FM) da USP, após comparar imagens de ressonância magnética de cérebros de homens e mulheres. A variação diz respeito à saúde mental do indivíduo, o que indica que as mulheres estiveram expostas a situações adversas desde o início da vida.

Nas plataformas digitais, a diversidade de vozes educa sobre gênero e sexualidade. O YouTube, por exemplo, faz ecoar reivindicações, estilos de vida e experiências de pessoas marginalizadas, segundo aponta estudo de mestrado da USP. Entre as narrativas encontradas nos vídeos mais visualizados, estão aquelas que se referem às diferentes formas e momentos da vida em que tais youtubers começaram a se perceber como transexuais, e como e quando iniciaram seus processos de transição.

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Youtubers trans compartilham conhecimento e quebram tabus, aponta estudo

Desigualdade de gênero pode afetar estrutura cerebral de mulheres

Agosto

Se as mulheres sofrem mais que os homens ao longo da vida, as condições de trabalho são parte do motivo. Uma pesquisa da Faculdade de Direito (FD) da USP revelou que a jornada de trabalho das mulheres muitas vezes envolve machismo, salários inferiores e atividades desgastantes, em um processo chamado dumping social, composto por ações constantes de desrespeito à legislação trabalhista. Segundo o estudo, esse descaso é uma estratégia de redução de custos que afeta particularmente as mulheres negras.

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Mulheres vivenciam condições precárias de trabalho como estratégia de redução de custo

Setembro

Em setembro, uma mulher venceu o Prêmio Gutierrez de Melhor Tese em Matemática pela primeira vez. Emily Quesada-Herrera é uma mulher trans que saiu da Costa Rica aos 21 anos para estudar matemática no Brasil. Com o prêmio, Emily busca dar visibilidade às causas pelas quais ela vem lutando nos últimos anos. A premiação é uma iniciativa do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em parceria com a sociedade Brasileira de Matemática.

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Luta por inclusão: quem é a primeira mulher que conquista o Prêmio Gutierrez de Melhor Tese em Matemática

Outubro

Desamparo, medo e insegurança foram os sentimentos que deram o tom às falas de mães adolescentes que sofreram violência obstétrica quando tiveram seus filhos em maternidades públicas nas cidades de João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, em 2021. É o que mostra um estudo do Instituto de Psicologia (IP) da USP. O Jornal da USP reuniu relatos de vítimas e disposições legais para discutir o tema.

No mesmo mês, o Jornal da USP conversou com especialistas da USP para entender por que o casamento homoafetivo voltou a ser assunto no Brasil.  O tema voltou ao noticiário e às redes sociais devido à tramitação na Câmara dos Deputados de um projeto de lei que propõe proibir pessoas do mesmo sexo de se casarem

A pauta do trabalho de cuidado realizado por mulheres ganhou visibilidade no fim do ano, impulsionado pelo tema da redação do Enem. Na semana anterior à prova, o Jornal da USP narrou a trajetória de Nadya Araújo Guimarães, professora da USP que recebeu o Prêmio Anpocs de Excelência Acadêmica por suas contribuições no campo do cuidado.

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Medo, desamparo e solidão: impactos da violência obstétrica em gestantes adolescentes do Nordeste

Por que o casamento homoafetivo voltou a ser assunto no Brasil?

Professora da USP recebe prêmio de excelência acadêmica em sociologia

Novembro

Em novembro foi divulgada a lista de leituras obrigatórias da Fuvest, que, em 2026, será composta apenas por mulheres. A nova lista contempla as escritoras brasileiras e estrangeiras Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Djaimilia Pereira de Almeida, Julia Lopes de Almeida, Lygia Fagundes Telles, Narcisa Amália, Nísia Floresta, Paulina Chiziane, Rachel de Queiroz e Sophia de Mello Breyner Andresen. A iniciativa tem o objetivo de valorizar e destacar as trajetórias femininas na literatura em diferentes períodos históricos e nos mais variados gêneros literários.

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Livros escritos por mulheres vão compor lista obrigatória da Fuvest em 2026

Dezembro

Nove mulheres uspianas entraram na lista da Forbes que destaca as contribuições de 100 mulheres “doutoras do agro” em serviços prestados à produção de alimentos, fibras e bioenergia, desempenhados em empresas ou no meio acadêmico. De acordo com o Censo Agro do IBGE, a participação de mulheres na produção do agronegócio aumentou de 12,7%, em 2006, para 18,7%, em 2017, um crescimento importante, mas que ainda escancara a exclusão de mulheres no ramo. O Jornal da USP conversou com algumas das “doutoras do agro” da USP para entender os obstáculos para a atuação feminina no meio rural

Do outro lado do Atlântico, o Vaticano autorizou o batizado de pessoas trans, o que gerou comoção. Especialistas da USP não veem compromisso real com a mudança; o documento do Vaticano não obriga as igrejas católicas a seguirem essas postulações, e o batismo depende do que cada padre e bispo aceitar em sua comunidade.

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“Doutoras do agro” destacam obstáculos para a atuação feminina no meio rural

fotomontagem de bandeira trans ao fundo e mãos segurando um terço católico

Autorização do Vaticano para batizar pessoas trans é insuficiente, dizem especialistas

*Estagiária sob supervisão de Silvana Salles

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

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