Mesmo durante a pandemia, a violência policial vem crescendo no Brasil, como aponta o Fórum Brasileiro e Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, portanto, o Especial Segurança do Jornal da USP no Ar segue conversando com especialistas da USP sobre como solucionar o problema. Glauco Silva de Carvalho, doutor em Ciência Política pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP e coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, afirma que a militarização não é o único fator responsável pela crescente violência policial. Em entrevista ele listou outros aspectos que devem ser levados em consideração.
“O policial parou de acreditar no sistema criminal, muitos policiais foram mortos, os culpados absolvidos, e ele [policial] está nas ruas durante todo o dia. Outro fator é que, em São Paulo, especificamente, há uma má distribuição, há a mesma proporção de agentes em áreas extremas, como Brasilândia e Capão Redondo, e em áreas centrais. Outro ponto importante para poder explicar este tipo de violência é que não houve, nos últimos 25 anos, aumento no efetivo policial, enquanto a população teve incremento de 10 milhões de pessoas [no Estado de São Paulo].”
E quando grande parte da população está confinada, quando deveria ter uma diminuição dos conflitos nas ruas, é registrado o aumento dos casos de violência policial. Para o coronel, a situação “é preocupante” e o grande desafio para a Polícia Militar, ao tentar corrigir tal desalinhamento, “é estabelecer a legitimidade da instituição e a reconciliação, já que houve em determinados períodos uma perda de contato entre polícia e sociedade”.
A militarização da polícia, que é apontada por uma parcela da população como a principal responsável pela violência, de acordo com Glauco Carvalho, não é o único problema. “Dois terços da população da Europa é policiada por polícias militarizadas e não há problemas de violência como no Brasil. O sistema brasileiro é arcaico, mas o problema não está na militarização. A solução é, em parte, institucional, deve passar sim pela polícia, mas também deve passar por outros setores da sociedade”, comenta o coronel.
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