Representantes indígenas do povo Fulni-ô participam de uma série de atividades na USP neste mês de abril. Os Fulni-ô são reconhecidos como um dos únicos povos do Nordeste a manterem vivos seu idioma e suas tradições, passadas de geração a geração há séculos - Foto: Mauro Saraiva

Comitiva de indígenas Fulni-ô apresenta modos de vida, culinária e cultivo na USP

Partindo de Águas Belas, no agreste pernambucano, grupo indígena participa de uma série de atividades na Cidade Universitária, mostrando a diversidade e a cultura dos povos originários

 18/04/2023 - Publicado há 1 ano

Tabita Said

Representantes indígenas do povo Fulni-ô participam de uma série de atividades na USP neste mês de abril. Únicos no Nordeste brasileiro a preservar sua língua materna, a yaathê, os Fulni-ô chegam à USP para apresentar a cosmovisão, a diversidade, a cultura e o modo de vida dos povos originários. Os encontros, organizados pelo Projeto USP Sustentabilidade e pelo Saúde Planetária Brasil, ambos do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, propõem desconstruir pensamentos estereotipados sobre os indígenas brasileiros.

“Precisamos aprender muito com eles. Coisas diferentes em relação a nós: seu modo de vida, a pressa, os alimentos, a relação com a natureza. No fundo, tem tudo a ver com sustentabilidade”, diz Antonio Mauro Saraiva, coordenador do projeto e professor titular da Escola Politécnica da USP. O professor diz estar mais interessado em ouvir do que falar. “Saber como é a vida deles, a região, sua relação com os não indígenas e os problemas decorrentes disso.”

Segundo o coordenador do Saúde Planetária, há um especial interesse em aprender sobre sua agricultura, uso de ervas medicinais na saúde e a integração de sua cultura e espiritualidade no dia a dia.  

Antonio Mauro Saraiva, coordenador do Saúde Planetária Brasil e do USP Sustentabilidade - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

A primeira atividade será uma roda de conversa que acontece nesta quarta-feira, 19, na sala Alfredo Bosi do IEA da USP, com transmissão ao vivo pelo canal @SaudePlanetaria no YouTube. No mesmo dia, às 15 horas, no Instituto de Psicologia (IP) da USP, farão uma confraternização com representantes do povo Guarani, na Rede de Atenção à Pessoa Indígena. Já no dia 20, o grupo realiza uma oficina com plantio de mudas na horta do projeto USP Sustentabilidade, atividade que é liderada pela Profa. Thais Mauad da Faculdade de Medicina. No dia 29 farão uma oficina de alimentação no mesmo local, com a profa Aline Martins da Faculdade de Saúde Publica, que lidera a atividade de alimentação e nutrição no USP Sustentabilidade.

O USP Sustentabilidade é um espaço aberto de convivência e práticas sustentáveis localizado no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp). Para participar, não é necessário se inscrever. O acesso para a comunidade USP é feito mediante apresentação da carteirinha USP. Para o público externo acessar, é necessário enviar e-mail para uspsustentabilidade@usp.br

Integrantes do grupo USP Sustentabilidade, funcionários do Cepeusp e da Prefeitura do Campus acompanham a visita da comitiva Fulni-ô na USP - Foto: Mauro Saraiva

Presente e passado

A comitiva partiu de Águas Belas, no agreste pernambucano, no último dia 12, em direção à USP, pela primeira vez. Tawan Fulni-ô, um dos cinco indígenas da comitiva, conta que existem 13 etnias em Pernambuco atualmente, com cerca de 5 mil pessoas. “A nossa vida lá, com a ascensão de uma ministra indígena e um coordenador de saúde indígena, tem nos dado mais oportunidade de organização. Antigamente, o acesso à educação, saúde e universidade, nossos direitos de cidadãos, era mais difícil”, diz Tawan. Seu nome nativo é Thxleka (lê-se “Tchê-lêcá”).     

Mesmo assim, Tawan explica que ainda existe um preconceito antigo causado pela falta de conhecimento sobre a importância e a resistência dos povos indígenas no Brasil. “O indígena da atualidade resiste a todo tipo de massacres e ataques. E segue vivendo em sociedade como qualquer outra pessoa, porém sem deixar sua essência, sua cultura e espiritualidade. É sobre isso que vamos conversar”, afirma. 

Além das oficinas e palestra, o grupo deve expor artesanatos feitos por toda a sua comunidade, uma de suas principais fontes de renda. “Costumo dizer que o artesanato é a caça do século 21. É a forma que eles têm de levar recursos para suas aldeias”, explica André Silveira, auxiliar de aulas no Cepeusp e quem articulou a vinda dos Fulni-ô para a USP. 

Silveira se intitula “indigenista de coração” e conheceu o grupo em 2018 por meio de uma rede de amigos, em Santos. Ele destaca a importância desta incursão cultural, já que o Sudeste está mais habituado a “ouvir falar” dos povos da Amazônia e dos guaranis. “[Os Fulni-ô] mantêm vivas suas tradições, essa ancestralidade. Mesmo estando no Nordeste, conseguiram resistir ao processo de colonização”, explica Silveira.

Imagem: Wikimedia Commons

Os Fulni-ô desenvolvem o projeto cultural Indígenas na Escola – Uma abordagem sobre os povos indígenas do Brasil, e são reconhecidos como um dos únicos povos do Nordeste a terem mantido seu idioma materno e suas tradições, passadas de geração a geração, há séculos. Em 2022, a antiga Fundação Nacional do Índio (Funai) revelou que Garrincha, um dos mais eminentes jogadores do futebol brasileiro, era descendente direto do povo Fulni-ô.

Programação

19 de abril

14h - Roda de conversa sobre o modo de vida da etnia Fulni-ô com transmissão ao vivo pelo YouTube do Saúde Planetária

15h - Confraternização com outros povos indígenas na Rede de Atenção à Pessoa Indígena do Instituto de Psicologia da USP

20 de abril

9h – Oficina com plantio de mudas trazidas pelos Fulni-ô para a horta do USP Sustentabilidade, no Cepeusp

Endereço: Travessa C, 303, portão 19 - Cidade Universitária, Butantã

29 de abril

10h - Oficina de alimentação com preparo de alimentos e fogo de chão no espaço multiúso do USP Sustentabilidade

Comunidade USP: acesso com carteirinha Público Externo: enviar e-mail para uspsustentabilidade@usp.br

Além da presença dos Fulni-ô, a horta do USP Sustentabilidade deverá receber sementes de milho, feijão, algodão e umbu, que serão plantadas em um dos canteiros que será batizado com o nome da etnia. “Eles também trouxeram jenipapo, então estamos organizando uma atividade com pintura corporal e em camisetas, inspirada nos grafismos indígenas”, conta o professor Saraiva. 

As atividades com os indígenas Fulni-ô na USP foram organizadas por integrantes do USP Sustentabilidade e do Saúde Planetária Brasil (IEA), com o apoio do professor Emílio Miranda, diretor do Cepeusp.

Saiba mais:
https://saudeplanetaria.iea.usp.br/pt/ 
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