“Em meio à tensão com a Ucrânia, Rússia busca concessões do Ocidente”

Para Angelo Segrillo, as concessões viriam principalmente em relação à Otan, “porque ninguém gosta de ter uma aliança militar na sua vizinhança”

 03/02/2022 - Publicado há 2 anos
Vladimir Putin não invadiria a Ucrânia, pois o presidente russo busca por concessões do Ocidente  – Foto: Flickr
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O presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou o envio de mais soldados para a Europa pela primeira vez em semanas. Com essa medida, o presidente russo acusou os EUA e países do Ocidente de ignorarem as demandas de Moscou e tentarem arrastar a Rússia para uma guerra. 

Angelo Segrillo – Foto: Francisco Emolo/Jornal da USP

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Angelo Segrillo, livre-docente de História Contemporânea no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, explicou que essa situação entre Rússia e Ucrânia é histórica e resultou em relações ambíguas, às vezes de repulsão, às vezes de aproximação. “Historicamente eles têm aquelas ligações que também são extremamente complexas, porque os ucranianos estavam divididos em vários impérios ao longo da história.”

Segrillo aponta que o grande problema do Kremlin é em relação à expansão da Otan. “Porque a Otan era uma aliança militar da Guerra Fria voltada contra a União Soviética.” Com o fim dessa guerra, “os russos esperavam que a Otan diminuísse ou desaparecesse, mas, ao contrário, ela tem se expandido em direção à Rússia”. O professor destaca que as Revoluções Coloridas, em que um governo pró-russo é derrubado nos países da antiga União Soviética e é substituído por governos em favor do Ocidente, criam essas tensões. 

 

Acordos entre as partes

 

Apesar da tensão, Segrillo acredita que Putin não invadiria a Ucrânia, pois o presidente russo busca por concessões do Ocidente. “Nós nunca sabemos, porque essa questão de guerra às vezes sai do controle racional, mas, em princípio, eu acho que o Putin quer é extrair concessões do Ocidente, principalmente em relação à questão da expansão da Otan, porque ninguém gosta de ter uma aliança militar na sua vizinhança”, pondera. 

A China também acabou se pronunciando e acusou os Estados Unidos de serem os agressores. “A China está se aproximando da Rússia nessa questão, até porque os Estados Unidos estão tendo problemas com a China em relação a Taiwan. Então, eu acho que é uma forma de a China também defender sua posição lá”, afirma o professor. 

No entanto, Segrillo ressalta que, ao que parece, isso vai caminhar para alguma forma de acordo entre as partes. “A Europa é dependente da Rússia nessa questão energética, principalmente de gás, também de petróleo. Eles têm uma relação meio ambígua. […] A Rússia também depende dessas exportações que faz. Então, talvez por aí esteja um caminho para a paz, nessa interdependência econômica.”


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