Quilombo Academia: A tamboralidade negra no violão do Garoto e no trompete do Paulo Ronqui

A orixalidade na sofisticação criativa original tanto de Garoto quanto de Paulo Ronqui

 Publicado: 26/04/2024
Quilombo Academia - USP
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Quilombo Academia: A tamboralidade negra no violão do Garoto e no trompete do Paulo Ronqui
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Cabe à genialidade musical do Garoto a transposição da tamboralidade africana do ritmo samba para o processo cordiofônico. Essa africanização tanto é percebida notadamente no desenvolvimento do violão, que foi constatado na originalidade criativa da composição da música Lamentos do Morro. A originalidade na criatividade da construção autoral sugere uma espécie de multiplicidade da negritude, que me parece visceral. É provável que o fenomenal dedilhado do violão na tamboralidade cordiofônica, caracterizada no ritmo do tamborim e do surdo chega à margem do paroxismo. Configurando uma provável africanização instrumental radical, transformando seu violão em uma orquestração rítmica de escola de samba. Isso mostra que o componente negro estrutural na estética do Garoto indica uma virtuosidade de possível intersecção, conjugando o popular e o erudito.

A religiosidade negra do sentido querigmático no candomblé é visto na erudição do compositor Osvaldo Lacerda, que é marcante como referência, na estética erudita do acadêmico Paulo Ronqui. Sua criatividade erudita de catedrático indica para inequívoca suavidade interpretativa do trompetista, sugerindo dois movimentos, que são herdados da africanidade, constituídos em dois vetores negros, tais como: a) Invocação que se caracteriza na ritualidade em proveito do querigma do orixá consagrado; b) O Ponto indicando o momento ideal para se aclamar a revelação da orixalidade no candomblé de Ketu. Fenômeno que sugere uma africanidade subjetiva. Como habilidade de catedrático, o trompetista, professor de música do Instituto de Arte da Unicamp, Paulo Ronqui – inicia, com originalidade sua execução, construindo uma frase calçada no ritmo negro do samba. Cuja subdivisão dos instrumentos parece, ‘ao meu quase cego ver’, simular o toque do pandeiro. Sua criatividade singular, com o trompete, indica o momento do naipe de cordas, que se inicia nas virtuosidades das frases, lembrando ritmo do vassi, que é característico do candomblé.


Quilombo Academia

O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.

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