A construção de narrativas está no cerne das interações da ECA com a sociedade, o que se dá por diversas frentes: a Formação – passam pelas salas de aula de graduação e pós-graduação da nossa escola parte significativa de profissionais que hoje são lideranças em veículos de mídia, instituições artísticas, equipamentos culturais e grandes órgãos de informação. Igualmente, a ECA tem sido responsável pela formação de profissionais da informação e do turismo, jornalistas, artistas visuais, de relações públicas, cantores, instrumentistas, compositores e regentes, publicitários, educomunicadores, atores, roteiristas e diretores de teatro, cinema e televisão de talento reconhecido no Brasil e no mundo.
Na Pesquisa, a comunicação se configura como importante área de interface com outros campos do conhecimento. Os estudos realizados pela ECA no campo da comunicação fazem uma investigação profunda sobre temas emergentes da esfera ampla da cultura e da vida em sociedade. A pesquisa em artes, longe de contradizer a ciência, busca, do mesmo modo, a compreensão do mundo, de forma sentida, vivenciada, transitando entre a produção artística e reflexiva, ambas igualmente importantes para alcançar o conhecimento.
No âmbito da Extensão, há uma troca muito grande e intensa da ECA com a sociedade na forma de uma vibrante programação artística e cultural aberta ao público – produção diretamente influenciada pelas atividades de ensino e pesquisa em comunicação e em artes. Esta diversificada programação inclui cursos de difusão, atualização e especialização, exposições, oficinas, apresentações musicais, workshops, espetáculos teatrais e exibições de curtas-metragens que proporcionam uma rica experiência cultural para a comunidade do seu entorno e para a sociedade como um todo.
A aplicação prática do conhecimento acadêmico em benefício da sociedade também encontra terreno fértil nas interfaces entre a comunicação e a educação, em ações que visam desenvolver novas competências e habilidades no âmbito das plataformas digitais. É exemplar, nesse sentido, a atuação de mais de 30 anos do Nace Escola do Futuro – USP. Com projetos de pesquisa-ação desenvolvidos em parceria com o poder público, organizações da sociedade civil e empresas, o Nace Escola do Futuro – USP atua de forma verdadeiramente inovadora na aceleração dos processos de ensino-aprendizagem, resolvendo problemas reais de forma simples e clara a partir de demandas da educação básica.
Muito antes da curricularização da extensão, iniciativa que na USP é liderada pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), os cursos da ECA já previam, em seus projetos pedagógicos, atividades articuladas com o ensino e a pesquisa e que visam a interação da Universidade com a comunidade externa. São exemplos os projetos experimentais – atividade prática e aplicada dos cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda – que tornam possível aos estudantes aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação acadêmica diante dos desafios do mundo real. No curso de Turismo, realiza-se o desenvolvimento, em parceria com os órgãos públicos locais, do Plano Turístico Municipal, atividade prática interdisciplinar para o fomento do turismo público no Estado de São Paulo.
O futuro da Formação, da Pesquisa e da Extensão dos campos da comunicação e das artes passa, necessariamente, pela profunda reflexão sobre as tensões entre ética e inovação, observadas, por exemplo, nos dilemas enfrentados pelo uso da inteligência artificial (IA). Por um lado, a IA possui aspectos positivos notáveis. Ela não apenas pode auxiliar no processo de aprendizagem, proporcionando recursos educacionais avançados, mas também tem o potencial de capacitar indivíduos e organizações para a tomada de decisões mais informadas e eficazes. No então, questões como o excesso informacional, a desinformação, as fake news, a conectividade contínua e as novas formas de criação, interação e novas interfaces, principalmente a partir de dispositivos móveis, precisam ser amplamente discutidas. Na ECA, essas discussões já ocorrem em um espaço que é aberto e dinâmico e onde é incentivada a diversidade de perspectivas.
A IA, que já afetava a economia e os governos, agora se estende à vida em sociedade. Ferramentas de IA, hoje mais acessíveis, geram conteúdo escrito, imagens e vídeos. É cada vez mais difícil diferenciar a produção humana daquela produzida por inteligência artificial. Há um enorme desafio pela frente: distinguir o que é real e o que é fake – desafio que a área de comunicação deve colocar para si como missão complexa e cara. A IA também invade o campo das produções autorais e provoca reações: no mercado publicitário, discutem-se os limites da mensagem criativa; em Hollywood, foi uma das causas para a greve de roteiristas. Mais recentemente, a IA “aprendeu” a fazer música: é o que promete o MusicLM, o robô músico do Google. A velocidade das mudanças assusta e provoca debates em torno de uma grande questão: a arte gerada por inteligência artificial é arte de verdade?
A superação dos desafios impostos pelo acelerado desenvolvimento da IA passa, necessariamente, pela regulação das big techs, que, não por acaso, ocupam hoje o topo das marcas mais valiosas do mundo. A regulação das plataformas digitais irá ajudar a dar clareza e compreensão a esses limites entre o humano e o pós-humano que se alastram por todas as esferas da vida social contemporânea. Ademais, enfrentar essa realidade só será possível por meio da educação – e, neste aspecto, a Universidade precisa liderar e estimular novas ideias, ter visão estratégica e articular trocas de múltiplos saberes e experiências.
Nesse contexto, a ECA, com sua abordagem multidisciplinar para a criação de conteúdos digitais interativos, está preparada para fazer frente aos desafios postos pelo desenvolvimento da IA e de outras práticas inovadoras. Sua capacidade de integrar conhecimentos diversos e promover o diálogo entre diferentes áreas do saber proporciona um ambiente propício à geração de ideias inovadoras que impulsionam a transformação e a excelência.
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