Em poucos minutos, o curta-metragem A Entrevista retrata as angústias de Jonas, um jovem negro em busca de emprego. Dirigido por um estudante do curso de graduação em Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o curta foi um dos projetos produzidos no âmbito do edital Meu Olhar – Filmes curtos feitos pela Juventude Periférica de São Paulo e selecionados para exibição no Canal Futura e na plataforma Globoplay. Os curtas integram a série Meu Ohar, que estreou no Futura em 29 de janeiro. Cada curta é exibido como um capítulo semanal, que fica disponível para streaming no Globoplay.
O edital Meu Olhar foi uma iniciativa conjunta da Organização dos Estados Iberoamericanos, da Fundação Roberto Marinho e da Spcine que ofereceu, ao longo de 2023, uma formação na área de audiovisual para 1.050 jovens do estado de São Paulo. Segundo informações da escola digital co.liga, 160 participantes da formação inscreveram projetos, que deram origem à produção de 120 curtas. Esses projetos foram contemplados com bolsas de R$ 3 mil para financiar a produção.
Ao final do programa, 24 curtas foram selecionados por um corpo de jurados formado por profissionais do audiovisual para exibição na TV e na plataforma digital. Os filmes passaram também por votação popular.
O diretor do curta A Entrevista é o estudante Gabriel Almeida, de 19 anos. “Ver as pessoas acreditando no seu projeto, para mim, é uma das melhores sensações”, celebra Gabriel, que contou com o apoio de seus colegas de graduação para a realização do projeto. Além da direção de Gabriel, toda a equipe e elenco de A Entrevista foram compostos por discentes da ECA. Os estudantes Gustavo Lacerda e Ricardo Lousada foram os responsáveis pela produção do curta. As cenas foram gravadas no campus Butantã da USP, em São Paulo.
Gabriel conta que a ideia para o filme surgiu ao observar a cidade de São Paulo durante um feriado. A invisibilidade e a pressa são elementos fundamentais do curta, que também teve influência da música Construção, de Chico Buarque.
Assista ao curta A Entrevista, dirigido por estudante da USP:
Estudantes da USP participaram de outras produções
O Canal Futura disponibilizou 115 curtas produzidos pelos jovens participantes do edital Meu Olhar em seu canal no YouTube. Além de A Entrevista, outros dois curtas disponíveis na playlist contaram com o trabalho de estudantes da USP.
O filme Tremular conta a história pessoal de uma mulher que passou pelo sistema penitenciário e é baseado na vida do próprio diretor, Alex Brito, que cursa Audiovisual na ECA. Léia, a protagonista do curta, é inspirada na mãe do diretor. Para Alex, transformar uma história tão pessoal em uma obra de ficção foi um desafio, mas a Universidade o ajudou a aceitar sua história e entendê-la como parte de si mesmo.
Em formato documental, o curta se encerra com imagens de Léia expressando sua liberdade recém-conquistada através da dança – a cena foi coreografada por Castilho, ex-alune* da ECA formade pela Escola de Arte Dramática (EAD). Alex conta que indicou as emoções que gostaria que a coreografia passasse e deixou o restante por conta de Castilho e de João Campos, que cuidou da fotografia da produção. A atriz que protagonizou o curta também teve participação no processo criativo, improvisando nas gravações.
O curta Entre Raízes, também presente na playlist, explora a temática das mulheres trans no mercado de trabalho. Sara Ellen, produtora de Tremular e de Entre Raízes e estudante do curso de Audiovisual da USP, explica que a ideia para o filme surgiu após conversas com uma atriz da ECA sobre suas vivências como mulher trans. “Acho muito importante a gente incentivar a produção cultural nessa área justamente porque os filmes também são signos. Eles atuam diretamente na forma que a gente vê o mundo, a forma que a gente percebe, então eles são influenciados e têm influência no mundo”, diz Sara.
Gabriel, Alex e Sara salientam a importância de iniciativas como a do edital Meu Olhar para que mais jovens possam adentrar o mundo do audiovisual. “É extremamente importante para pensar em novos formadores dentro do audiovisual, considerando que é uma área que, historicamente, tem favorecido pessoas brancas e de classe média”, ressalta Alex.
Com informações de Larissa Leal, do LAC – Laboratório Agência de Comunicação da ECA, e edição de Silvana Salles
*Utilizamos pronomes neutros a pedido de Castilho
