O ensino e a ciência-base como missão

Por Sérgio Muniz Oliva Filho e Ronaldo Fumio Hashimoto, diretor e vice-diretor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP

 Publicado: 07/05/2024

Sérgio Muniz Oliva Filho – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Ronaldo Fumio Hashimoto – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Aos 90 anos de contribuição acadêmica para a sociedade, a USP permanece jovem. Não só pela faixa etária de boa parte dos estudantes, mas também pela relação de tudo que ainda podemos oferecer. Com quase um século de existência da Universidade, pensar que o Instituto de Matemática e Estatística (IME) faz parte de 54 anos dessa história é no mínimo gratificante.

Como instituto que desenvolve atividades de ensino e pesquisa em diversas áreas da Matemática, Matemática Aplicada, Estatística e Computação, acreditamos fielmente no lema gravado em nosso brasão universitário – em latim, “Vencerás pela Ciência”. Além do desenvolvimento de pesquisa qualificada, priorizamos pela difusão máxima do conhecimento dentro e principalmente fora da Universidade, pois um dos nossos grandes desafios é contribuir com a melhoria da sociedade por meio do conhecimento.

Esse desafio é uma realidade nítida e escancarada mundialmente. Os resultados da última aplicação do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) no Brasil mostram que a maioria dos estudantes (73%) não alcançaram o nível básico em matemática, considerado o nível necessário para exercer a cidadania. Como é notório, nossa sociedade tem desvalorizado o conhecimento científico de qualidade e preferido cair nas armadilhas da informação rápida sem embasamento, isto é especialmente perverso na educação básica brasileira e atualmente representa um grande gargalo na aprendizagem. Diante deste cenário, o IME abraça o propósito de contribuir com o alavancamento da educação matemática em contato direto com a sociedade, através de diversos projetos, entre eles o CAEM (Centro de Aperfeiçoamento do Ensino da Matemática João Afonso Pascarelli), ativo desde sua criação na década de 1980.

O CAEM é voltado principalmente para o apoio e a educação continuada de professores de matemática na educação pública, e vem ao encontro da necessidade de melhoria no ensino básico brasileiro, além da prestação de serviços à comunidade, auxiliando a Universidade no cumprimento de sua função social. Em 2023, o projeto realizou oficinas, palestras, cursos de atualização, a 13ª edição do Verão no CAEM, a 8ª edição da Virada Malba Tahan, o 4º Campeonato de Jogos Matemáticos (JOGOMAT) e a Mostra do CAEM 2023. Centenas de professores, alunos de escolas públicas e particulares e licenciandos do país inteiro foram contemplados por essas atividades e por outros serviços prestados.

O instituto também tem papel importante como sede da coordenação da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), desde 2008. Além de ser uma avaliação complementar no acompanhamento dos parâmetros da educação matemática, a olimpíada agrega ao nosso princípio de estimular o interesse no estudo da matemática e identificar grandes talentos. Anualmente, docentes, mestrandos e doutorandos do IME realizam a correção de cerca de 14 mil provas com o apoio estrutural do instituto.

Sem dúvida, nossos esforços vão além da área educacional. Reconhecemos a constante atualização tecnológica e informacional em que vivemos, e com o mesmo afinco, completamos mais de três décadas de estudos em software livre. Desde 2008, temos um Centro de Competência em Software Livre (ou CCSL), com o objetivo de prover suporte institucional às atividades de pesquisa nessa área, além de disseminar o uso de software livre por meio de apresentações, organização de eventos e a manutenção do Curso Introdutório à Ciência da Computação, usando ferramentas livres, com licença Creative Commons.

Diversos outros projetos que englobam as áreas de conhecimento exploradas no instituto e que beneficiam direta e indiretamente a sociedade também foram desenvolvidos e aprimorados ao longo dos anos, como o CEA (Centro de Estatística Aplicada), a Matemateca, o Cepid NeuroMat (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática) e o oferecimento dos Cursos de Verão.

Como centro de pesquisa, nosso destaque fica a cargo da produção científica do corpo docente e discente, reconhecida internacionalmente, além da capacidade de atrair recursos substanciais para pesquisa e programas educacionais. Assumimos a verdadeira importância da realização das pesquisas de base – voltadas para a melhoria das teorias científicas – pois, apesar de não terem impacto imediato na sociedade, são alicerces para novas descobertas, tornando a produção científica do IME uma referência.

Pela Fapesp as cooperações internacionais do IME somam significativamente ao total de cooperações realizadas pelo Brasil, destacam-se países da Europa, além de Estados Unidos e Canadá. Ao todo, os temas mais abordados em nossas produções incluem subáreas da matemática, estatística e computação, como álgebra, topologia, inferência estatística, teoria dos grafos, algoritmos, simulação computacional, modelos matemáticos, aprendizado de máquina e inteligência artificial.

De tudo o que a Universidade produziu intensamente – e ainda produz – ao longo desses 90 anos, sabemos que o futuro do ensino, da pesquisa e dos projetos de extensão, assim como as inovações que ainda teremos o prazer de conhecer, dependem muito de uma ciência básica forte. O Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo zela por essa causa para que, assim, o lema do nosso brasão seja uma constante.

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