Ciência e inovação da fazenda à mesa do consumidor

Por Carlos Eduardo Ambrósio, diretor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP em Pirassununga

 26/02/2024 - Publicado há 8 meses

Carlos Ambrósio – Foto: Reprodução/FZEA-USP

 

Não há como falar da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP sem contar um pouco da sua história. Na década de 1940, o interventor do Estado de São Paulo, Fernando Costa, desapropriou uma área de cerca de 2.300 hectares de pequenos proprietários rurais de Pirassununga para fundar uma das muitas Escolas Práticas de Agricultura, como as de Ribeirão Preto, Itapetininga e muitas outras espalhadas pelo Estado de São Paulo. No ano de 1957, o Governador Jânio da Silva Quadros doou a área para a USP, tendo então sido constituído o campus de Pirassununga. Já em 1992 foi criada a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos com a vocação de analisar, aprimorar e alavancar a produção rural brasileira com foco na ciência e inovação da fazenda à mesa do consumidor. Hoje, a FZEA tem cinco departamentos e ministra cinco cursos de graduação: Engenharia de Alimentos (diurno e noturno), Engenharia de Biossistemas, Medicina Veterinária e Zootecnia, além de cinco programas de pós-graduação com 107 docentes e 129 funcionários técnico-administrativos, além de um alunado regular em torno de 1800 pessoas.

Em seus 30 anos de existência, a FZEA se conectou ao agronegócio. Além disso, sua grande área territorial privilegia a execução da prática experimental, formando profissionais altamente qualificados para o mercado, em especial na busca da sustentabilidade, do bem-estar animal e das pessoas e da produtividade em geral.

O conhecimento aqui gerado e disseminado colabora ativamente para o progresso da ciência e se traduz em avanços para a sociedade brasileira e internacional em vários campos do conhecimento. Temos expertise no desenvolvimento de:

  • Ferramentas de inteligência artificial, aprendizado de máquinas e interpretação de sinais para uso em Zootecnia de Precisão;
  • filmes não plásticos para indústrias alimentícias e farmacêuticas;
  • modernas técnicas de alimentação dos animais, diminuindo o tempo de permanência deles nos rebanhos e a produção de gases do efeito estufa;
  • novas técnicas e próteses cirúrgicas para animais e humanos;
  • novas tecnologias de produção in vitro de embriões e clones de animais;
  • novos produtos alimentícios, utilizando fontes alternativas de insumos;
  • novas técnicas de extração de princípios ativos para a indústria alimentícia e farmacêutica;
  • novas vacinas e novos métodos de diagnósticos em animais;
  • inovação na utilização de genômica aplicada às avaliações genéticas de animais e estudos de expressão gênica ligados, especialmente, à reprodução animal, o que permite a melhoria genética dos rebanhos;
  • materiais alternativos no setor de elementos pré-fabricados para construção civil, no trabalho de banimento da fibra de amianto e sua substituição por outras matérias primas, com ênfase naquelas produzidas no mercado brasileiro para uso, especialmente, em habitações de baixo custo e nas instalações agropecuárias (como galpões para aves e suínos);
  • aplicações diversas da biologia molecular, auxiliando em diagnóstico de doenças, como a covid-19 (nosso laboratório foi pioneiro na USP, tendo realizado quase 180.000 testes em nossa região), além de participar do desenvolvimento de um candidato vacinal em parceria com o Instituto Butantan;
  • técnicas de microencapsulação de alimentos e processos de empacotamento que permitiram aplicações inovadoras para aditivos, nutrientes, bioativos e microrganismos probióticos em alimentos, ração animal e biodefensivos agrícolas;
  • alimentos funcionais, que são aqueles que se caracterizam por oferecer vários benefícios à saúde do consumidor, além de nutrir;
  • pigmentos naturais para colorir cosméticos e alimentos derivados de resíduos da agroindústria, entre outras inovações.

A FZEA se relaciona diretamente com a sociedade em muitas vertentes, sendo sua prioridade a formação de egressos altamente capacitados. A entrega desses profissionais, com ótima formação, ao mercado de trabalho colabora com a prosperidade da economia brasileira.

Desenvolvemos pesquisas que são aplicadas nas mais variadas frentes, como reprodução, criação, saúde e nutrição animal para produção e desenvolvimento de novos alimentos, ingredientes, aditivos e embalagens. Também somos parceiros de indústrias do setor da construção civil e fabricantes de suprimentos (como a indústria química e de celulose); no trabalho de tornar os materiais mais sustentáveis e com menor pegada de carbono, o menor consumo de cimento convencional e emprego crescente de fibras vegetais e de resíduos da agroindústria são algumas das estratégias.

Utilizamos as atividades de extensão tais como o oferecimento de palestras, conferências, eventos, congressos, workshops e cursos “mão na massa” como outra estratégia de disseminação do conhecimento para além da sala de aula. Por exemplo, o curso para construção de habitações com bambu e outros materiais alternativos tem atraído a atenção de pequenos empresários e proprietários agrícolas, e incentivado a criação de start-ups (como é o caso da Bambuild).

Nossa atuação é reconhecida pela sociedade e tal observação fica demonstrada também pelos vários prêmios obtidos por nosso corpo docente, discente e egressos, pelos postos de alto nível em empresas de produção e saúde animal, alimentos para humanos e animais, ocupados por egressos e pelo grande número de convites para ministração de conferências, palestras e assessorias no Brasil e no exterior.

Na recente emergência da pandemia, pudemos colaborar também com a realização de exames de diagnóstico em humanos, desenvolvimento de kits para diagnóstico e sequenciamento genômico de agentes patogênicos.

Pensando sobre o futuro do ensino, da pesquisa e da extensão, entendemos que o processo agroindustrial tem uma grande importância política, econômica e social no cenário mundial e, neste contexto, temos a preocupação em discutir temas para aperfeiçoamento de nossas competências e consequente repasse à sociedade. Fatores como o fornecimento de alimentos para população, geração de empregos e desenvolvimento social são pontos sensíveis e fazem parte do escopo de nosso planejamento, o que significa dar andamento ao nosso projeto de crescimento e consolidação como um centro dinâmico, formador e nucleador de conhecimento para solução de problemas em uma área tão carente de aporte tecnológico e científico.

Nosso slogan “Ciência e inovação da fazenda à mesa” dá a dimensão de nossa ambição ao entendermos que podemos ajudar a projetar um caminho de inovação e desenvolvimento atuando no planejamento e análises econômicas, buscando sistemas produtivos eficientes, ajudando a gerar modernização e evolução em todo processo agroindustrial, chegando até a qualidade dos alimentos que vão contribuir com a nutrição dos seres humanos.

A FZEA é um agente ativo de transformação, atuando na vanguarda do conhecimento para o enfrentamento do desafio que é a sustentabilidade da vida humana em nosso planeta.

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