Voltar ou não voltar? Eis a questão. A dúvida é compartilhada por milhares de alunos e seus familiares desde o início das aulas presenciais no Estado de São Paulo, no dia 8 de fevereiro. Enquanto algumas regiões retomaram as atividades presenciais, outras preferiram adiar a volta para o mês de março.
As medidas de segurança, no entanto, parecem ser consenso entre todos e devem ser cumpridas para esse retorno presencial. As unidades escolares estão seguindo protocolos que exigem, no máximo, ocupação de 35% das salas de aula, com divisão de alunos em grupos. O distanciamento social, o uso de álcool em gel e máscaras faciais também são indispensáveis.
As autoridades da educação e sanitárias trabalham com a ideia de que, ao longo do tempo, a capacidade de alunos aumente gradativamente, até que se tenha a presença de todos os estudantes em sala de aula.
Volta às aulas é prejudicial ou não?
Para Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SIEEESP), o que aconteceu no Brasil “é uma aberração”, por conta do tempo em que os alunos ficaram sem ter aulas presenciais.
“O sindicato sempre foi a favor do retorno das aulas”, destaca Ribeiro, prevendo que “vai ser bastante difícil recuperar o que foi perdido por esses alunos”, mesmo com as aulas remotas. De qualquer forma, Ribeiro garante que “as escolas estão prontas” para a tarefa de recomeçar.
Já para a professora Bianca Corrêa, especialista em Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, “a situação vai muito além de ser contra ou favor” e envolve pensar nas condições necessárias para que o retorno aconteça de forma segura para alunos e funcionários. “Neste momento, em que morrem mil pessoas por dia no Brasil, nenhum protocolo, além do isolamento, é viável.”
Embora a pandemia esteja instalada desde março do ano passado, argumenta Bianca, as escolas não foram adaptadas, o que pode fazer com que o retorno das atividades presenciais aumente a contaminação pelo vírus da covid-19. A professora acredita que o retorno às aulas presenciais “não vai ser uma solução, mas pode representar uma piora nos índices da pandemia”.
Aulas híbridas
Como nem todos se sentem seguros e confortáveis em voltar às atividades normais, as escolas terão que adotar um modelo híbrido de ensino, mesclando aulas presenciais e a distância. Dessa forma, a aula que está sendo dada em sala também pode ser acompanhada pelo aluno que está em casa. É o que defende Ribeiro.
“Seria muito importante que as aulas fossem todas presenciais”, afirma o presidente do SIEEESP. Mas não é uma realidade possível neste momento, já que não podemos “fazer muita aglomeração”. Contudo, Ribeiro entende que o retorno é ainda mais importante para crianças que não têm acesso à tecnologia para interação e para assistir às aulas.
Por outro lado, a professora Bianca se preocupa com o que chama de “outros interesses” por trás desse novo formato de aula. “Esse modelo tem significado, entre outros prejuízos, a demissão em massa de professores, que estão sendo substituídos por robôs”, destaca.
Bianca garante que é preciso problematizar esse tipo de ensino e não naturalizá-lo. Segundo a professora, formalizar essa situação pode trazer prejuízos no futuro, quando a pandemia chegar ao fim.
Escolas preparadas?
A região de Ribeirão Preto-SP foi uma das que optaram por retornar às aulas presenciais somente em março. Para o diretor regional da SIEEESP, João Alberto de Andrade Velloso, as escolas da região têm total condições de voltar às atividades presenciais neste momento, o que seria “o melhor para os alunos”.
Velloso diz que o problema maior é o das crianças que ficaram distantes da escola. “Esse trauma, sim, vai afetar o resto da vida de cada um desses alunos que perderam este ano de estudos.”
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