Polarização e pré-campanhas eleitorais marcam ano político

2021 termina com cenário de incerteza política e foco nas urnas do próximo ano, mas com saldo positivo em aprendizado cívico e político

 23/12/2021 - Publicado há 2 anos

 

Palácio do Planalto, em Brasília – Foto: Wilson Dias/Agência Brasil via Fotos Públicas


Além das turbulências enfrentadas na saúde, pela pandemia de covid-19, e na economia, com a alta da inflação e disparada do dólar, o Brasil também viu o cenário político sofrer com polêmicas e incertezas, impulsionadas pela eleição presidencial de 2022.

Para amargar a situação, a disputa eleitoral vem criando clima de polarização nas urnas entre a extrema direita do atual presidente Jair Bolsonaro e a centro-esquerda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda à espera da chegada de uma terceira ou até mesmo uma quarta via para a corrida presidencial. 

Essa polarização, segundo especialistas políticos da USP, não é perigosa, desde que apareçam outras opções para o eleitor brasileiro, que deve se atentar ao histórico e se orientar pelo programa de governo apresentado por cada candidato. Esse é o resumo do quinto e último episódio do Balanço de 2021, uma série especial de final de ano produzida pelo Jornal da USP no Ar – Edição Regional.

Assimilação, aprendizagem e definição política

Frente às dificuldades enfrentadas nas políticas sanitárias do atual governo, o brasileiro aprendeu a olhar as políticas públicas com mais sensibilidade e importância, avalia o cientista político Marco Aurélio Nogueira, professor da Unesp de Araraquara. 

Para Nogueira, a população passou por um processo de assimilação tanto com a figura do presidente, quanto com o cenário político nacional. Diante do fracasso da política sanitária do governo atual, “acho que houve uma ampliação da sensibilidade dos cidadãos em relação à relevância que políticas públicas, sobretudo aquelas de caráter social, têm na vida atual”, afirma o professor, adiantando que “houve também uma assimilação no que diz respeito ao próprio governo e à própria figura do presidente”.

Nogueira ainda acrescenta, como balanço de 2021, que a política brasileira passa por um processo público de percepção e aprendizado. É um processo de caráter cívico, em que “nós aprendemos a conviver com uma situação de crise sanitária e é também uma assimilação política”, em que “aprendemos um pouco mais a perceber a inadequação de um presidente como o Bolsonaro num país como o Brasil”, arremata o professor.

Polarização deve ser qualificada, diz cientista

José Álvaro Moisés – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Após um 2021 turbulento, os holofotes da política se voltam totalmente para as eleições presidenciais que acontecem em 2022. Segundo os especialistas políticos, o despreparo apresentado pelo atual governo federal em lidar com a crise sanitária e a consolidação de um rival progressista na corrida presidencial criaram um clima de polarização nas urnas brasileiras.

Essa polarização, diz o cientista político José Álvaro Moisés, professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é natural, “principalmente quando você tem uma sociedade com posições contrapostas e que se apresentam com objetivos, com projetos, buscando realizar aquilo que corresponde ao que a sociedade espera”. A polarização, garante, só se torna um problema a partir do momento em que ela impede o surgimento de novas alternativas.

Por outro lado, o professor Nogueira avalia que a polarização nas eleições faz parte do processo democrático, mas é importante que essa disputa tenha qualidade para não cair no populismo. “Os democratas não podem temer a polarização. O que eles precisam é qualificar a polarização. A polarização que se anuncia para 2022 é entre dois tipos de postulação de caráter mais populista, mas que não são semelhantes em tudo”, afirma Nogueira, lembrando que essas informações devem ser conferidas “nos primeiros meses do ano que vem e isso poderá mudar muito o caráter da polarização.”

Difícil tarefa de escolher melhor programa de país

Nesse cenário de polarização, o eleitor brasileiro estará em uma situação “extremamente difícil e complexa nas eleições de 2022”, avalia Moisés. Para ele, “trata-se de escolher um governo que seja capaz não apenas de retomar a economia, criar empregos, controlar a inflação e melhorar a renda dos brasileiros, mas além de tudo isso, principalmente, manter a democracia brasileira de pé, e de um modo em que o regime político democrático ofereça alternativa para as pessoas comuns, possibilidade para elas poderem defender os seus interesses”.

Nogueira insiste que o eleitor deve se orientar pela postura política e plano de governo de cada candidato, estudando suas propostas e votando com sabedoria. “O eleitor sempre precisa ter muito cuidado ao buscar definir os votos, porque nós vivemos numa sociedade midiática. O eleitor deveria buscar sempre uma concepção daquilo que está sendo oferecido, sobretudo em termo de propostas de caráter mais programático, que digam respeito tanto à organização do País, à economia, à política, às políticas públicas, e como é o resultado dessa organização para a vida cotidiana de cada cidadão, de cada eleitor”, opina o professor.

A entrevista completa deste episódio pode ser ouvida no áudio abaixo, produzido pelo Jornal da USP no Ar – Edição Regional. Ouça aqui o quarto episódio da série:

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Por: Ferraz Junior e Vinicius Botelho


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