Mobilidade elétrica deixou de ser tema de discussão e está passando da teoria à prática

Segundo Roberto Marx, é possível observar que, no cenário mundial, indústrias e governos já se mobilizam e é possível notar grande crescimento na utilização de automóveis elétricos, mas ainda há desafios pela frente

 22/09/2023 - Publicado há 7 meses
O processo de transição entre os automóveis elétricos e os movidos a combustíveis não é simples – Foto: Pexels
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Políticas públicas para mobilidade elétrica têm orientado cada vez mais os governos, empresas e instituições a buscarem medidas de incentivo ao uso de meios de transporte menos poluentes e mais eficientes do ponto de vista energético. No Brasil, cada vez mais, os pesquisadores buscam soluções para diminuir emissões de CO2. 

Nesse contexto, a Escola Politécnica da USP desenvolveu um trabalho que compara a emissão de CO2 de carros totalmente elétricos e de carros tradicionais, utilizando etanol, e um carro a combustão interna. Os resultados demonstraram a importância de incluir pesquisas no processo de descarbonização, na medida em que evidenciaram que as emissões de um carro funcionando somente a etanol são bastante próximas de um carro elétrico, o que demonstra a importância de incluir as pesquisas brasileiras no processo de descarbonização.

Roberto Marx, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica (Poli) da USP e coordenador do Laboratório de Estratégias para a Mobilidade Urbana (Mobilab), explica os avanços realizados pelo Brasil e outros países nesse setor. 

Roberto Marx – Foto: PRO/Poli/USP

Eletromobilidade no mundo 

De acordo com Marx, em algumas regiões do mundo, a mobilidade elétrica deixou de ser apenas um tema de discussão e passou a ter uma aplicação prática. “Particularmente na Europa, tanto na parte de mobilidade individual – automóveis de uso individual e privado – como também na parte dos transportes públicos, a eletromobilidade é uma prioridade. As indústrias, os governos e todos os níveis já se mobilizam, e é possível observar grande crescimento na utilização de automóveis elétricos.”

Já nos Estados Unidos, como explica o professor, carros elétricos têm sido vendidos de forma mais consistente. A China, que atualmente é o maior destaque no uso desse tipo de tecnologia, definiu prioridade máxima para a eletromobilidade e é o líder mundial nas vendas desses automóveis. Segundo Marx, esse cenário está causando uma grande preocupação com a competitividade econômica, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. 

O que pode ser feito, em termos locais – nos países ou em regiões maiores – é tomar algumas medidas, mas é inequívoca a influência e o papel que as indústrias chinesas terão, e já têm, nesse campo. No caso brasileiro, também existe uma preocupação das empresas e associações com a entrada das montadoras de automóveis chinesas.

A tecnologia 

O processo de transição entre os automóveis elétricos e os movidos a combustíveis não é simples. Como explica Marx, a eletromobilidade tende a ganhar cada vez mais espaço em todo o mundo, deixando as estruturas tradicionais baseadas nos motores de combustão interna com menos espaço para retorno. “O motor elétrico, do ponto de vista tecnológico, é muito mais simples e muito menos complexo com relação ao número de itens, além de ser muito mais modularizado do que os motores convencionais”, destaca o professor.

Entretanto, essa mudança causa grandes problemas, seja para as empresas – que terão que se adaptar à tecnologia de fabricação e eventualmente abandonar boa parte dos equipamentos já existentes – como também para as pessoas que trabalham nesses locais, que terão seus empregos colocados em risco.

Os governos, na visão do professor, têm um papel importante para não frear os avanços tecnológicos e não deixar os impactos negativos da transição afetarem a produção automobilística com muita força. No Brasil, por exemplo, a cadeia automotiva representa 20% do Produto Interno Bruto (PIB). “Essa é uma indústria muito importante do ponto de vista de movimentação financeira e geração de empregos, então, cabe aos governos, de alguma forma, minimizar os efeitos negativos.”

Eletromobilidade no Brasil 

Atualmente, não há políticas públicas muito claras a respeito desse tema no Brasil, mas já existem estudos e iniciativas em andamento. Para o professor, na questão ambiental, a ênfase não precisa ser somente na parte de eletrificação, mas também em um esforço para acelerar o processo de descarbonização. O País possui pioneirismo no desenvolvimento do etanol, que já contribui para uma menor emissão de gases poluentes.

Do ponto de vista ambiental e econômico, é preciso haver um esforço governamental para combinar o incentivo à descarbonização com as várias alternativas tecnológicas que existem para isso – aproveitando o potencial produtivo do etanol brasileiro, por exemplo. Nesse cenário, é preciso entender os diferentes pontos de vista das entidades envolvidas no contexto das mudanças e nos processos de descarbonização, como instituições, sindicatos de trabalhadores, associações de empresas, montadoras, o setor de autopeças e toda a cadeia produtiva do etanol. Os acadêmicos também buscam cenários alternativos para esse processo.

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