Nos dias 27 e 28 de setembro, o 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria terá como tema central a ecoinovação: inovação que resulta na redução do impacto ambiental. O evento é uma iniciativa da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL).
O congresso visa à discussão dos impactos da revolução digital sob diferentes perspectivas e a debater as estratégias que países e empresas têm adotado na corrida tecnológica aliada à sustentabilidade. Glauco Arbix, professor do Departamento de Sociologia da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e membro do Observatório de Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP – do qual é apoiador institucional do evento –, explica que a existência de políticas de longo prazo acerca do assunto é essencial.
Mercado e sustentabilidade
O professor resgata um histórico do desenvolvimento sustentável em que se discutia apenas em grupos pequenos, a fim de chamar atenção para a causa, uma vez que essa aliança entre produção e meio ambiente ainda não era uma alternativa benéfica para empresas e o Estado. No entanto, a partir do entendimento da necessidade de tais mudanças para a contribuição com o bem-estar ambiental e, sobretudo, com a possibilidade de alcançar um lugar de destaque na economia, as empresas passaram a visar um meio de produção mais sustentável.
“As empresas começaram a perceber que a produção, sob uma visão mais ecológica, poderia potencializar o seu lugar e a sua presença no próprio mercado, porque está crescendo uma compreensão ambiental na sociedade e alterando seus padrões de consumo”, analisa Arbix. Em decorrência dessa relação entre o comércio e as demandas sociais acerca do meio ambiente, segundo o professor, as políticas do Estado também passam por um processo de adequação.
Além disso, essa preocupação se faz ainda mais presente em países em desenvolvimento, na medida em que são as mais afetadas pelas questões do clima, como os fenômenos de calor e enchentes no Brasil, que impactam diretamente o âmbito da produção agrícola e acentuam ainda mais as desigualdades sociais.
Economia, meio ambiente e sociedade
O pilar que relaciona os aspectos econômicos, ambientais e sociais é, na visão de Arbix, de extrema importância, uma vez que o recurso tecnológico apenas não é suficiente, é preciso um alinhamento entre as mudanças de hábitos. A ideia que foi construída durante a Revolução Industrial, de desenvolvimento a qualquer custo, favoreceu o estabelecimento de uma situação tão grave que, atualmente, está culminando em um despertar ecológico global.
“O esforço que o Brasil e os outros países fazem repercute e tem impulsionando o posicionamento de países muito avançados, como os Estados Unidos e nações da Europa”, comenta o professor. Em paralelo, também se considera a discussão sobre uma parcela de participação justa de cada país diante de tal emergência, tendo em vista que os países desenvolvidos são exatamente os maiores responsáveis pela situação ambiental atual.
Políticas de longo prazo
Mesmo com o papel essencial de políticas de longo prazo estabelecidas pelo governo para solucionar a situação, o professor ressalta a dificuldade de implantar tal plano, visto que os aspectos políticos possuem grande influência. “Os governos, por uma visão míope de curto prazo, muito ligada ao calendário eleitoral, ignoram políticas que já vêm de há muito tempo e tentam colocar em ação os seus próprios planos para que eles tenham as suas próprias marcas”, aponta Arbix.
O especialista ainda destaca que o cenário brasileiro apresenta maior urgência devido à política do governo anterior, em que sua bandeira era exatamente a ausência de qualquer preocupação e desmobilização dos órgãos responsáveis pelo assunto. “A Universidade tem muito a contribuir nesse cenário”, aponta o professor, ao mencionar o trabalho da Escola Politécnica (Poli) da USP em pesquisas acerca da geração do hidrogênio sustentável, que contou com a visita do ministro Fernando Haddad para acompanhamento dos trabalhos.
A iniciativa da Poli vai além de uma descarbonização, mas, de acordo com Arbix, visa ao propósito que a pegada de carbono seja negativa, isto é, ela não só não gera resíduos poluentes, como também sequestra o carbono já presente na atmosfera. Essa proposta da USP, caso se concretize efetivamente, vai conseguir dar um passo de impacto mundial.
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