Eleito para o quinto mandato, Putin mantém popularidade na Rússia e controvérsia no Ocidente

Angelo de Oliveira Segrillo analisa os discursos do presidente russo e diz que este foi bastante beneficiado pelo grande crescimento do preço dos barris do petróleo na virada do século

 26/03/2024 - Publicado há 1 mês
Putin trabalhou na KGB, departamento de inteligência da antiga União Soviética, e isso contribui para suas estratégias políticas e de combate – Foto: Pixabay
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Em discurso após a reeleição, o presidente russo Vladimir Putin reafirmou sua força e voltou a ameaçar o Ocidente com a retórica de uma resposta nuclear, além de dizer que o envio de tropas ocidentais à Ucrânia poderia levar à Terceira Guerra Mundial. Angelo de Oliveira Segrillo, professor de História Contemporânea no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e autor de diversos livros e artigos sobre a história da Rússia, analisa as falas do presidente russo e projeta o impacto de uma possível eleição de Donald Trump no conflito do Leste Europeu.

Força

Segundo o especialista, a reeleição de Putin para seu quinto mandato mostra a força de seu projeto político, iniciado logo após uma grave crise econômica que atingiu a Rússia nos anos 90. Ele conta que o presidente foi beneficiado pelo grande crescimento do preço dos barris de petróleo na virada do século e isso acarretou uma recuperação na economia do país, que se reflete ainda hoje na grande popularidade do líder entre a população russa.

Conforme Segrillo, o chefe de Estado não precisava recorrer a esse lado repressivo para conseguir sua reeleição e essa postura reflete em sua imagem no Ocidente, já que as nações o enxergam como um líder autoritário. Ele afirma que o plano de governo do russo está sendo marcado por essa dualidade entre uma figura controversa no Ocidente e aclamada em seu país. “O projeto dele está forte, tanto pelo seu lado positivo, que trouxe benefícios à população, quanto também pelo lado negativo, uma vez que o lado repressivo está aumentando à medida em que o lado econômico do país já não está mais indo tão bem”, analisa.

Angelo Segrillo – Foto: Francisco Emolo/Jornal da USP

Ameaças

O docente conta que o Ocidente é responsável por financiar as respostas ucranianas frente à ofensiva russa. Putin, no entanto, respondeu a uma sugestão do presidente francês, Emmanuel Macron, de enviar tropas à Rússia e alertou que quaisquer apoios militares no local sofrerão retaliações severas, inclusive com risco de armas nucleares.

Conforme o especialista, Putin trabalhou na KGB, departamento de inteligência da antiga União Soviética, e isso contribui para suas estratégias políticas e de combate, que muitas vezes ocorrem de maneira oculta. Ele também destaca o momento de transição hegemônica, em que potências emergentes do Oriente estão crescendo e provavelmente vão disputar com os EUA como as mais fortes economias mundiais. 

“Estamos entrando numa nova fase trazida pela atenção da China, que agora parece que vai ultrapassar os Estados Unidos e se tornar a primeira economia mundial em termos de tamanho de PIB. Tem também outros países, como Rússia e Índia, retomando o seu poder antigo. Então nós vamos passar desse momento unipolar que tivemos por um tempo para um mundo cada vez mais multipolar”, explica.

Eleição nos EUA

Segundo Angelo de Oliveira Segrillo, as eleições nos Estados Unidos podem gerar impactos no confronto entre Rússia e Ucrânia no Leste Europeu. Ele afirma que uma possível eleição de Donald Trump pode cessar o financiamento de larga escala ao governo ucraniano e isso pode levá-los a recorrer a um acordo para o fim dos conflitos com o país comandado por Putin.

O professor chama a atenção para o que ocorreu na Primeira Guerra Mundial, quando os líderes acreditavam que seus rivais apenas estavam utilizando blefes e não tinham a coragem necessária para iniciar um conflito armado. “Por isso, nós temos que ter cuidado e atenção com essa situação e novamente alertar para a questão das armas nucleares. Hoje em dia o patamar de destruição que se pode ter é muito mais elevado”, finaliza.


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