Ampliação do Brics parece ser mais positiva para a China do que para os outros países do bloco

O professor Paulo Borba Casella avalia que a mudança alteraria toda a dinãmica original da organização

 18/08/2023 - Publicado há 8 meses
O Brics tinha como objetivo inicial ser uma colaboração econômica entre seus membros
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Entre os dias 22 e 24 de agosto será realizada a Cúpula dos Brics, na África do Sul, que terá como objetivo discutir aspectos relacionados ao meio ambiente, à guerra da Ucrânia e ao retorno do Brasil para o centro de diferentes discussões geopolíticas. Além disso, o encontro também debaterá a ampliação do bloco, já que a China tem pressionado os países-membros para incluírem mais nações na organização — que não parece ter tanto interesse na ampliação. 

Paulo Borba Casella,  professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito e do Grupo de Estudos sobre o Brics (Gebrics) da USP, comenta que a invasão russa na Ucrânia é outro motivo de preocupação para a atuação do bloco, uma vez que, já no ano passado, a ata final da reunião destacava esse tema sem mencionar o fato de que a guerra só existe em decorrência do início do conflito por um dos países da organização. 

Contexto

Com relação à ampliação do bloco, o professor destaca que o projeto é uma proposta da China que, atualmente, conta com a economia mais forte entre os cinco membros. “Essa ampliação mudaria totalmente toda a dinâmica do Brics […]. Com a entrada de vários outros Estados, ficaria um bloco antiocidental, que não sabemos até que ponto interessa ao Brasil, podendo fazer com que o País avalie se interessa continuar, se isso vier realmente a acontecer”, analisa. 

Paulo Borba Casella – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Um aspecto interessante que pode ser avaliado sobre o grupo é que , inicialmente, ele tinha como objetivo ser uma colaboração econômica entre os países. Existem alguns dados que explicam a funcionalidade dessas dinâmicas, como o fator dos cinco países representarem cerca de 42% da população mundial, 30%  do território do planeta, 23% do PIB mundial e 18% do comércio global. Assim, o especialista avalia que ele nasce como uma união entre nações que, apesar de apresentarem grandes problemas, contavam também com grandes potenciais. 

“Existe essa curiosidade de que o Brics não é uma organização internacional , ele não tem personalidade jurídica, ele não tem um tratado. Contudo, eles criaram uma organização internacional — o Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai e que conta, atualmente, com uma presidente brasileira”, comenta. Assim, Casella reflete que a configuração do grupo é a proposta de alterar o equilíbrio estabelecido após a Segunda Guerra Mundial com as organizações financeiras internacionais. 

Por isso, desde o início, a ideia central era reformular, mas sem a vontade de ruptura com o sistema. A vontade de ampliação do bloco por parte da China, por exemplo, parece imprimir uma nova dimensão que se expressa de forma diferente da proposta inicial do grupo, que não parece fazer sentido para o Brasil, apesar de se apresentar como um bom posicionamento geopolítico para a China e a Rússia, por exemplo. 

Mudança 

Mais de 20 países já se mostraram interessados em adentrar o grupo, fator que mudaria completamente sua configuração e o seu projeto inicial. Como uma solução para esse debate, Casella reflete que poderia haver países que, apesar de não integrarem o Brics, podem participar do projeto do capital do Banco de Desenvolvimento. “Esse poderia ser uma espécie de estágio preparatório para futuros candidatos a entrarem no bloco”, avalia. 

Essa saída parece colaborar com o funcionamento do Brics — que apesar de pequenos problemas, apresentam um relacionamento estável que poderia ser abalado com a entrada de 20 novos países. Assim, essa questão parece ser um interesse muito maior da China do que dos paíse- membros como um todo. 

Por fim, o professor comenta que o governo anterior foi desastroso em muitos campos, especialmente com relação à política externa. “O Brasil nunca esteve tão isolado e malvisto no mundo, nem mesmo no período da ditadura militar, nós nos isolamos da forma como foi feita pelo governo anterior”, adiciona. 

Dessa forma, seria também interessante para o Brasil ponderar e tentar resolver as questões abertas já existentes entre os cinco países antes de incluir novos convidados. “Fica muito claro que, com essa mudança, o País perderia peso relativo dentro desse colegiado, já que o número de integrantes seria multiplicado por cinco”, finaliza.


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