Cresce número de empregos formais no País, mas economia não consegue atender à demanda

Ao analisar dados do Caged, Hélio Zylberstajn conclui que a solução mais prática é o País voltar a crescer, pois só assim seria possível expandir o mercado de trabalho

 03/05/2023 - Publicado há 12 meses
Há uma tendência de redução do crescimento que pode chegar até à redução de estoque de empregos – Foto: Jeso Carneiro/Flickr
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Alguns dados recentemente divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram algumas das projeções para o mercado de trabalho, principalmente com relação ao número de contratações formais e o número de desempregados no País. Segundo o professor Hélio Zylberstajn da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP e coordenador do Projeto Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, é necessário “voltar a crescer” para uma perspectiva de futuro mais positiva. 

Zylberstajn explica que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é uma informação que não vem a partir de uma amostra, mas representa o universo do mercado formal, ou seja, todos os trabalhadores registrados dentro da CLT são representados por meio desse dispositivo. “As empresas informam, todo mês, ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), quantas pessoas foram desligadas e quantas foram admitidas”, comenta o professor. 

Hélio Zylberstajn – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

O último Caged revelou que, no primeiro trimestre deste ano, houve um crescimento de 526 mil empregos formais. O professor comenta que, se esse número conseguir ser mantido nos próximos três trimestres, o Brasil contaria com a criação de mais de 2 milhões de empregos neste ano. Contudo, analisando esse dado com a perspectiva de anos anteriores, o valor, ao invés de positivo, começa a preocupar especialistas. Isso acontece uma vez que, em 2021, por exemplo, nesse mesmo trimestre, houve um crescimento de 805 mil vagas. Em 2022, esse número era de 619 mil. Segundo o especialista, a partir desses dados, é possível analisar que o número de empregos cresce, mas o ritmo de crescimento vem diminuindo. 

Tendência de redução

“O número de admitidos cresceu 1,6%, contudo, o número de desligados cresceu 3,5%. Isso mostra que há uma tendência de redução do crescimento que pode chegar até à redução de estoque de empregos”, adiciona Zylberstajn. Além disso, é também necessário avaliar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que abrange todos os tipos de vínculos que os indivíduos possuem com o mercado de trabalho. 

O professor comenta que os dados relacionados à PNAD para esse trimestre são um pouco mais preocupantes: “A PNAD está mostrando que neste primeiro momento nós perdemos liquidamente 1,5 milhão de vagas de trabalho. Desses, 900 mil permaneceram no mercado de trabalho procurando emprego e 600 mil desistiram de procurar emprego”. 

Zylberstajn comenta ainda que esse cenário é a repercussão da perda de dinamismo da economia. O número de empregos disponíveis é muito pequeno para absorver o exército de indivíduos que constitui a mão de obra brasileira. Ademais, em um trimestre, perdemos cerca de 1% da massa de rendimento, ou seja, apresentamos menos dinheiro circulando no País. 

Para que esse cenário apresente uma melhora, o especialista comenta que a solução mais prática é “voltarmos a crescer”, uma vez que com isso seria possível voltar a expandir o mercado de trabalho. Esse fato depende de muitas coisas, mas a confiança em um governo com um norte claro e objetivo pode ser um bom caminho em direção a um futuro economicamente positivo.


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