Nesta edição de sua coluna, Guilherme Wisnik compara as cidades de Brasília e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Ele recorda que, quando Brasília foi inaugurada, na década de 1960, o Brasil era tido como uma vanguarda da arquitetura mundial, símbolo do desenvolvimento de um país que conhecia um grande progresso econômico. Brasília se edificou no meio do planalto central do cerrado, “uma cidade que muita gente admirou, uma cidade que muita gente criticou, mas o fato é que tudo isso fazia do Brasil uma espécie de centro da vanguarda mundial arquitetônica”.
Já os Emirados Árabes, “por conta do dinheiro do petróleo, surgem como um fenômeno urbano no raiar dos anos 2000. E vão transformando lugares que não tinham nada, que eram assentamentos nômades, em grandes cidades, com enormes arranha-céus, maiores do mundo, uma cidade linear, assim como Brasília, de certa forma, só que trazendo as marcas da experiência do século 21, isto é, o capital financeiro, o urbanismo como forma de atração de capital e de turismo num momento globalizado, absoluta artificialidade, que já era presente em Brasília, mas como uma forma esteticamente moderna, agora como uma espécie de presença acintosa do predomínio do capital”.
Chega-se então ao tempo da hiper urbanização, fenômeno que também atinge a China, que se hiper urbaniza “com consequências tão graves para o planeta, o símbolo do que antes foi uma espécie de vanguarda estética se desloca para uma retaguarda da afirmação, pura e simples, dos interesses privados sobre o planeta, sobre a natureza e sobre o próprio bem público, o que coloca a discussão do urbanismo numa espécie de beco sem saída ou fim de linha”.
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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