Alberto do Amaral comenta as principais características da América Latina e sua fragmentação

Professor considera que a grande tarefa é, em primeiro lugar, criar harmonia na América do Sul e, depois, na América Latina

 25/07/2023 - Publicado há 9 meses
A América Latina tem algumas características muito importantes. Embora eu não vá citar todas, a primeira é sua extensão. A América Latina é extremamente extensa, vai desde o México até a Terra do Fogo. A segunda característica é uma identidade cultural comum, que vem da colonização hispânica, portuguesa e francesa. A terceira característica, hoje, é a extrema desigualdade social. A América Latina é um continente profundamente desigual – mais do que um continente, um continente que abrange também os Estados Unidos e o Canadá, que não fazem parte da América Latina – e nessa região nós temos países como o Brasil, em desenvolvimento e com economias promissoras e complexas. Temos países extremamente pobres, como o caso do Haiti.
A quarta característica é o fato do crescimento das tendências de extrema-direita. E o crescimento da extrema-direita em quase todos os países da América Latina é muito preocupante e é algo contrário a uma tendência que se consolidou, nos anos 1990, de redemocratização após um período de ditadura vivido por vários países. Isso tem a ver com as promessas não cumpridas da própria democracia. A democracia deixou de integrar grande parte da população ao mercado trabalho, ao mercado de consumo, e de proporcionar uma educação adequada para uma participação produtiva na vida política. Uma outra característica da América do Sul é a existência de autocracias e de como nós lidamos com elas, caso da Nicarágua e da Venezuela, caso de Cuba, e o perigoso caso de El Salvador, que hoje caminha sensivelmente para uma situação de maior risco. Esses são problemas extraordinariamente importantes para a América Latina.
Antes até de introduzir uma maneira de enfrentar os problemas, importante citar que os Estados Unidos abandonaram a América Latina. Os Estados Unidos não consideram a América Latina como sendo uma região prioritária. Desde 2013, um presidente norte-americano não visita no Brasil.
E na China, ao contrário, a grande prioridade é a América Latina e tem interesses enormes. A América Latina está afastada das grandes cadeias produtivas e, portanto, precisa integrar-se a elas. Agora, a América Latina precisa evidentemente cuidar de uma maior integração. Nós temos visto o reavivamento de certos foros como o Celac, por exemplo, com a União Europeia, com os países da América Latina e da região do Caribe – reunião em que o presidente Lula esteve presente na semana passada. Esse é um sinal extremamente positivo, mas nós precisamos ter sinais positivos do ponto de vista concreto, de quais medidas serão efetivas para a integração do ponto de vista físico, do ponto de vista energético, do ponto de vista político.
Nós temos hoje uma fala de lideranças da América Latina que vão em direção da integração, mas nós temos um comportamento que contraria esse discurso de integração e caminha no sentido da fragmentação. Combater a fragmentação é muito importante. Temos, por exemplo, países como México, que não querem que os Estados Unidos celebrem um acordo com outros países da América Latina, que se aproximem de maneira mais intensa da América do Sul. E temos as peculiaridades próprias ao Mercosul, por exemplo, o acordo de livre-comércio com a União Europeia e a divergência uruguaia em relação ao acordo com a China. Então, nós temos é uma grande tarefa de primeiro criar harmonia na América do Sul e depois na América Latina, e tentar realizar projetos concretos que visem a dar concretude, a dar uma realizabilidade a todas estas ideias.

Um Olhar sobre o Mundo
A coluna Um Olhar sobre o Mundo, com o professor Alberto Amaral, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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