Mulheres debatem as desigualdades na música clássica

Videoconferência acontece nesta terça-feira, dia 16, às 14 horas, na plataforma Sympla

 15/03/2021 - Publicado há 4 anos
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Ilustração: Reprodução/Donne Talks

 

A música clássica, ou erudita, surgiu na Europa Ocidental e se difundiu pelo mundo. Apesar de ao longo da história ter sido democratizada, existe um público que ainda luta para conseguir espaço nesse universo: as mulheres. Para falar sobre esse assunto, a professora Silvia Berg, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, participa da videoconferência Por Elas Que Fazem a Música, que será realizada nesta terça-feira, dia 16, às 14 horas, na plataforma Sympla. A inscrição é gratuita e pode ser feita neste link

Promovida pela Fundação Donne, em parceria com a União Brasileira de Compositores, a conferência faz parte do projeto

Mulheres na Música e vai reunir musicistas e compositoras como Jocy de Oliveira, Joyce Moreno, Adriana Calcanhoto, Catarina Domenici e a professora Silvia. Elas vão falar sobre as desigualdades encontradas pelas mulheres na música de concerto brasileira. Além disso, o evento vai apresentar dados do relatório anual Por Elas Que Fazem a Música, sobre a participação feminina em concertos pelo mundo.

Peças apresentadas em concertos são majoritariamente masculinas  

Apesar dos avanços na participação feminina nas salas de concertos, ainda são poucos os espaços destinados às mulheres. Levantamento feito pela Fundação Donne sobre a temporada 2019-2020 de 15 grandes orquestras mundiais revelou que apenas 3,6% das peças que seriam executadas foram compostas por mulheres. Para a temporada estavam previstas cerca de 1,5 mil apresentações e nos repertórios ao menos 4 mil obras musicais. Dessas, apenas 142 foram escritas por mulheres. No relatório, a fundação afirma que “nesse ritmo, teremos  de esperar até cerca de 2050 para ter pelo menos uma peça de uma compositora  em todos os concertos”. 

A professora Silvia Berg conta que a presença tardia das mulheres em atividades musicais “está muito ligada à estreita relação da música com os ritos católicos, que as excluíam”. Ela cita ainda as diferenças no acesso aos estudos, direito que a classe feminina conquistou anos depois dos homens. Além disso, aponta outros três fatores – necessários para a produção artística – a que muitas mulheres não possuem acesso: tempo para produção, espaço adequado e suporte econômico.

A soprano Gabriella di Laccio, fundadora da Donne e coordenadora da videoconferência, conta que a contribuição das mulheres para a música clássica foi apagada ao longo da história e que isso levou à ideia de que não existiram mulheres compositoras. “O resultado da pesquisa que fizemos é apenas uma demonstração muito pequena de um problema que acontece à frente dos nossos olhos há muitos anos”, diz ela.

Para Gabriella, “se nós queremos contribuir para uma sociedade mais inclusiva, onde a igualdade e a diversidade sejam prioridades diárias, cada um tem que fazer a sua parte para contrabalançar séculos de desigualdade”.

Já para a professora Silvia, o acesso de todas as pessoas, com suas diversidades, à educação de qualidade é o fator capaz de equilibrar essa balança. Ela afirma que “não estamos falando de obras femininas ou masculinas, mas sim de condições de produção equilibradas”.

Cartaz da videoconferência Por Elas Que Fazem a Música – Foto: Divulgação

Fundação de apoio às mulheres musicistas

A Fundação Donne é uma instituição de caridade do Reino Unido que busca diminuir a desigualdade de gênero na indústria musical. Começou com o projeto Mulheres na Música, mas a ideia é expandir para a promoção das mulheres em todos os outros campos artísticos, como o cinema, o teatro, a dança e a música. 

“Eu decidi fundar a Donne simplesmente porque não consegui mais compactuar sem fazer nada”, conta Gabriella. Para a soprano, incluir mais mulheres no cenário musical é uma fonte de inspiração para as gerações futuras. “Hoje em dia não basta mais dizer que você é contra o preconceito, que é pró-igualdade. Se você não está fazendo algo para contribuir com a mudança, você ainda faz parte do problema.”

A videoconferência Por Elas Que Fazem a Música, promovida pela Fundação Donne, será realizada nesta terça-feira, dia 16, às 14 horas, na plataforma Sympla. A inscrição deve ser feita neste link. Grátis.


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