Ausência de lideranças femininas em gestões esportivas reflete falta de equidade de gênero

Segundo a pesquisadora Natacha Manchado Pereira, o esporte, como manifestação cultural, revela problemáticas estruturais da sociedade nacional

 23/06/2023 - Publicado há 10 meses     Atualizado: 26/06/2023 as 11:07
O estudo apresenta como cenário a falta de equidade de gênero em diferentes setores corporativos — entre eles o de esportes – Foto: Freepik
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Um recente estudo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP expõe a falta de ações institucionalizadas para o incentivo de mulheres em cargos de gestão das confederações olímpicas brasileiras. Apesar do crescimento positivo do País no setor de alto rendimento esportivo, nota-se que a estrutura permanece com alguns problemas que foram levantados pela pesquisa. 

Natacha Manchado Pereira, mestre em Ciências e pesquisadora da Escola de Educação Física e Esporte da USP, explica que o estudo apresenta como cenário a falta de equidade de gênero em diferentes setores corporativos — entre eles o de esportes — principalmente em cargos de gestão. Natacha teve como orientador o professor Ary José Rocco Jr.

Pesquisa

Para a compreensão desse cenário, o estudo foi dividido em duas fases: a primeira relacionava-se à pesquisa e análise de documentos que focavam em planejamento estratégico e possíveis programas e políticas institucionalizadas para efetiva mudança. Enquanto isso, a segunda associava-se à realização de entrevistas com as gestoras e cogestoras da amostra para compreensão de políticas e ações que estavam sendo implementadas com relação à equidade de gênero. 

Os dados levantados revelavam algumas barreiras que podem ser encontradas para acessar os cargos de gestão na estrutura olímpica. “O esporte, como uma manifestação cultural, acaba refletindo todas as ações que a gente encontra na sociedade em geral e isso se reflete nas ações corporativas. Então, a gente percebe essa falta de oportunidade para as mulheres”, comenta a especialista. 

Natacha explica também que, por ser uma questão estrutural, a problemática não será resolvida naturalmente, sendo necessário tomar algumas ações concretas para aumentar as oportunidades de gerenciamento feminino nesses ambientes. Exemplo disso pode ser observado na ausência de transparência na escolha de certos cargos que, muitas vezes, não apresentam critérios bem estabelecidos para determinação de nova ocupação. “Essa questão de indicação reflete a reprodução homóloga de uma manutenção masculina, ou seja, têm homens sempre no poder que acabam indicando outros homens, que indicam outros homens e esse ciclo se repete”, analisa.

O estabelecimento de políticas de recrutamento claras é, portanto, um dos caminhos a serem tomados para uma possível melhora da problemática. A especialista adiciona também que mentorias específicas para mulheres na área de gestão do esporte também poderiam colaborar na quebra de algumas barreiras.    

Internacionalmente       

Outra questão interessante a ser analisada a respeito da temática relaciona-se às diferenças presentes em países diversos sobre essa questão. Alguns deles se encontram, portanto, em um debate mais avançado e as melhorias a respeito das questões de gênero seriam tratadas com maior facilidade. Natacha explica que o próprio Comitê Olímpico Internacional, órgão que deveria funcionar como base para as outras instituições, vem aplicando alguns direcionamentos para o aumento da ocupação de cargos de decisão por mulheres.   

Hoje, o Brasil não apresenta nenhuma ação institucionalizada para a mudança da situação e, segundo a pesquisadora, é notório que grande parcela dos indivíduos que trabalham nesse meio não conhece as propostas internacionais que pretendem melhorar a questão. “Além de desconhecerem as iniciativas, alguns gestores relataram que não entendem como uma função da confederação repara a falta de representatividade nesse âmbito”, reflete a especialista.

A preocupação com o caso torna-se maior com a análise dessas questões, uma vez que, atualmente, a equidade de gênero é vista como boa prática de gestão e responsabilidade social. Assim, há uma falta de percepção a respeito das melhorias que poderiam ser implementadas a partir do debate justo acerca desse cenário. 

Entre os diferentes resultados encontrados pela pesquisa, a ausência de representação feminina nos cargos mais altos apresenta claro destaque. A pesquisadora reflete que é possível notar que a equidade não existe na prática nesses ambientes e, por isso, pensar em políticas públicas para mudanças efetivas do quadro é essencial.    


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