Imprensa vive tempos difíceis no Brasil e no mundo

Carlos Eduardo Lins da Silva cita os exemplos da emissora pública NPR, nos EUA, e da TV Cultura, também uma emissora pública, aqui no Brasil

 Publicado: 29/04/2024

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Carlos Eduardo Lins da Silva comenta, nesta edição de sua coluna, a suspensão – que acabou resultando num pedido de demissão – de um editor senior da Rádio Pública Nacional dos Estados Unidos (NPR), após a publicação de um artigo crítico sobre o posicionamento político da redação. Para o colunista, essa é uma das muitas crises que a imprensa americana está atravessando em razão das mudanças ocorridas na sociedade e no ambiente jornalístico do país. “As atividades bélicas que ocorrem em Gaza têm sido um dos pontos muito nevrálgicos dessa situação, porque diversos jornalistas, em vários veículos de comunicação, têm se posicionado criticamente em relação à posição editorial dos veículos onde eles trabalham.” De um modo geral, de acordo com o colunista, a NPR mantém posições que podem ser chamadas de liberais ou de centro-esquerda. A emissora, embora tenha verbas do governo federal, depende sobretudo de doações dos seus ouvintes e de anúncios de interesse público que veicula. Ou seja, ela se caracteriza por ter uma posição editorial absolutamente independente em relação às posições do governo.

Aqui, no Brasil, a TV Cultura, também uma emissora pública, passa atualmente por maus momentos. “Problemas sérios, mas que não são problemas novos”, diz Lins da Silva ao comentar esse caso. O ex-presidente da Fundação Padre Anchieta – mantenedora da TV e da Rádio Cultura -, Roberto Muylaert, chegou a publicar um artigo no jornal Folha de S.Paulo, alguns dias atrás, sobre a crise envolvendo a entidade que dirigiu e o governo do Estado de São Paulo. “O atual governador, Tarcísio de Freitas, está fazendo uma pressão evidente sobre a Fundação Padre Anchieta, muito provavelmente porque não se satisfaz com o fato de que o governo do Estado não pode ter e não tem ingerência no conteúdo jornalístico que a TV Cultura veicula. Não deve ter, não pode ter, seria o fim do conceito de uma televisão pública”, afirma o colunista. O governador ameaça a emissora com uma CPI na Assembleia Legislativa, ao mesmo tempo que a TV Cultura informa estar sofrendo cortes orçamentários. De todo modo, ao longo dos anos, essas crises, que se repetem de tempos em tempos, acabaram terminando de forma positiva, segundo Lins da Silva, para a Fundação Padre Anchieta e para a TV Cultura. “De qualquer modo, a gente tem que ficar na torcida e na defesa da independência da Fundação Padre Anchieta e da TV Cultura, que, a meu ver, tem feito um excelente trabalho jornalístico, bastante independente, em que todas as tendências importantes da política brasileira acabam sendo representadas”, acrescenta ele.


Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção  da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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