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Museu do Ipiranga leva novo olhar sobre a história do Brasil para 1 milhão de visitantes
A diretora Rosaria Ono avalia a participação do público no momento em que o museu atinge a marca de 1 milhão de visitantes desde a reinauguração em 2022
Museu do Ipiranga atingiu 1 milhão de visitantes no dia 20 de abril deste ano - Foto: Nicole Tietzman/ECA USP
O Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga, vive um novo tempo. A marca de 1 milhão de visitantes atingida no último dia 20 de abril foi especialmente comemorada com uma ampla divulgação na mídia, a distribuição de bottons e a certeza de estar no cotidiano da cidade.
Em conversa com o Jornal da USP, a diretora Rosaria Ono avalia a integração com o público participando atentamente da programação de exposições, oficinas e palestras. “Com certeza a marca de 1 milhão de visitantes tem um significado muito especial, pois reflete a boa recepção à reabertura do museu após nove anos fechado. A média diária de visitantes contabilizada pela emissão de ingressos nesse período foi de aproximadamente 2 mil pessoas. Assim, antes de mais nada, agradeço ao nosso público visitante que nos permitiu atingir essa marca tão rapidamente.”
Rosaria, também professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, ressalta que antes do fechamento a visitação anual era de cerca de 300 mil pessoas, número que dobrou no ano de 2023, atingindo a marca de mais de 650 mil visitantes ao ano. “Além de encontrar o edifício histórico totalmente restaurado, os visitantes agora dispõem de uma área de recepção, que chamamos de área de acolhimento, onde eles encontram a bilheteria, os sanitários, o guarda-volumes, um auditório, duas salas de aula e duas salas para atividades educativas, dentre outras áreas de apoio, oferecendo maior conforto aos visitantes. Esses serviços estão concentrados num piso novo abaixo e à frente do edifício histórico, que fez o edifício dobrar sua área total, porém, com pouquíssimo impacto visual causado ao conjunto arquitetônico e urbanístico do museu e do Parque da Independência, considerando que o conjunto é tombado nas três instâncias de proteção de patrimônio histórico-cultural: federal, estadual e municipal.”
Rosaria Ono, diretora do Museu Paulista da USP - Foto: Divulgação/MP
A inclusão social, na perspectiva não só da acessibilidade das pessoas com deficiência, mas também das vozes das populações antes excluídas ou subjugadas, se reflete nas exposições ”
Para Entender o Museu é uma das exposições de longa duração que traz a história da instituição desde a construção do edifício-monumento e as transformações do acervo no decorrer de sua história. No site https://museudoipiranga.org.br está a explicação: “Quando foi criado, o museu tinha coleções variadas de botânica, zoologia, etnologia, mineralogia. Ao longo dos anos, esses acervos foram sendo transferidos para outras instituições. Parte da coleção de arte também foi cedida para a Pinacoteca do Estado de São Paulo. O objetivo dessas transformações era fazer do Ipiranga um museu especializado em história”.
Museu do Ipiranga atrai público de todo o País e do exterior - Foto: Nicole Tietzman/ECA USP
Importante destacar que todas as 11 exposições são apresentadas no site do museu com um guia educativo e didático que pode ser baixado por todos neste link, especialmente como material didático para professores, propiciando uma experiência imersiva. “Foram vários os desafios para a realização e conclusão da obra a tempo da reabertura do museu com 11 exposições em 49 salas restauradas, nas comemorações do Bicentenário da Independência, em setembro de 2022”, explica a diretora Rosaria Ono. “A obra não teria sido concluída, não fossem os esforços de todas as partes envolvidas, seja no âmbito da Universidade de São Paulo — Reitoria, SEF e Museu Paulista — em parceria com a FUSP (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo) e os governos federal, estadual e municipal, seja no âmbito dos patrocinadores, apoiadores e colaboradores do projeto Novo Museu do Ipiranga. É importante lembrar que mais da metade das obras de ampliação e restauro aconteceram durante o período da pandemia da covid 19.”
A professora destaca que a preparação das exposições foi um evento à parte, com um grande esforço da equipe de curadoria composta de cinco docentes/curadores do Museu Paulista, coordenados pela professora Vânia Carneiro de Carvalho, junto com a equipe de educadores e de museografia da instituição. “Estas equipes estabeleceram, juntas, as diretrizes para as exposições, montadas dentro das linhas de pesquisa definidas na década de 1990 e refletidas, finalmente, em sua plenitude, nas novas exposições. A inclusão social, na perspectiva não só da acessibilidade das pessoas com deficiência, mas também das vozes das populações antes excluídas ou subjugadas, se reflete nas exposições.”
Ficamos muito felizes em constatar que estamos dando oportunidade para muitos brasileiros que ainda não conheciam o Parque da Independência e o museu de aproveitar momentos de cultura e lazer”
Ao percorrer os espaços das exposições, o visitante vai percebendo detalhes do edifício construído entre 1885 e 1890, projetado para ser um monumento em comemoração à Proclamação da Independência em 1822. E vai acompanhar como surgiu o museu público mais antigo de São Paulo. A diretora e professora da FAU, Rosaria Ono, ressalta que o museu está inserido num grande projeto urbanístico. “O eixo monumental do Parque da Independência, que começa no Museu do Ipiranga e termina na Avenida Dom Pedro I, passando pelo Monumento da Independência, é um projeto planejado e executado há 100 anos, para as comemorações do Centenário da Independência, é um exemplar único na cidade de São Paulo.”
O visitante se encanta com os detalhes do edifício construído entre 1885 e 1890, projetado para ser um monumento em comemoração à Proclamação da Independência em 1822 - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Rosaria Ono: “Junto com o jardim no estilo francês, localizado em frente ao Museu, o conjunto compõe uma paisagem biunívoca…” - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Rosaria Ono observa: “Junto com o jardim no estilo francês, localizado em frente ao museu, o conjunto compõe uma paisagem biunívoca e que é muito procurado e frequentado pelos paulistanos, para seus momentos de lazer em família, na prática esportiva e também para fotografar momentos importantes de suas vidas, como casamentos e formaturas. Assim, esse espaço faz parte das memórias afetivas e do dia a dia de muitos paulistanos”.
Ao acompanhar a repercussão do movimento dos visitantes do Brasil e exterior, a diretora observa: “Ficamos muito felizes em constatar que estamos dando oportunidade para muitos brasileiros que ainda não conheciam o Parque da Independência e o museu, de aproveitar momentos de cultura e lazer nesses espaços, além de proporcionar novo olhar sobre a história do Brasil também àqueles que já haviam visitado a instituição”.
O Museu Paulista é um museu universitário e, portanto, seus docentes e pesquisadores realizam pesquisas com o seu acervo que resultam em curadorias de coleções e de exposições”
Os desafios do Museu Paulista se renovam a cada dia. Vão além de 1 milhão de histórias. “Após a abertura, o museu passou a encarar um outro desafio, que é o de continuar tratando as questões históricas sob vários pontos de vista e trazer novidades ao público de forma periódica. As metas atuais se configuram em ações visando a ampliar a visitação ao museu e a criação de um público frequentador, que volte várias vezes no ano. Como?”, questiona a diretora Rosaria Ono. “Por um lado, por meio do estabelecimento de um calendário de eventos culturais e educativos, como apresentações musicais, seminários sobre temas atuais atinentes ao museu e visitas guiadas para públicos específicos, dentre outros. Por outro, com a realização de pelo menos duas exposições temporárias ao ano, preferencialmente com curadorias conjuntas envolvendo instituições museológicas e culturais parceiras, possibilitando ampliar a exposição do rico acervo do museu, lembrando que hoje os 3.700 itens das 11 exposições de média e de longa duração perfazem menos que 1% do acervo exposto da instituição.”
O conjunto do museu é tombado nas três instâncias de proteção de patrimônio histórico-cultural: federal, estadual e municipal - Foto: Cecília Bastos - USP/Imagem
A professora salienta que o Museu Paulista é um museu universitário e, portanto, seus docentes e pesquisadores realizam pesquisas com o seu acervo que resultam em curadorias de coleções e de exposições. “Tais pesquisas sempre visam a incorporar novos métodos, assim como novas técnicas e tecnologias para o seu aprimoramento, da forma de introduzir aspectos inovadores tanto nas pesquisas em si como nas formas de extroversão das mesmas.” E esclarece: “Um projeto em andamento, por exemplo, é a digitalização e disponibilização dos acervos de forma on-line, que permite inclusive a realização de curadorias digitais, dando acesso mais democrático ao acervo da instituição para pesquisadores acadêmicos ou não. Isto é possível hoje por meio da plataforma Tainacan, num projeto-piloto do Museu Paulista em desenvolvimento com o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) do Ministério da Cultura”.
O Museu do Ipiranga está localizado na Rua dos Patriotas, 100, no Parque da Independência, no Ipiranga. Funciona de terça-feira a domingo, das 10h às 17h (com última entrada às 16 horas). Ingressos: custam R$ 30 (inteiro) e R$ 15 (meia). Podem ser adquiridos com antecedência no site da Sympla (www.sympla.com.br) ou mediante disponibilidade na bilheteria que abre às 9h nos dias pagos e às 10h nos dias de gratuidade (quarta-feira, primeiro domingo do mês e feriados).
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