Estudo revela medicamento promissor no tratamento da dependência de drogas
Testada pela primeira vez contra abuso de substâncias, baixas doses de doxiciclina reduziram efeitos recompensadores da morfina e cocaína em animais
Mais de 300 camundongos foram tratados com antibiótico e as administrações da droga reduziram os efeitos compensadores da cocaína e da morfina -Foto: Freepik
Mesmo que ainda não haja “nenhum estudo conduzido em humanos com transtornos por uso de substâncias investigando o efeito da doxiciclina”, informa Amanda, as evidências mostram que o medicamento é muito mais que um simples antibiótico e, pela segurança de baixas dosagens e dos resultados obtidos agora, poderia “ser redirecionado para o tratamento” desses transtornos.
Amanda Juliana Sales - Foto: Acervo pessoal
O estudo desses compostos está sendo realizado em conjunto com o Institute Paris Brain, ICM – Institut du Cerveau et de la Moelle épinière, Salpetriére Hospital, França. Os medicamentos investigados, em doses não antimicrobianas, têm mostrado efeitos neuroprotetores no cérebro. “Nosso objetivo é avaliar a ação dessas drogas nos efeitos reforçadores associados ao uso de drogas de abuso”, acrescenta, ao enfatizar a necessidade de estudos “que expliquem a neurobiologia da dependência de drogas para alcançar possíveis novos tratamentos mais rápidos e eficazes”.
Ação neuroprotetora contra desafio global
Amanda Sales conduziu os estudos nos laboratórios dos professores da FMRP, Felipe Villela Gomes e Francisco Silveira Guimarães, e da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, Elaine Del Bel, nos quais testou os efeitos de baixas doses de doxiciclina, administradas entre um e três dias, em camundongos machos previamente expostos à morfina ou à cocaína, duas drogas de abuso comuns. Como resultado, verificou que a doxiciclina reduz os efeitos recompensadores e os comportamentos associados ao uso dessas drogas.
A pesquisadora optou por modelos animais que reproduzem respostas comportamentais ao uso de drogas de abuso - Foto - Pixabay
“Drogas de abuso, como a cocaína, produzem efeitos como euforia, alteração da percepção e alívio da disforia, que é uma mudança repentina e transitória do estado de ânimo, incluindo sentimentos de tristeza, pesar e angústia. O uso repetido da droga ocorre como busca por esses efeitos”, afirma. Como grande parte dos avanços no entendimento dos efeitos do uso de substâncias foi alcançada por estudos pré-clínicos utilizando modelos animais, Amanda e seus colegas optaram por modelos que reproduzem respostas comportamentais ao uso de drogas de abuso: a preferência condicionada ao lugar (que mede o tempo de permanência do animal no ambiente em que foi exposto à droga de abuso) e a sensibilização locomotora (que avalia o aumento da atividade locomotora após o uso repetido da droga).
Para Amanda Sales, os resultados do estudo têm grande impacto, já que o transtorno por uso de substâncias “representa um desafio global à saúde pública, com a necessidade urgente de tratamentos mais eficazes”. Nessa condição, o indivíduo é incapaz de interromper o uso compulsivo dessas substâncias potencialmente abusivas, como psicoestimulantes, álcool e drogas ilícitas, com “prejuízos cognitivos, afetivos e de personalidade, além de problemas legais, sociais, familiares e disfunções clinicamente significativas”, acrescenta.
Mais informações: Amanda Juliana Sales, e-mail: amanda.sales@usp.br
* Estagiária sob supervisão de Rita Stella
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.