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Há mais de 2 mil anos, o Império Romano marcou profundamente a história do mundo ocidental. E as decisões tomadas por seus cidadãos, mesmo séculos após seu fim, ainda são alvo de intenso estudo. Em vista disso, para especialistas da USP, entender os detalhes da cultura romana é um processo em constante evolução que impacta continuamente nossa visão do passado.
Celebrando mais de uma década de estudos, o Laboratório de Arqueologia Romana Provincial (LARP) do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP lançou o e-book gratuito 10 anos de LARP: trajetórias e perspectivas. O volume destaca a ampliação e aprofundamento do repertório temático, colaborações nacionais e internacionais, e a abertura de novas frentes investigativas. Os capítulos, assinados por diversos pesquisadores da área, traçam o percurso do laboratório e exploram temas como paisagem, urbanismo, humanidades digitais, numismática, educação e cerâmica, proporcionando uma visão abrangente das contribuições do LARP à arqueologia romana.
A arqueologia romana provincial, como explica a professora Maria Isabel D’Agostino Fleming, uma das coautoras da obra juntamente com o professor e atual coordenador do LARC Vagner Porto, “está vinculada às regiões e áreas ocupadas por Roma dentro de seu domínio, especialmente a partir do século 3 da República Romana em diante, intensificando-se durante o Império Romano”.
De acordo com ela, os estudos registrados na obra abordam desde os Banhos Herodianos na Palestina até a simulação da identidade militar romana, refletindo a diversidade de temas explorados pelo laboratório. O trabalho não apenas oferece insights para estudiosos, mas também destaca o compromisso educativo do LARP ao longo desses dez anos.
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Pesquisa e Extensão no LARP
O LARP teve início há mais de uma década, quando a professora coordenou um grupo de pesquisa do CNPq. Seu objetivo era fortalecer a área de arqueologia romana no museu, dado que, na época, ela era a única pesquisadora do Mediterrâneo que se dedicava a essa temática. O LARP foi, portanto, concebido como uma extensão desse grupo de pesquisa, com a intenção de proporcionar continuidade aos estudos sobre o assunto após a aposentadoria da professora.
Ao longo dos anos, o laboratório desenvolveu uma abordagem abrangente, explorando temas como imperialismo romano, exército, alteridade, identidade, discurso religioso, política e urbanismo “Esses temas foram fundamentais para orientar as pesquisas e consolidar a trajetória do LARP. O processo de formação do laboratório foi marcado por submissões sucessivas de projetos à Fapesp, culminando em mais de oito anos de aprovações”, conta ela.
Além das pesquisas, nestes últimos dez anos, o grupo também se destacou por sua atuação na divulgação científica e educação. E a professora Fleming ressalta a importância de transmitir as descobertas de forma acessível ao público não especializado, incluindo estudantes de diferentes níveis.
Ela explica que, para atingir o público jovem, “o laboratório desenvolveu uma série de aplicativos e jogos de realidade virtual e aumentada, explorando temas como a vida em uma casa romana e a cidade de Herculano”, cujo nome estava ligado à figura mítica de Hércules, semideus filho de Zeus (ou Júpiter, na mitologia romana).
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Lançado em 2018, o jogo O Último Banquete em Herculano oferece uma experiência imersiva, permitindo aos jogadores explorar diversos aspectos do mundo romano enquanto participam da história de um escravo encarregado de preparar um banquete. “Esse aplicativo foi inclusive aceito por Secretarias Estaduais e Municipais de Ensino e Educação. Ele faz parte de currículos escolares”, comemora a docente.
Para o professor Vagner Porto, conforme registrado em um dos primeiros capítulos do e-book, os estudos do LARP “causarão impacto no conhecimento dos jovens estudantes brasileiros” através de livros, jogos, sites e outros produtos tecnológicos, que são desenvolvidos a partir das atividades do laboratório.
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“Nossa intenção última é promover no cenário educacional brasileiro reflexões mais aprofundadas sobre a história e arqueologia de Roma e suas províncias, desconstruindo as tradicionais leituras eurocêntricas que por ventura ainda persistam em nossa academia, ao mesmo tempo em que pretendemos promover uma reflexão descolonizadora sobre o mundo romano antigo e suas consequências para a posteridade”, escreve Porto.
Por fim, a professora Flemming expressa sua satisfação ao ver o LARP florescer. Para ela, o livro recém-lançado “não é apenas uma celebração retrospectiva, mas também uma contribuição valiosa para a compreensão crítica do mundo romano e suas implicações contemporâneas”.
O e-book 10 anos de LARP: trajetórias e perspectivas é fruto do apoio financeiro da Fapesp, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP e da Comissão Científica. A obra pode ser baixada gratuitamente neste link.