Retorno controlado de satélite europeu após 28 anos traz muitas informações

Rachel Albrecht comenta sobre o satélite ERS-2 que caiu no Oceano Pacífico, na última quarta-feira, depois de missão que contribuiu para análise de fenômenos climáticos terrestres

 23/02/2024 - Publicado há 2 meses
Satélite recolheu dados importantes sobre as calotas polares, oceanos e superficies terrestres do planeta – Foto: SpaceX/Pexels
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O satélite ERS-2, da Agência Espacial Europeia, completou sua reentrada atmosférica e caiu na Terra sobre o Oceano Pacífico Norte, entre o Alaska e o Havaí. Rachel Albrecht, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), detalha o processo de retorno e as contribuições do satélite de 2.294 kg, que foi lançado em 1995 e recolheu dados valiosos sobre as calotas polares, oceanos e superfícies terrestres do planeta.

Rachel Albrecht, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP

Missão

Segundo a professora, o satélite foi desenhado originalmente para realizar uma missão de apenas três anos, mas, devido ao seu sucesso operacional, atuou por mais de 15 anos desde o seu lançamento no ano de 1995. Ela conta que a maioria dos satélites, quando não ocorrem falhas de comunicação, conseguem fazer um retorno seguro e controlado à Terra.

De acordo com Rachel, a Agência Espacial Europeia iniciou o processo de descomissionamento do objeto em 2011, quando ele estava em uma órbita 800 quilômetros acima da Terra. Nessa altura, o satélite poderia demorar mais de cem anos para retornar, por isso o sistema foi baixado para uma órbita de 573 quilômetros, onde a atmosfera é mais densa e acelera a decadência orbital.

“Nesse processo eles também esvaziam as baterias e os sistemas pressurizados para torná-los mais seguros, porque se ele tivesse ainda a bateria ou ficasse pressurizado, conforme ele vai descendo, poderia se quebrar em pedaços menores. Portanto, não se teria controle sobre onde esses pedaços cairiam, o que poderia prejudicar outros satélites que estão ativos em órbita”, conta.

Contribuições

Conforme a especialista, o ERS-2 foi lançado quatro anos após o seu ‘satélite irmão’, o ERS-1, que operou por pouco tempo e, devido a falhas técnicas, precisou ser substituído pelo seu sucessor. Ela explica que o ERS-2 era dotado de um radar de imagem de abertura sintética, usado para reconstrução tridimensional da superfície da Terra, além de um radar altímetro para medir a altitude da superfície e do nível do mar.

“Ele possuía também sensores de ventos, temperatura e eventos na superfície dos oceanos, então recolheu dados valiosos sobre a superfície terrestre, atmosfera, calotas polares e camada de ozônio. Então ele contribuiu para o monitoramento de várias catástrofes naturais, como inundações e terremotos”, explica.

Importância dos satélites

De acordo com Rachel Albrecht, os satélites são extremamente importantes para o monitoramento do globo terrestre porque conseguem cobrir uma extensão territorial maior que a dos sensores convencionais instalados na superfície. Ela informa que os satélites meteorológicos são de livre acesso e podem ter seus dados utilizados por especialistas do mundo inteiro através da internet ou por antenas de recepção, como era mais comum há décadas atrás.

A docente explica que, sem essas ferramentas, não seria possível ter a qualidade das previsões meteorológicas dos dias atuais. Ela conta que os especialistas reúnem dados de satélites de agências espaciais de todo o mundo para produzir informações precisas e seguras acerca do clima e de fenômenos meteorológicos.

“Hoje em dia é feita uma organização para nunca haver falta desses dados; sempre tem um satélite de reserva já na linha para ser lançado caso algum dê problema. Eles são muito utilizados no Hemisfério Sul, onde existem mais oceanos do que continentes e fica muito mais difícil ter observações da superfície da Terra com sensores convencionais”, finaliza.

*Sob a supervisão de Marcia Avanza


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