Relatório do Cepal projeta baixo crescimento econômico para a América Latina em 2024

Ao comentar relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, Simão Silber destaca que o baixo crescimento da região tem muito a ver com o desempenho econômico da China

 21/02/2024 - Publicado há 2 meses
A expansão econômica da China deu sobrevida a todos os países exportadores de commodities – Foto: Antonio Costa/ Fotos Públicas
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A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) estimou que a América Latina crescerá 1,9% em 2024 e o baixo crescimento pode ser agravado pelos efeitos negativos dos choques climáticos; já o Banco Mundial projeta que o crescimento econômico da região em 2024 será de 2,3%. Simão Silber, professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Conselho Curador da Fundação de Pesquisas Econômicas (FIPE), explica o baixo crescimento e projeta a economia brasileira para o ano de 2024.

Contexto Histórico

Segundo o especialista, com o fim da Segunda Guerra Mundial, os países da América Latina tiveram um crescimento econômico acima da média mundial, o que perdurou até a década de 1980, quando essa evolução se tornou mais modesta. A baixa produtividade e baixo investimento, além da diminuição da formação educacional especializada, são alguns dos responsáveis por essa atenuação do crescimento.

Simão Silber – Foto: Reprodunção

De acordo com Silber, o problema foi agravado porque a taxa de investimento caiu após o término do processo de substituição da importação. Em contrapartida, ele afirma que a expansão econômica da China deu sobrevida a todos os países exportadores de commodities, já que a potência asiática é pobre em recursos naturais e precisa comprar matéria-prima do exterior para suprir as necessidades industriais.

“Isso inflacionou o crescimento até a época do primeiro mandato do presidente Lula, em que o crescimento era reflexo das exportações de commodities, mas a China mudou seu modelo e passou a ter um crescimento menor, que influenciou na exportação dos outros países. Com isso, caiu o aumento dos países da América Latina e o Brasil, que é o maior exportador da região, sentiu muito e passou a ter esse crescimento pífio, que gira em torno de 2% ao ano”, conta.

Problemas

Conforme o docente, um dos principais problemas que impede o maior desenvolvimento econômico do País é a deficiência em investimento em infraestrutura, a qual encarece o processo de exportação de commodities. Ele conta que os Andes dificultam a saída de produtos pelo Oceano Pacífico, mas, mesmo apenas utilizando o Atlântico, a exportação para a Europa e América do Norte poderia ser maior se não fossem essas limitações estruturais.

Para o professor, a organização da economia brasileira é outro fator determinante, pois ela ainda possui muitas falhas, como o alto número de oligopólios. “Tem toda uma série de ingredientes que explicam porque o Brasil tem um crescimento da renda per capita da ordem de 1% ao ano a partir dos anos 80. O que significa que um brasileiro, para dobrar o seu poder aquisitivo, demora 70 anos, ou seja, duas gerações”, explica.

Projeções

Segundo Simão Silber, o quadro da economia brasileira para 2024 tem poucas chances de evolução, mas observa uma grande oportunidade no acordo Mercosul-União Europeia, que abre um grande mercado comercial para os países latino-americanos. Ele conta que o trato está praticamente selado e depende apenas de pequenos trâmites burocráticos entre as autoridades dos blocos econômicos.

“Vamos ter que abrir nossa economia para a concorrência dos produtos europeus; acho que pode ser um grande choque de realidade, competitividade e acesso ao mercado. Eu acho que essa é a grande oportunidade. Tirando isso, não tem uma outra perspectiva em aberto”, finaliza.


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