Quando o feitiço vira contra o feiticeiro

Para Marília Fiorillo, a aventura russa em terras ucranianas, patrocinada por Vladimir Putin, apenas fez ressuscitar e ressurgir das cinzas uma organização que estava entregue às moscas e em estado falimentar: a Otan

 20/05/2022 - Publicado há 2 anos

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“O presidente Putin acrescentou uma nota paradoxal ao seu currículo.” Com essas palavras, a professora Marília Fiorillo inicia sua coluna desta semana. Mas qual seria essa nota paradoxal à qual ela se refere? Resposta: “Agora ele é Putin, o patrono da Otan. Sim, porque a Otan estava às moscas na gestão Trump, sem dinheiro, praticamente ignorada pelos seus Estados membros, à míngua. Foi Putin que ressuscitou a Otan, tirando-a do ostracismo, quando decidiu ocupar a Ucrânia”, que até então, segundo a colunista, andava “meio de lado” e  ameaçada até mesmo de entrar em “estado falimentar”. Com a invasão da Ucrânia e a ameaça de o mesmo acontecer a outros países da União Europeia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte voltou a recuperar suas forças e ganhou um novo vigor, sob o patrocínio  de seus integrantes.

Do que se conclui que “a brutal aventura de Putin tirou a Otan de uma condição pré-coma e tornou-a o interlocutor dos interlocutores do chamado Ocidente. Para arrematar, agora Finlândia e Suécia, países que eram neutros, anunciaram sua intenção de participar da organização […] o feitiço virou contra o feiticeiro”. De todo modo, os dois países citados acima enfrentam agora a oposição do presidente da Turquia, país membro da aliança desde 1952, três anos após a sua fundação. Para Marília, porém, não se deve considerar a hesitação do presidente turco um não peremptório, “é apenas uma tentativa de barganha, pois o que ele realmente quer é um certo arranjo que lhe permita continuar a perseguir os curdos  e extraditá-los”. O governo turco também está insatisfeito com uma antiga suspensão, pela Suécia, de envio de armas para a Turquia em 2019, assim também como está descontente com algumas posições adotadas pelo governo dos EUA, acusado de apoiar os curdos clandestinamente.

“Mas esses detalhes”, prossegue Marília, “são apenas uma oportunidade colocada à mesa, muito mais reclamações que verdadeiras objeções e provavelmente se acomodarão. Sendo tradicionalmente fiel à Otan, não será a Turquia quem impedirá a expansão da aliança e muito menos a adesão da Finlândia e da Suécia. A semimorta Otan de três anos atrás ressurgiu como uma fênix, poderosa e revigorada, graças, quem diria, às brutais ameaças do padrinho Putin, que queria exatamente o contrário”.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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