“Para cada habitante da cidade, na faixa de 7 a 14 anos, a média é de meio livro”  

Martin Grossmann comenta as diferenças culturais em São Paulo e afirma que as eleições demonstraram que a periferia virou centralidade

 02/12/2020 - Publicado há 3 anos
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Martin Grossmann apresenta em sua coluna  Na Cultura, o Centro Está em Toda Parte, na Rádio USP (clique e ouça o player acima), uma análise cultural da cidade de São Paulo. “No último domingo, teve o segundo turno das eleições, dando a vitória ao atual prefeito Bruno Covas, do PSDB. Mas vamos tentar entender o que está em jogo antes das eleições e nos próximos quatro anos.”

Grossmann lembra que a cidade, formada por 39 municípios, é a mais populosa do País e uma das maiores do mundo. “A cidade tem 12 milhões de habitantes, mas a grande São Paulo possui um total de 22 milhões de habitantes. Cosmopolita, representa a diversidade da população brasileira, abrigando habitantes de todas as partes do Brasil, bem como moradores cuja origem remonta a 196 países diferentes. Isso é um dado bem interessante.”

O colunista explica, no entanto, que apenas aproximadamente 13 mil índios, “os originários dessa terra”, vivem na cidade. “Apesar de diminuto, esse registro torna São Paulo o quarto município com maior população absoluta de índios no Brasil, que representa 0,4% da população do País, num total de aproximadamente 800 mil indígenas.

Grossmann, em um rápido balanço, destaca também: “A população negra desse município representa 37,1% do total de habitantes, lembrando que esse índice no Brasil é de 56,10%. As mulheres são em São Paulo 52,6%. Como sabemos, essa cidade é responsável por 30% de toda produção científica nacional, e isso em grande parte se deve à presença da USP e somente 2,2% dos professores dessa nossa universidade se autodeclaram pretos ou pardos”.

A desigualdade é patente na cidade. Grossmann observa que a população em situação de rua cresceu mais de 50% desde 2015 e é formada por mais de 24 mil pessoas. “A proporção de óbitos de crianças menores para mil crianças nascidas também tem grandes contrastes. Vai de 24,6%, no extremo sul da cidade, até 1,1%, em Perdizes”, lamenta.

Outro dado trágico é na cultura. “Os principais equipamentos culturais da cidade estão em áreas nobres ou no centro da cidade. No tocante a livros, a proporção de livros infantojuvenis em acervos e bibliotecas municipais para cada habitante na faixa de 7 a 14  anos é na média de meio livro. O índice é ainda pior quando pensamos na população adulta, de 0,2%.”

As eleições deste segundo turno na cidade, com os votos de mais 40% da população, demonstram, na análise de Grossmann, que a periferia virou centralidade. “A periferia é, sim, hoje, uma prioridade para qualquer política de governo e também algo prioritário no dia a dia da cidade. Aí a cultura é essencial, uma vez que as demandas, os desejos e as expectativas culturais dessa grande população de São Paulo são muito diferentes daquela que vive em sua centralidade.”


Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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