O preço do azeite de oliva parece não abaixar nunca. Com a alta no insumo, é normal que os consumidores brasileiros busquem alternativas mais em conta e uma delas é o óleo de amendoim, extraído da planta Arachis hypogaea, leguminosa nativa da América do Sul e muitíssimo popular em bares, estádios e restaurantes por todo o País. Afinal de contas, quem não gosta de petiscar um amendoinzinho? O produto é tão parte da nossa cultura que existe até um projeto de lei para tornar 13 de setembro o Dia Nacional do Amendoim (PL 4475/2023).
Exportação paulista e importação chinesa
O Brasil produz 747 mil toneladas de amendoim por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). Cerca de 90% dessa produção vêm do Estado de São Paulo, com destaque para as cidades de Tupã (13,6%), Marília (12,7%) e Jaboticabal (12,2%).
Dessa produção, são extraídas 87 mil toneladas de óleo e 60% desse total é exportado, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Nosso principal comprador é a China. Segundo o professor Simão Davi Silber, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, a relação comercial entre o Brasil e a China é explicada por fatores históricos:
“O setor agropecuário e mineral [brasileiro] é um setor que desde os primórdios, depois da Segunda Guerra Mundial particularmente, esteve muito focado no mercado internacional, porque a escala é tão grande que, para o mercado interno, não tem demanda”.
Já na China ocorre o oposto: muitos recursos humanos, demanda e mercado consumidor, mas a região possui complicações geográficas:
“A China é muito pobre em recursos naturais, está cheia de desertos e grandes altitudes por causa do Himalaia. Portanto, não tinha condição de alimentar uma população que abandonou o campo e que hoje são mais de 500 milhões de pessoas que vivem nas cidades. Depende de quê? Da importação”.
Silber conta que o grande sucesso da produção de insumos agrícolas, entre eles o amendoim, se deu por incentivo estatal: “Uma iniciativa governamental que foi muito bem-sucedida foi a criação da Embrapa. A Embrapa mandou engenheiros agrônomos para estudar no exterior, aprender a fazer pesquisa de novas variedades [de produtos agrícolas]. E isso, juntando com capacidade empresarial, juntando com ampliação do mercado, transformou o Brasil num dos grandes exportadores de commodities do mundo”.
Popular e nutritivo
O óleo de amendoim, além de importante para a balança comercial, também pode auxiliar nosso corpo a manter o equilíbrio. Segundo Juliana Gimenez Casagrande, nutricionista e doutora em Ciência dos Alimentos, a popularidade do amendoim já é um aspecto positivo do ponto de vista nutricional:
“O amendoim entra dentro de uma classificação de gosto muito popular. É muito comum as pessoas comerem amendoim, gostarem, porque ele cabe muito bem para eventos, reuniões… Ele tem essa conotação de petisco e isso, para nutrição, já é algo muito muito bom, porque a gente estuda muito a questão do relacionamento com o alimento e não simplesmente o que ele tem de vitamina e mineral,” explica Juliana.
Para além do valor afetivo, o amendoim (e o óleo extraído dele) é rico em vitamina E, relacionada ao rejuvenescimento celular e manutenção da saúde física e mental. Além disso, contém também antioxidantes como o resveratrol, que previne doenças como o Alzheimer, ao desintoxicar o corpo de moléculas nocivas.
O maior benefício do amendoim, segundo a doutora Juliana, é a presença das gorduras poli insaturadas, especialmente o Ômega 6: “Já tem diversos estudos comprovando boas atividades fisiológicas e metabólicas do Ômega 6, por exemplo, para sistema imunológico, parte estética, saúde cardiovascular e muitas outras”.
Bom para frituras
A doutora explica também que o óleo de amendoim possui um ponto de fumaça alto (232 ºC, segundo o Guia Michelin), o que o torna ideal para frituras: “O ponto de fumaça é o momento em que o óleo começa a degradar, que ele começa a oxidar e a formar toxinas. Uma delas é a acroleína, que já tem indícios de um possível poder cancerígeno”.
Portanto, quanto maior for o ponto, mais tempo o óleo pode fritar sem gerar toxinas. O extraído do amendoim é tão resistente quanto o de soja, o mais utilizado para esse fim, e bem mais resistente que o azeite de oliva. Contudo, a especialista explica que o amendoim é rico em gorduras e deve-se ter cuidado com o consumo das gorduras: “Lipídio (molécula da gordura) é calórico e, na comparação com os demais macronutrientes, o lipídio vai fornecer nove calorias por grama. Então, esse é o maior cuidado, de não ficar ali petiscando e achando que está tudo bem, porque isso no final do dia pode aumentar bastante o consumo calórico”.
O ideal, segundo Juliana Casagrande, é buscar o equilíbrio no consumo: “De repente variar com a oleaginosas, que são castanhas, nozes e harmonizam muito bem com amendoim. A ideia é ter variedade, essa é a grande construção de uma boa alimentação,.” conclui Juliana.
E você, já experimentou o óleo de amendoim?
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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