O uso de novas tecnologias traz novas responsabilidades

A opinião é do professor Glauco Arbix, que critica o comercial que utilizou a imagem recriada da Elis Regina a partir da inteligência artificial, especialmente quando não se tem um sistema regulatório adequado

 18/07/2023 - Publicado há 10 meses
O professor Glauco Arbix comenta em sua coluna desta semana como a inteligência artificial continua surpreendendo, em razão do comercial da Kombi com Elis Regina e a filha Maria Rita. Para Arbix, o comercial onde as duas aparecem cantando a música do Belchior provocou muito debate em toda parte e, segundo ele, debates justificados. “Todo mundo sabe que uma tecnologia nova traz novas responsabilidades e até mesmo uma nova competição entre as empresas que acabam fazendo coisas inesperadas. Ainda mais numa situação como a nossa, em que a gente não tem um sistema regulatório à altura exatamente das novas tecnologias.”  O professor defende que o que não se pode permitir  é “que esse tipo de atividade, que ainda é experimental, possa fazer mal para a sociedade. Mas podemos recriar os mortos? Replicar é legítimo? Ajuda a gente a se tornar mais humanos? É ético?”, questiona, acrescentando que são questões extremamente polêmicas.
O professor explica que o comercial trouxe o uso de novas tecnologias. Uma, especialmente, que é um sistema de machine learning chamado deep learning, que é aprendizagem profunda, consegue trabalhar imagens e recriá-las a partir de dados que estão disponíveis publicamente ou, às vezes, em arquivos pessoais, recriando de uma maneira muito fiel a vida das pessoas. “Então, qualquer pessoa pública está sujeita a isso. Não estou nem falando de alguém que pensa em fazer mal, um hacker que entra lá e põe uma pessoa no mundo completamente diferente dos valores daquela pessoa que já morreu”, diz Arbix, acrescentando que do ponto de vista psicológico, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas em várias universidades.
Do ponto de vista ético, o professor acredita que o comercial colocou Elis Regina numa situação que entra em choque com muitas coisas que ela defendeu quando era viva, embora destacando que ninguém pode dizer qual seria a posição dela hoje. Cita o exemplo do ator Robin Williams, que deixou no testamento uma série de diretrizes: “Ninguém vai poder me colocar ou colocar a minha imagem, minha voz em ambientes que atentam contra os valores que eu defendi quando estava vivo” explica, ressaltando que não houve esse tipo de precaução no caso da Elis Regina. “Mas, em todo caso, a família dela, os filhos arcaram com a responsabilidade.
Para Arbix, “o comercial não foi bacana. E ao mesmo tempo, eles sequer colocaram que a imagem de Elis Regina era uma recriação via computador, via inteligência artificial. Então, nós vamos, daqui pra frente, ter muitas situações que vão nos surpreender. Mas é bom a gente ficar bem preparado e ter a noção de problemas que são complicados, mas que têm solução, desde que a gente tenha bom senso e a cabeça no lugar”, finaliza.

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