Negacionismo histórico se impulsiona com as redes sociais

Gabriel Silva Ramos Zani pesquisa desde 2017 a atividade de comunidades negacionistas nas redes sociais 

 27/09/2023 - Publicado há 7 meses     Atualizado: 28/09/2023 as 15:52
Manifestações estudantis contra a ditadura civil-militar e a figura Jair Bolsonaro que ficou conhecida pelos discursos negacionistas – Fotomontagem: Jornal da USP – Imagens: Correio da Manhã em Arquivo Nacional/Domínio Público via Wikimedia Commons e Valter Campanato/Agência Brasil/Arquivo

 

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O negacionismo histórico acerca do regime militar nas redes sociais é o objeto de estudo da pesquisa do professor Gabriel Silva Ramos Zani, do Departamento de História e mestrando no Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A pesquisa visa, principalmente, à identificação das bases intelectuais das comunidades virtuais negacionistas, assim como a compreensão acerca do “modus operandi” negacionista nas mídias sociais e as suas respectivas estratégias utilizadas na disputa de narrativas sobre o passado brasileiro. 

Para uma melhora nesse cenário, o professor acredita no fortalecimento das ciências – humanas, sociais, exatas, biológicas – na busca por informação e democratização da metodologia de ciência histórica. Zani explica que o projeto se iniciou por meio de uma página de divulgação de conhecimentos históricos no Facebook, em 2017. Após uma publicação sobre a ditadura militar no Brasil, houve uma série de comentários negacionistas dos usuários. “Comecei a me interessar mais sobre esse tema a partir do momento que eu comecei buscar entender porque aqueles usuários pensavam daquela maneira”, declara o pesquisador. 

Pesquisa 

Gabriel Silva Ramos Zani – Foto: Arquivo Pessoal

O aspecto principal abordado na pesquisa trata do papel das redes sociais nesse fenômeno negacionista direcionado ao período militar. De acordo com o professor, o advento das redes propicia a formação de comunidades virtuais que, consequentemente, promovem a criação de uma identidade para o conjunto. No caso das comunidades negacionistas, Zani afirma que as identidades se estabelecem de forma muito forte, isto é, “aquilo que é falado lá dentro é tomado como máxima verdade e quem se opõe é tido como inimigo”. 

“Em uma visão de como se fosse uma guerra, as redes sociais viraram um campo de batalha e essas comunidades virtuais negacionistas tomaram as redes sociais como se fossem uma propriedade privada deles”, analisa o pesquisador. Nesse cenário, apesar da questão da vigilância nas redes sociais ser vista por esses grupos como algo prejudicial para eles próprios, na prática, esses indivíduos negacionistas exercem uma fiscalização intensa nos conteúdos contrários às suas verdades, de acordo com Zani. 

Assim, para barrar qualquer usuário que discorde ou apresente uma visão diferente daquela defendida pela comunidade, há uma “rota de vigilância” essencial para o seu “modus operandi”. “A forma como os grupos se relacionam, se organizam e o porquê eles fazem isso está começando ser estudado mais agora”, afirma o pesquisador. 

Algoritmos 

Mesmo não ocupando um ponto central na pesquisa, Zani comenta que a lógica dos algoritmos – recomendar conteúdos baseados em suas escolhas em redes como Youtube e Facebook – influencia e, por vezes, favorece a disseminação de informações falsas. “Está sendo algo extremamente perigoso para a democracia brasileira e para o conhecimento. Além do negacionismo da ciência, que também é muito perigoso. Então, essa parte tem que ser muito avaliada, principalmente por aqueles que trabalham com essa área da tecnologia da comunicação, uma vez que tem sido uma coisa que parece estar sem controle”, reflete. 


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