Ainda repercute na mídia o caso da jogadora de vôlei de praia, Carol Solberg, que se manifestou contra o governo Bolsonaro ao final de uma entrevista para uma emissora de televisão e acabou sendo denunciada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O que se pergunta, nesse caso específico, é se atletas podem ou não se manifestar politicamente? O professor Renato Janine lembra que, há cerca de dois anos, dois jogadores fizeram um gesto, indicando o número 17, em favor de Bolsonaro, e nada de mais grave, ao que se sabe, aconteceu com eles, ainda que o País vivesse uma campanha eleitoral. Para Janine, no caso da jogadora, tratou-se muito mais de uma manifestação de ordem civilizatória do que exclusivamente política.
Diz o colunista: “Nós estamos tendo uma suspensão de uma boa parte da Constituição. O artigo quarto da Constituição, que regula como devem ser as relações exteriores do Brasil, está sendo totalmente descumprido”. Janine cita alguns exemplos para atestar sua afirmação e acrescenta que, “nesse sentido, nós temos hoje uma causa que vai muito além da política, uma causa da defesa da Constituição, que diz o que deve ser a educação, o que deve ser a cultura, o que deve ser o meio ambiente, e esses princípios estão sendo sistematicamente desrespeitados”. Para Janine, “não se trata de uma pauta direita versus esquerda ou de uma pauta partido tal versus partido qual, ou de uma pauta eleitoral, trata-se de uma questão da civilização, dos valores que a civilização construiu e que são extremamente nobres”. São valores, no mais, que pertencem a todos nós.
Ele diz ainda que, assim como qualquer outro cidadão, um esportista deve ter direito de se expressar, especialmente sobre questões de interesse geral. A discussão de valores que são positivos para o País – e que estão em risco devido a políticas que contradizem diretamente a Constituição – é um dever das pessoas que têm compromisso com a civilização e que pensam no futuro.