Blog

O CEP, sigla de Código de Endereçamento Postal, é um dos principais padrões de localização utilizados na cidade. Nas áreas rurais, sua presença ainda é escassa, mas cada vez mais empresas e programas de governo investem no avanço do mapeamento dessas regiões.

“Com o processo de digitalização da agricultura, cada vez mais isso tem acontecido no campo. Novas tecnologias estão vindo para dar suporte não só na questão produtiva, mas também a outras relacionadas à cidadania”, comenta o pesquisador Rodrigo Maule, do Grupo de Pesquisa de Políticas Públicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP. Ele ainda acrescenta que a questão da localização não envolve apenas as propriedades, mas também as produções e pontos como rastreabilidade, referenciamento: “Essa tecnologia de localização, associada com a digitalização do campo, vai permitir que a gente possa ter todos esses passos”.

Políticas Públicas

O programa Rotas Rurais, promovido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo, tem como objetivo fazer o endereçamento das propriedades rurais e trazer diversos benefícios, como explica Maule: “Quando essas propriedades não têm esse endereço, isso acaba trazendo vários problemas. Um deles é, por exemplo, para a saúde conseguir localizar aquela propriedade e chegar com rapidez. A partir do momento que se tem esse CEP, eles conseguem atender com mais agilidade. Isso envolve também a questão da segurança: quando você tem alguma ocorrência no campo, a polícia tem essa localização, o que facilita muito a rota. Além disso, ainda traz uma série de benefícios em relação à logística para o transporte rural de alunos: todos esses quesitos vão trazer bastantes benefícios para o campo”.

O alcance do programa foi grande e abrangeu grande parte do Estado, conforme Maule: “Eu diria que ele foi bastante ousado, procurou cobrir todo o território estadual. Então, hoje já têm 645 municípios mapeados, com cerca de 287 mil propriedades rurais com esse CEP e, além do endereço, eles conseguiram mapear estradas que não estavam registradas e cadastradas. Isso também facilita muito a logística: foram mais de 55 mil quilômetros cadastrados dentro desse programa”. 

Mecanismo

“É uma localização simples, mas o que você precisa ter é um padrão e isso passa a ser o CEP daquela propriedade. Não é uma tecnologia complicada, é até relativamente simples, mas são muitos dados, então precisa ser bem organizada”, explica o pesquisador. “Por isso, ela deveria estar sendo mais utilizada em outros governos estaduais”, complementa.

Um ponto importante é, além do aumento da produtividade por meio da melhor logística, a possibilidade de conhecer a origem dos produtos: “Por exemplo, hoje, a gente tem várias questões relacionadas à exportação de produtos produzidos em áreas de desmatamento. A partir do momento que você não trabalha com essa localização, você não consegue fazer essa identificação e acaba colocando tudo no mesmo patamar, então, você não consegue diferenciar essas produções. Mas quando você tem essa localização, isso sim vai permitir essa rastreabilidade”, exemplifica Maule.

Outra questão é a conectividade no campo, que abre espaço para muitas outras oportunidades como turismo, geração de renda, e até para a maior presença de jovens nessa região: “O Brasil tem uma área muito grande e a gente tem uma falta de conectividade, então isso é uma outra frente que está sendo bastante olhada. Isso vai permitir que a gente consiga fixar mais o homem no campo, o jovem no campo. Ainda tem muito essa questão da saída do campo porque lá ele não consegue ter acesso a essas tecnologias, benefícios, que existem na cidade. No momento em que a gente disponibilizar, ter essas questões resolvidas no rural, isso vai aumentar a fixação do homem lá”, diz o pesquisador.