Eleição de candidato pró-democracia em Taiwan aumenta tensão entre EUA e China

Segundo Pedro Costa Júnior, vitória do candidato Lai Ching-te em Taiwan, do Partido Democrático Progressista, já era esperada pelo governo chinês, que não admite, porém, ajuda militar e econômica àquele país

 06/02/2024 - Publicado há 3 meses
A grande discussão dentro dos Estados Unidos, desde o final da Guerra Fria, foi sobre o século 21 ser o segundo século americano, mas a China foi uma pedra no caminho
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A eleição de Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (PDP), em Taiwan, causou preocupações no cenário político global. Durante as eleições, o governo de Xi Jinping intimidou Taiwan, através do seu exército e do aumento de tarifas aos produtos da ilha, sinalizando que poderia impor sanções mais amplas caso a vitória do candidato pró-democracia se concretizasse.

A tensão aumenta, principalmente entre o governo chinês e os Estados Unidos, que apoiam Taiwan e teriam que responder a um possível ataque da China. Nesse sentido, o professor Pedro Costa Júnior, de Relações Internacionais, cientista político e doutorando na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo, comenta sobre as tensões na região.

Resultado das eleições

Segundo o professor, a eleição do candidato que vai contra os interesses chineses em Taiwan estava prevista pelo governo de Pequim. “A grande questão são as provocações diplomáticas e as questões de ajuda militar e financeira por parte dos Estados Unidos, ou outros países aliados, a Taiwan. Isso pode deixar as coisas fora do controle e aí nós teríamos o ponto mais sensível e definitivo para o começo daquilo que seria uma Terceira Guerra Mundial”, comenta.

Pedro Donizete da Costa Júnior – Foto: Arquivo Pessoal

O especialista ainda explica que a China é, historicamente, um país pacífico, que não inicia guerras, e que, portanto, costuma ter planos de ascensão pacífica e de longo prazo — como é o caso de Taiwan. “A posição do Partido Comunista Chinês, neste momento, é de aumentar a pressão, mas sem conflito. Ela quer construir uma nova arquitetura política e financeira no sistema internacional”, aponta.

Apesar disso, Júnior comenta que a China, para defender seus interesses vitais, estaria disposta a entrar em guerra nas regiões de Taiwan e do Mar do Sul da China. “Ela só responderia à invasão de outro inimigo, ou outro inimigo instigando os interesses chineses na região, o que é exatamente o que está acontecendo agora”, explica.

Contexto histórico

Ainda durante a Guerra Fria, com o rompimento de relações entre China e Rússia, o governo dos Estados Unidos se reaproximou do país comunista comandado por Mao Tsé-Tung, reconhecendo Taiwan como um território chinês. “O raciocínio é o seguinte: se nós abrirmos duas frentes de batalha nesse momento, contra a União Soviética e contra a China, nós vamos perder a Guerra Fria, nós temos que trazer a China para o nosso lado e, naquele momento, eles passam a reconhecer Taiwan como território da China”, explica o docente.

Contudo, Júnior comenta que, desde a Revolução de Deng Xiaoping — nos anos 1970 —, e principalmente após o fim da Guerra Fria e início de ameaças chinesas para a hegemonia dos Estados Unidos — entre os anos 1990 e 2000 —, esse reconhecimento não se reflete na prática. O país americano começa a fomentar a independência de Taiwan, com fornecimento de armamentos, relações diplomáticas e visitas de líderes entre os países, o que cria uma sensibilidade política na região.

“O século 20 foi incontestavelmente o século dos Estados Unidos, da hegemonia estadunidense. A grande discussão dentro dos Estados Unidos, desde o final da Guerra Fria, foi sobre o século 21 ser o segundo século americano, mas a China foi uma pedra no caminho, e ela entra definitivamente nessa disputa pelo poder global desde os anos 1970”, complementa o pesquisador.


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