“Quanto mais a gente acompanha as mídias sociais, mais assustado a gente fica diante da enxurrada de desinformação, da polarização e do volume de textos, falas e imagens agressivas, que tornam cada vez mais difícil, para a democracia, respirar e mesmo sobreviver”, diz Glauco Arbix na abertura de sua coluna para a Rádio USP. A origem desse discurso tóxico estaria nas regras genéricas que governam as mídias digitais ou nas próprias plataformas que atuam sem limites? Ou, talvez, na própria inteligência artificial, que redige textos, cria imagens, vídeos e seria responsável por inundar as plataformas com fake news?
Ele admite não haver respostas simples para essas perguntas, “mas muitas vezes pessoas, inclusive bem informadas, de forma apressada, apontam o dedo para a tecnologia, indicando que esta seria a grande responsável pela corrosão e ruína do debate público que ameaça fraudar a vontade popular nas eleições”. Não é o que indicam as pesquisas e aqui Arbix cita uma série de estudos que analisou 500 milhões de mensagens enviadas nas últimas três décadas, para tentar entender o comportamento inadequado na internet, definido como um comentário grosseiro, desrespeitoso e não razoável, que leva a pessoa a deixar a discussão.
“Pois bem, as conclusões da pesquisa não foram boas, pelo menos para os humanos. O comportamento tóxico está muito mais ligado aos humanos do que às plataformas, do que a regulação, do que as mídias digitais e do que as tecnologias, para não dizer a inteligência artificial. A pesquisa mostrou que, apesar das mudanças de normas ao longo de 30 anos de alterações nas plataformas, mudanças e tecnologias, vários comportamentos humanos persistem, inclusive os mais tóxicos”, argumenta Arbix. “Isso significa que as atitudes tóxicas surgem das discussões on-line, não importam as mudanças que são introduzidas nas plataformas. O estudo mostrou também que é a polarização de opiniões que leva ao aumento da hostilidade, e não o contrário, e que essa polarização estimula o aumento da participação nas plataformas.”
Do ponto de vista prático, segundo ele, as conclusões da pesquisa ajudam a melhorar o monitoramento e a moderação das mídias digitais, “mas é bom lembrar que não há bala de prata para governar o ódio e as agressões, nós sempre teremos pela frente zonas de sombra ou diferentes tipos de plataforma que podem abrigar diferentes visões sobre como monitorar ou inibir o comportamento tóxico, por razões políticas, por exemplo.
Por isso mesmo, a pesquisa sugere uma agenda de estudos sobre o comportamento tóxico, que está longe de ser uma exclusividade das plataformas, pelo contrário, se manifesta praticamente em todas as dimensões da vida social e, com certeza, existe muito antes das mídias digitais terem sido imaginadas”.
Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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