As plantas são inteligentes?

Por Carlos Takeshi Hotta, professor do Instituto de Química da USP

 Publicado: 27/03/2024

A inteligência das plantas, ou a sua ausência, é um assunto que surge frequentemente em discussões entre especialistas e não especialistas. Entre não especialistas, livros de divulgação científica propagam de forma eloquente as fantásticas habilidades desses seres de perceber e reagir aos desafios que encontram em sua vida, nos fazendo acreditar que as plantas são certamente inteligentes. Um dos problemas é que muitas vezes esses livros usam pesquisas não tão confiáveis assim. Entre especialistas, o tema é assunto de inúmeros artigos científicos que enumeram argumentos e contra-argumentos, sem contar as calorosas discussões em congressos científicos, tanto durante as sessões quanto nos bares ao redor.

Para resolver a questão sobre a inteligência das plantas, devemos começar pelo consenso: todos concordamos que plantas são seres extraordinários, muito mais fascinantes do que a sua aparente imobilidade nos faz acreditar. Por exemplo: plantas estão constantemente otimizando a colheita da luz e a mineração de nutrientes do solo. Plantas sabem as horas do dia, e usam esta informação para antecipar o amanhecer, o anoitecer e a passagem das estações. Plantas têm memória, sendo capazes de mudar a forma como respondem a um sinal por causa de sinais anteriores. Uma planta é até capaz de se comunicar com outras plantas e até outros animais, emitindo sinais gasosos quando são atacadas por herbívoros ou parasitas.

As plantas, portanto, são capazes de gerar e perceber múltiplos sinais e reagir de forma complexa a eles. Também são capazes de adaptar o seu funcionamento em resposta a desafios, sempre em busca de crescer mais e melhor.

Para os defensores da inteligência das plantas, isto é o suficiente. Segundo eles, a vantagem de se reconhecer plantas como seres inteligentes seria a sua valorização aos olhos de não especialistas. Para os críticos, plantas não possuem habilidades como a resolução de problemas novos, criatividade e pensamento abstrato.

Pessoalmente, para se considerar plantas inteligentes, seria necessário usar uma definição muito ampla de inteligência, uma que deixaria de ser útil, uma vez que incluiria quase todos os organismos do planeta.

A questão da inteligência das plantas é mais importante do que uma curiosidade científica. Estamos em uma era na qual algoritmos computacionais estão se tornando cada vez mais sofisticados. Novas inteligências artificiais são capazes de simular a inteligência, nos fazendo até acreditar que são criativas. Mas será que essas IAs podem ser consideradas inteligentes? Será que são mais inteligentes do que as plantas? Ou melhor: será que um dia serão inteligentes? Quando este dia chegar, seremos capazes de perceber?

Talvez a resposta passe por uma redefinição conceitual de inteligência, onde diversos graus sejam considerados. Assim, plantas e IA estariam alguns graus de inteligência acima de uma pedra, mas alguns abaixo de seres humanos. A provocação que surge é: será que humanos estarão sempre no seu grau mais alto?

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