Cisternas no Semiárido brasileiro provocam impactos positivos em bebês recém-nascidos

A pesquisa mostrou que a cada semana em que a gestante esteve em contato com a cisterna, o bebê ganhou dois gramas de peso. No final da gestação, o bebê estava com, aproximadamente, 80 gramas a mais

 06/10/2023 - Publicado há 7 meses
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A Organização Mundial da Saúde considera o acesso à água como um direito humano essencial – Foto: Pixabay
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Cisternas instaladas na região do Semiárido brasileiro provocam impactos positivos na saúde de bebês, segundo uma pesquisa realizada pela Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que analisou dados de 5 mil gestantes que tiveram acesso ao dispositivo entre os anos de 2011 e 2017.

O estudo analisou o Programa Cisternas, uma iniciativa do governo federal que busca promover o acesso de populações carentes à água para consumo próprio e produção agropecuária. O projeto foi implementado efetivamente em 2003 e atualmente abrange o Semiárido – região que se estende pelos Estados do Nordeste e Norte de Minas Gerais – e possui instalações na Amazônia. 

Recentemente, o Estado divulgou a retomada do programa e anunciou que será realizado um investimento de R$ 562 milhões. O programa, segundo o edital divulgado pelo governo, sofreu grande redução de sua capacidade: entre 2020 e 2022, cerca de 18.500 cisternas foram entregues, enquanto em 2014, foram entregues mais de 149 mil cisternas. 

O Programa Cisternas 

Flavia Mori – Foto: LinkedIn

Flavia Mori, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, explica que o projeto nasce sob pressão da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) – uma rede formada por organizações de diversas naturezas, como ONGs e igrejas – e defende a abordagem da convivência com semiárido em lugar da abordagem de combate à seca. 

“A abordagem de combate à seca vai ser baseada numa visão de que a gente tem que combater a seca tentando modificar o ambiente com grandes obras de maneira geral, e que coloca a seca como algo inevitável. A abordagem de convivência com a seca vai dizer que o ambiente é uma inspiração para soluções que sejam implementadas pelas comunidades para tentar se manter operantes durante todo o período do ano, independentemente do nível de chuvas que ocorre ou não”, pontua Flavia. 

Dessa forma, o Programa Cisternas é inspirado nessa abordagem de convivência com o Semiárido e funciona através da implementação de cisternas – grandes reservatórios de água – direcionadas para uso familiar e coletivo de indivíduos de baixa renda atingidos pela seca, ou que sofrem com a falta regular de água. 

Vantagens do programa 

A pesquisa mostrou que, a cada semana em que a gestante esteve em contato com a cisterna, o bebê ganhou dois gramas de peso. No final da gestação, o bebê estava com, aproximadamente, 80 gramas a mais. Isso pode ser explicado, dentre outros fatores, porque as gestantes, além de terem acesso à água constante, realizam menos esforços para obtê-la.

“Em muitos casos, o homem que vai trabalhar, e mulheres e crianças que ficam responsáveis pelo domicílio passam a ser responsáveis também por obter a água, muitas vezes a distâncias enormes em relação à casa, o que faz com que essas mulheres e crianças tenham que percorrer distâncias enormes para conseguir essa água”, explica Flavia. 

Assim, as gestantes, que já estão fragilizadas pela falta de acesso à água, ficam ainda mais vulneráveis por gastarem uma energia enorme para a obtenção desse recurso. Existem alguns estudos que atestam o perigo de realizar grandes esforços físicos durante a gestação e como isso pode afetar o bebê. Dessa forma, com a instalação das cisternas, as mulheres não precisam realizar grandes esforços para conseguir água de qualidade. 

Acesso à água 

A Organização Mundial da Saúde (ONU) considera o acesso à água como um direito humano essencial, fundamental, universal e indispensável para a vida humana. Dirce Marchioni, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, expõe os perigos de privar gestantes e bebês do acesso à água. 

Dirce Marchioni – Foto: Divulgação/FSP USP

“A água é fundamental para a vida humana, consumo, higienização, preparo de alimentos, higienização de utensílios, entre outras necessidades, e deve ser acessível a todas as pessoas, pois esse recurso é essencial para a vida. Gestantes e bebês são um grupo vulnerável da população, com consequências potencialmente enganosas, se esse acesso for negado.” Além disso, ao consumir água contaminada, mulheres gestantes e bebês podem desenvolver uma série de doenças que podem afetar a gestação, o crescimento intrauterino do feto e impedir seu desenvolvimento saudável. 

O Programa Cisternas, como pontua Dirce, é um exemplo exitoso de como uma tecnologia, desenvolvida em um contexto de necessidade de convivência com a seca, conseguiu ganhar escala federal e ser incorporado na vida de milhares de pessoas que habitam áreas de recorrente escassez hídrica no País, além de afetar positivamente a saúde de bebês e de mulheres gestantes.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo


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