Bienal Internacional de Arte conta com equipe diversificada

Intitulada “Coreografias do Impossível”, trata-se de uma proposta heterogênea, plástica, política, dinâmica, sensual até, que pretende oferecer ao público outras narrativas, avalia Martin Grossmann

 19/09/2023 - Publicado há 7 meses
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Nesta sua 35ª edição, a Bienal traz a presença recorde de artistas do sul global, com 80% dos 121 artistas expostos não sendo brancos. Em grande parte, isso é resultado de outro fato que merece destaque. A curadoria é compartilhada por uma equipe diversificada: a artista e ativista portuguesa Grada Kilomba, a curadora brasileira Diane Lima e o antropólogo e pesquisador de arte brasileiro Hélio Menezes, todos afrodescendentes. Foge a esse padrão o quarto curador: historiador da arte e gestor cultural espanhol Manuel Borja-Villel, que até janeiro deste ano foi, por 15 anos, diretor do Museu Reina Sofía, o museu nacional de arte moderna e contemporânea da Espanha. 

A mostra, toda realizada no interior desse edifício de 30 mil metros quadrados projetado por Oscar Niemeyer, é intitulada de Coreografias do Impossível.  Trata-se de uma proposta heterogênea, plástica, política, dinâmica, sensual até, que pretende oferecer ao público outras narrativas, outros imaginários, outros referenciais para a arte dos séculos 20 e 21. Investindo em estratégias decoloniais, a mostra minimiza a hegemonia e a universalidade da cultura ocidental, eurocêntrica, expondo assim obras resultantes não só do mainstream da arte contemporânea e moderna, mas principalmente advindas de outros saberes, de manifestações “periféricas”, como também aquelas que são frutos diretos das tradições de culturas originárias, como as indígenas, ou aquelas produzidas pela diáspora africana nas Américas.  Mas o sul global também está representado, em sua diversidade geopolítica e cultural, por artistas provenientes do mundo árabe e do continente asiático.

Entre os destaques, o título Coreografias do ImpossívelImpossível poderia ser tudo e o todo, talvez. O inefável, a impossibilidade, o invisível, que quase sempre conceitua a arte, o imperceptível, o não-conhecido, o indomável, ou quiçá aquilo que ainda não foi catalogado, numerado, digitalizado, a dúvida ou o indeterminado, o que não se controla, aquilo que foge à norma, que não se dobra ao possível e ao verdadeiro, o impossível como poética. Já a coreografia é certamente o elemento indutor e referencial para a dinâmica, o movimento, a maleabilidade, a mutação, a melodia, o ritmo. Também opera como elemento aglutinador, organizador, o elo, a notação ou a partitura, o fio condutor…                                                                                                                                                                                                                                               Uma coreografia geralmente precisa de um contexto, de um espaço,  para que a performance aconteça, o que transforma esse espaço em ambiência, conceituação já explorada anteriormente nesta coluna. Raros são os exemplos que extrapolam essa condição, sendo um deles o Parangolé de Oiticica, que é coreografia e impossibilidade integrada. Uma singularidade. No entanto, esse não é o caso desta Bienal, que, como já disse, acontece integralmente no interior do edifício modernista projetado por Oscar Niemeyer. A ambiência, neste caso e em grande parte, é conduzida pela expografia, pela arquitetura idealizada para operar no interior desse espaço arquitetônico já estabelecido. Ou seja, o destaque aqui é a coreografia pautada pela arquitetura expográfica, que organiza a circulação e o ordenamento, como também pontua a interação entre as obras expostas, bem como com o público. Recomendo.


Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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