Água é fundamental para a vida, inclusive na alimentação

“A insegurança hídrica tem estreita relação com a insegurança alimentar, ou seja, há uma parcela expressiva da população brasileira que tem fome e sede simultaneamente“, diz Pedro Jacobi

 25/03/2024 - Publicado há 1 mês
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A água está intrinsecamente ligada aos sistemas agroalimentares, já que a produção de alimentos depende de uma boa quantidade de irrigação – Foto: feraugustodesign via Pixabay – Foto: feraugustodesign via Pixabay

 

 

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Dia 22 de março é comemorado o Dia Mundial da Água e foi estabelecido pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1993. Porém, a relação desse líquido com a vida humana vai além da simples ingestão e passa também pela produção de alimentos.

Crise hídrica

Cada lugar possui um índice pluviométrico diferente, isto é, o volume da chuva varia de acordo com diversos fatores que incluem, além do geográfico, a presença ou não de vegetação natural, impacto da ação humana, tratamento das águas, entre outros. Quando se pensa na intervenção do ser humano, outra palavra recorrente é a escassez hídrica. “A partir do desmatamento nos biomas, dos processos de degradação dos solos, da poluição atmosférica e das águas, todas condições comprometem as bacias hidrográficas fundamentais para o consumo humano, ampliando os danos à saúde”, explica Pedro Jacobi, professor titular sênior do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente.

O poder público também tem responsabilidade nesse impacto: a má qualidade das águas dos rios por falta de tratamento de esgoto doméstico e ocupação em áreas de  mananciais, falta de planejamento para a construção de novos reservatórios, falta de investimentos para a redução de perdas e falta de coordenação institucional são alguns pontos elencados pelo professor. 

Água e alimentação

A água está intrinsecamente ligada aos sistemas agroalimentares, já que a produção de alimentos depende de uma boa quantidade de irrigação e até mesmo da água em si para os demais processos. No Brasil, Jacobi comenta que, como a maior parte das terras agrícolas é irrigada sazonalmente, dependendo das chuvas, situações de escassez hídrica decorrentes das mudanças climáticas são cada vez mais preocupantes.

Pedro Roberto Jacobi – Foto: IEA/USP

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor agropecuário foi responsável por 97,4% do consumo total de água no Brasil em 2017. “O setor agropecuário busca constantemente pela alta produtividade, que promove a expansão das lavouras como as de soja e milho e dos espaços destinados à pecuária, demandando a expansão da fronteira agrícola para regiões como a Amazônia e o Cerrado”, diz o professor. A consequência disso é o desmatamento e as queimadas florestais, que não comprometem apenas a região, mas também muitos outros locais que dependem da formação de chuvas. 

Os reflexos desses problemas atingem tanto a quantidade quanto a qualidade das águas, o que, em cadeia, afeta diretamente a produção de alimentos, com consequências para as populações vulneráveis socialmente. “Os agricultores familiares são os mais duramente afetados, com a queda da qualidade das pastagens e da produção agrícola, gerando endividamento que dificulta desenvolver os próximos plantios”, explica Jacobi. 

Sede e fome

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6 da ONU pretende “garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos”. A água é um direito universal reconhecido pela ONU, mas ele não é cumprido integralmente. “Existe um dado para o qual não podemos deixar de olhar: a insegurança hídrica tem estreita relação com a insegurança alimentar, ou seja, há uma parcela expressiva da população brasileira que tem fome e sede simultaneamente, de acordo com relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar“, ressalta o professor.

Para tentar controlar a situação, Jacobi diz que o Brasil precisará ampliar os estoques de alimentos e privilegiar culturas mais resistentes a secas, por causa das mudanças climáticas, além de difundir o nexo água, energia e alimentação, já que a água é um eixo estruturador. “A partir daí, entende-se que a governança e gestão da água devem ser integradas aos demais setores pelo seu papel fundamental para a produção de alimentos e garantidor de energia devido à importância da hidroeletricidade no País.”

*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo


Boletim Alimentação e Sustentabilidade

Parceria: Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, Rádio USP e Jornal da USP 
Produção: Professor Ricardo Abramovay, Estela Sanseverino e Nadine Marques
Coprodução: Cinderela Caldeira, Guilherme Castro Sousa, Julia Estanislau e Alessandra Ueno
Edição: Rádio USP
Você pode sintonizar a Rádio USP SP 93,7 MHz e Ribeirão Preto 107,9 MHz, pela internet em www.jornal.usp.br ou nos principais agregadores de podcast
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