A guerra do futuro

De acordo com Luli Radfahrer, essa guerra é diferente porque tem mais tecnologia do que todas as outras e uma tecnologia mais barata

 13/10/2023 - Publicado há 7 meses     Atualizado: 17/10/2023 as 13:14
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Há quem diga que a guerra da Ucrânia é uma volta às guerras de trincheiras, outros defendem que ela é a guerra do futuro, opinião compartilhada por Luli Radfahrer. “Na verdade, ela chocou muita gente, porque a gente já imaginava, desde as operações dos Estados Unidos no Oriente Médio, a gente imaginava […]  o que acontece é que a Rússia avançou para cima da Ucrânia, achando que era um país pequeno, só que todo o Ocidente resolveu apoiar a Ucrânia, e de repente você passa a ter uma guerra em que as potências têm uma igualdade de força mais próxima, quer dizer, a Europa toda apoia a Ucrânia, mas tem medo da Rússia, então não dá avião caça supersônico. Do outro lado, a Rússia achava que ia ser fácil e não vai bem preparada para a luta, então a gente está vendo o que é uma guerra real, quer dizer, uma guerra entre dois  países que – se não são equivalentes – as forças militares são muito próximas.

Essa guerra é diferente, primeiro porque tem mais tecnologia do que todas as outras e a tecnologia mais barata; imagina que uma comunicação entre trincheiras em 1914 era quase impossível, em 1939, 1940, GPS não existia, né? Hoje a gente tem coisas tipo um drone que é descartável. Quer dizer, um drone que é tão barato, você enfia uma bomba nele, manda o drone para cima e o drone explode junto.

Você tem um monte de tecnologia caseira que o sujeito consegue fazer muito simples. Você consegue transformar o seu telefone numa bomba e outras coisas do gênero. Mas é claro que tem também um monte de novas tecnologias que não estão ligadas a armamento e essas devem ter um impacto muito mais bacana do que um míssil ou do que uma bala ou do que uma granada.

Estamos falando essencialmente de quatro coisas: primeira delas, obviamente, todo mundo fala da guerra de informação,  mídia social, polarização, a história toda de ser uma operação especial, não ser uma guerra. Toda aquela coisa de tentar mobilizar a opinião pública […] agora, as duas novidades maiores mesmo são a internet por satélite, que não precisa de cabo, que aqui no Brasil a gente usa em áreas muito remotas, mas sempre foi uma coisa muito cara, muito difícil.

A guerra é muito usada para a popularização de novas tecnologias […] hoje em dia você está mudando para um regime pós-democrático, em que a ciência de dados é cada vez mais importante para tomar decisões sociais, decisões de governo, e o que a gente vê nessas mudanças todas, no poder da informação na guerra – a gente sempre falou muito de informação em guerra, como espionagem, mas era uma coisa pontual. Agora que a gente vê que a informação é uma das maiores informações bélicas, a gente está vendo a importância que isso tem na sociedade e a gente está migrando para formas de administração pública que são mais baseadas em conhecimento do problema do que em execução de uma teoria ou de uma técnica que você conhece, o que tende a gerar soluções urbanas muito melhores para todo mundo. Então, guerra é uma coisa que ninguém quer, mas às vezes o subproduto da guerra – porque ele forçou uma evolução dos dois lados – acaba gerando coisas muito benéficas.


Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.

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