Mosaicos Culturais #13: A morte trágica passa despercebida em meio ao ritmo frenético da cidade em Construção de Chico Buarque

Ouvintes da Rádio USP podem acompanhar versos de crítica social como “seus olhos embotados de cimento e lágrima”, que ecoavam nos fones de ouvido de Amaral, estudante de jornalismo na USP

Por
 Publicado: 02/05/2024
Mosaicos Culturais - USP
Mosaicos Culturais - USP
Mosaicos Culturais #13: A morte trágica passa despercebida em meio ao ritmo frenético da cidade em Construção de Chico Buarque
/

A genialidade de Chico Buarque reside na maestria com que ele entrelaça crítica social e poesia. A morte do trabalhador, banalizada pelo ritmo acelerado da cidade, serve como metáfora para a desumanização e a invisibilidade dos mais marginalizados na sociedade.

Capa do disco Construção de Chico Buarque. 1971. Phonogram/Philips (até 1998)
Universal Music (a partir de 1999). Foto: Divulgação

O álbum do cantor e compositor Chico Buarque estreou junto com a música em 1971. Construção se tornou um marco da música popular brasileira, eternizando-se como a segunda melhor canção nacional, segundo enquete realizada em 2001 do jornal Folha de S. Paulo, atrás apenas de Águas de Março de Tom Jobim. A revista Rolling Stone a consagrou como a “maior canção brasileira de todos os tempos”.

“… Morreu na contramão atrapalhando o sábado / o tráfego / e o público”

A letra foi composta em versos dodecassílabos, alternando sempre e terminando numa rima proparoxítona. A complexa estrutura poética se contrapõe à simplicidade dos acordes com extasiantes arranjos do maestro Rogério Duprat no uso destacado de uma orquestra sinfônica sublinhando a melodia com crescente intensidade, seguindo uma lógica de repetição à medida que se sucedem as imagens da história acentuando a impotência e a dor diante da tragédia.

A narrativa, circular, retrata o cotidiano de um trabalhador da construção civil morto – de maneira trivial – no exercício de sua profissão criando um efeito hipnótico que intensifica a carga dramática da canção.

O Brasil estava em plena era da ditadura militar (1964-1985) sob o comando do General Emílio Garrastazu Médici. Embora Chico Buarque tenha negado a intenção de fazer uma música de protesto, Construção se tornou um hino de resistência contra a opressão e a indiferença. A canção transcende o tempo e o espaço, ecoando como um lamento pela vida ceifada e um chamado à reflexão sobre a fragilidade da existência humana.

O grupo MPB-4 participa do coro musical. Após o último verso do terceiro bloco, surge uma reprise com três estrofes de Deus lhe pague, canção que abre o disco Construção. Gravado no Estúdio Phonogram, teve direção de produção e de estúdio de Roberto Menescal. Os técnicos de gravação foram Toninho e Mazola, e a direção musical de Magro.

Enquanto ouvia Construção, Amaral, estudante de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP, participou da enquete do programa Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem, da Rádio USP. Amaral nos disse que Construção é a cara de São Paulo, a cidade do trabalho.

Ouça o podcast no link acima.

Os estudantes da USP podem participar de Mosaicos Culturais. Basta gravar um áudio respondendo à pergunta “O que você está ouvindo?” e enviá-lo para a Rádio USP (WhatsApp [11] 97281-5789).

Este podcast reproduz o programa Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem, transmitido nos dias 1 e 2 de maio de 2024. O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 11h e às 16h, pela Rádio USP (93,7 MHz, em São Paulo, e 107,9 MHz, em Ribeirão Preto), inclusive via internet, através do site da emissora. O programa também é publicado em formato de podcast no site do Jornal da USP.

As edições anteriores de Mosaicos Culturais – Ouça o Que os Estudantes Ouvem estão disponíveis neste link.

 

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.