Projeto Estação Biologia mostra que a ciência pode ser lúdica e divertida
Programa de extensão universitária liderado por alunos do Instituto de Biociências da USP recebe há mais de 30 anos visitas de escolas e aproxima os conhecimentos da área à realidade dos estudantes
Estudantes em atividades do projeto Estação Biologia - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Entre serpentes, bichos-pau, plantas e pequenas réplicas de fósseis, o Instituto de Biociências (IB) da USP promove há 36 anos o projeto de extensão universitária Estação Biologia. A ideia do projeto é oferecer um espaço de educação não formal na Universidade que aborde conceitos e temas vinculados à biologia de uma maneira criativa e lúdica.
Desde o início, a Estação Biologia busca atender não só escolas mas também outros grupos de interesse nesse tema, como professores e escoteiros, que podem ser multiplicadores dos conhecimentos sobre biologia. No último dia 9 de abril, por exemplo, o projeto recebeu alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Técnica Estadual ETEC Prof. André Bogasian, do município de Osasco. Eles participaram de duas atividades oferecidas no projeto: o DNA das Frutas e as Trilhas da Biodiversidade.
Na primeira, os alunos realizam experimentos com uma fruta, como o morango, e trabalham a separação do DNA dos outros componentes da célula vegetal. Os monitores constroem nesse processo o conhecimento sobre genética e propriedades das moléculas que compõem as frutas. Já nas Trilhas da Biodiversidade, os estudantes participam do Jogo das Garças e têm um primeiro contato com os temas seleção natural e evolução. Divididos em grupos, eles fazem um rodízio entre estações que abordam diferentes aspectos da evolução por meio da seleção natural, como camuflagem e convergência, por exemplo.
A Estação conta com um conjunto de dez outras propostas oferecidas conforme o público, a faixa etária e a demanda de cada visita. Conversa com Pesquisadores, Educação Sexual, Teatro dos Abelhudos e Insetos sociais são alguns exemplos de atividades oferecidas pelo projeto. A da educação sexual é uma das mais procuradas pelas escolas com turmas do 9º ano e ensino médio, por ser um tema complexo, que consegue ser tratado de uma forma didática e que desconstrói tabus diante dos assuntos abordados.
“No projeto sempre reformulamos as atividades e avaliamos se a forma de aplicação é eficiente. Também procuramos outros meios para tornar as visitas e atividades mais didáticas e próximas da realidade dos estudantes”, destaca Luciana Jamile, graduanda do IB e integrante da Estação Biologia, conhecida pelo nome Avatar — um dos apelidos dados aos estudantes de Biologia da USP.
A Estação Biologia tem mais de 30 anos de atividades, recebendo visitantes para aprender sobre ciência e biologia no Instituto de Biociências da USP - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Na visita do dia 9 de abril, por exemplo, o projeto tratou do espaço da Universidade, formas de ingresso e o que é a Estação Biologia nesse contexto, já que o público era de estudantes do ensino médio. “Esse tema é mais recente e surgiu porque sentimos que era preciso algo próximo deles, como o ingresso na Universidade, para quebrar o gelo”, conta Pedro Henrique de Souza, chamado Berry no instituto. “Muitos alunos vêm aqui não só pela biologia e pela Estação, mas também com esse interesse de conhecer a Universidade.”
O espaço da Estação Biologia foi pensado para propiciar a construção do conhecimento de uma maneira não tradicional e interativa - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Espaço de educação e acolhimento
A sala que o projeto ocupa no campus da USP em São Paulo é a mesma desde sua criação, mas a estrutura passou por mudanças. Se antes era organizada em forma de auditório, hoje procura incorporar no próprio espaço os ideais de apresentar e ensinar a biologia de um modo divertido e interessante. Na parede, por exemplo, há a ilustração de uma árvore da vida que foi produzida por uma das integrantes do projeto com elementos como pequenos fósseis, um viveiro de bichos-pau, cobras conservadas em vidro, vasinhos de suculentas e uma série de ilustrações de corpo humano, plantas e animais. As áreas externas também são usadas no projeto, como o Jardim da Biologia, onde é realizada parte da atividade Trilhas da Biodiversidade e os alunos têm contato com as vegetações.
Cerca de 60 alunos monitores se dividem entre os dias de funcionamento do projeto e ao longo das visitas da semana, sendo que cada visita é acompanhada em média por 20 membros da Estação. Entre os monitores há voluntários e alguns bolsistas, não necessariamente estudantes de biologia, e o projeto recebe anualmente novos membros. As bolsas são relacionadas ao Programa Unificado de Bolsas (PUB) da Pró-Reitoria de Graduação (PRG) e ao próprio IB. A coordenação é da professora do IB Alessandra Bizerra, que lida com as questões burocráticas da extensão e atua como facilitadora dentro do instituto, sempre respeitando a autonomia dos alunos dentro do projeto.
Ao final da atividade Extração de DNA, os alunos podem observar a separação do DNA e outros elementos celulares do restante das partes do morango após ser amassado e usado no experimento - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Os alunos acompanham cada uma das estações das Trilhas da Biodiversidade e por meio da observação e perguntas vão construindo conhecimentos variados, de genética a evolução - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A única exigência para participar do projeto é estar interessado e querer participar das dinâmicas do projeto, independente de curso ou tempo de graduação. Essas demandas vão além da presença nas visitas, uma vez que existe todo um processo de preparação desses momentos em que o grupo da Estação estuda o público e as atividades que serão realizadas. Depois de cada visita, o grupo de monitores também se reúne e conversa sobre os encontros e possíveis melhorias e mudanças que podem ser feitas.
Souza, por exemplo, conta que mesmo não fazendo mais parte do projeto continua participando de algumas atividades e mantendo contato com o grupo. “Agora em 2024, iniciei estudos da licenciatura e ter feito parte da EB antes dessa parte da minha formação foi muito bom, eu me sinto muito mais disponível para lidar com os alunos e mais próximo ao mundo da educação mesmo”, explica. “Aqui é uma ótima porta de entrada para os licenciandos, além de ter esse enriquecimento profissional. A Estação é um lugar muito acolhedor, que possibilita fazer novas amizades e interagir com alunos de outros anos e cursos”.
Alunos da ETEC Prof. André Bogasian, de Osasco, com monitores do projeto Estação Biologia - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
“Participar da Estação Biologia ajudou muito com minha comunicação”, ressalta Avatar. A monitora conta que é um processo de troca mútua e contínua entre os integrantes da Estação e os alunos visitantes, que são diversos e fazem cada visita ser uma experiência diferente, que ensina algo novo. “Realmente, a Estação abre horizontes, faz a gente sair da bolha que é estar dentro da USP e faz a gente conhecer estudantes de fora e com realidades variadas.”
Ela ainda comenta que a Estação é um espaço que colabora com a formação dos alunos de uma maneira ampla, onde os estudantes reconhecem a importância da educação não formal na própria formação. “Eles desenvolvem essa responsabilidade de ser um tipo de representação institucional, de representar a USP, e tudo isso também traz um senso identitário mesmo, em relação ao Instituto e à Universidade.”
Monitores mostram aos alunos animais peçonhentos que são guardados em vidros com álcool e ensinam sobre como identificar cobras venenosas e estruturas do corpo desses animais - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Monitores estabelecem um vínculo com o espaço da Estação e sua manutenção - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Além das visitas
O projeto já participou do Edital Santander / USP / FUSP de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão com a proposta Atividades Lúdicas para o Ensino de Biologia, que consistiu em um conjunto de vídeos, infográficos e protocolos de atividades que estão disponíveis no site da Estação Biologia. Também fez parte do Encontro USP Escola, evento anual para formação de professores, da Feira das Profissões da USP e do projeto Bio na Rua, que promove atividades interativas sobre biologia em parques da cidade.
Suas redes sociais são a porta de entrada para novas pessoas e grupos conhecerem o projeto, e além disso foram espaço importante de divulgação científica durante o período da pandemia da covid-19.
O projeto também rendeu pesquisas que abordaram a prática pedagógica realizada pelos integrantes, sob orientação da professora Alessandra. Uma dessas pesquisas, por exemplo, deu origem ao artigo Estação Biologia (IB/USP): Indícios de uma Comunidade de Prática e ao mestrado O engajamento mútuo como elemento formativo de mediadores em espaços de educação não formal, ambos de Luana Biasutti, que foi aluna do IB e integrante da Estação Biologia.
Como participar
O projeto Estação Biologia recebe visitas de escolas públicas ou privadas, cursinhos populares, alunos de outras universidades e grupos gerais, como escoteiros.
O projeto funciona às segundas, terças e sextas, das 14 às 17 horas, e às quintas, das 9 às 12h; às quartas a Estação não recebe visitas.
As visitas têm cerca de 3 horas de duração, com intervalo de 15 a 30 minutos. Caso a visita precise ser mais reduzida, a escola visitante precisa informar quando fizer o agendamento. Além disso, caso a escola ou grupo queira alguma atividade específica ou fora da faixa etária sugerida, a instituição precisa entrar em contato com o projeto com ao menos 1 mês de antecedência para garantir o planejamento da visita.
Para escolas públicas, a visita é gratuita, já para instituições privadas é cobrada uma taxa de R$ 170,00.
Para o público de educação infantil e ensino fundamental I, a Estação recebe até 25 alunos por visita. Para o ensino fundamental II e ensino médio o número máximo de alunos por visita é 45. O número mínimo de visitantes é de 20 alunos por visita.
O agendamento é feito via formulário, disponibilizado semestralmente pelas redes sociais e pelo site da Estação. O do primeiro semestre de 2024 está disponível neste link.
O projeto fica localizado na Sala IV do Edifício Felix Kurt Rawitscher (Edifício Minas Gerais), na Rua do Matão, 277, no Instituto de Biociências, na Cidade Universitária, Bairro do Butantã, em São Paulo.
Para mais informações, acesse o site https://estacaobiologia.ib.usp.br/ e Instagram. Para entrar em contato, basta enviar e-mail para estacaobiologia@ib.usp.br.
* Estagiária sob supervisão de Thais Helena Santos e Claudia Costa
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