2023: o ano mais quente da história

O Brasil precisa tomar a liderança em coordenar diplomaticamente uma aliança de países em favor da proteção do meio ambiente, da sobrevivência humana e da saúde do planeta

 14/11/2023 - Publicado há 6 meses
Por

Logo da Rádio USP

Não há dúvida de que 2023 será o ano mais quente da história. Várias organizações internacionais importantes apontam nesse sentido. O aquecimento global é uma realidade insofismável. Não podemos mais negá-lo, como fazem algumas pessoas ou partidos políticos, é preciso admiti-lo e combatê-lo. Nós passamos a era geológica conhecida por Oligoceno para a era do Antropoceno.

A era do Oligoceno durou cerca de 11 mil anos e durante essa era geológica nasceu a civilização tal como nós a conhecemos hoje, floresceu a agricultura e ocorreram grandes conquistas tecnológicas. No Antropoceno, ao contrário, a temperatura não é estável como foi no Oligoceno, a temperatura tende a elevar-se em níveis sem precedentes devido à ação humana. Desde a revolução industrial, há uma sinonímia entre crescimento e desenvolvimento econômico. É justamente essa sinonímia que se encontra em crise a partir do relatório da ONU produzido pela comissão Brundtland, de 1987, que apregoa a existência do desenvolvimento sustentável, que não abdica do crescimento econômico, mas procura combinar crescimento econômico,  justiça social e equidade ambiental. Apesar de uma certa vagueza, a noção de desenvolvimento sustentável serve como uma bússola.

Nós percebemos hoje que as várias conferências realizadas até o momento para enfrentar o tema da mudança climática não foram bem-sucedidas. A conferência de 1992 produziu a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, com um acordo muito amplo, obrigações genéricas e que foi complementada pelo Protocolo de Kyoto 1997, que não produziu os resultados esperados e não envolvia os países em desenvolvimento. O acordo de Paris, de 2015, foi uma tentativa de permitir que os próprios Estados estabelecessem as suas próprias metas para a redução das emissões de gases estufa na atmosfera.

O que nós podemos hoje constatar é que mesmo o acordo de Paris não logrou os resultados esperados. É preciso, portanto, medidas urgentes, como atestam os últimos relatórios do IPCC, o painel intergovernamental sobre mudanças climáticas para a redução do aumento das temperaturas globais. Ondas de calor no Hemisfério Norte,  no Brasil – na Amazônia mais especificamente -,  eventos climáticos extremos,  chuvas torrenciais, a desertificação de certas áreas são constatações que não podem ser ignoradas e, nesse quadro, é preciso dizer que o aquecimento global representa um novo tipo de risco […] tem uma natureza de ameaçar a própria existência da humanidade, ele é tão grave quanto aquele que se pode observar com o desenvolvimento das armas nucleares.

Mas cabe ao Brasil um papel de liderança nesse processo, grande parte da floresta amazônica situa-se em território brasileiro, a maior diversidade ambiental do planeta encontra-se no Brasil, cabe ao Brasil, juntamente com outros países, sugerir e adotar medidas que possam conduzir a uma mudança dos rumos do desenvolvimento. Esta é uma oportunidade que o Brasil não pode perder […] é preciso que o Brasil mais uma vez tome a liderança em coordenar diplomaticamente uma aliança de países em favor à proteção do meio ambiente, da sobrevivência humana e da saúde do planeta.


Um Olhar sobre o Mundo
A coluna Um Olhar sobre o Mundo, com o professor Alberto Amaral, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.