Rádio USP presta homenagem à cantora brasileira do milênio Elza Soares

Programa especial fala da carreira e das dificuldades que teve em sua vida, e de como alcançou o sucesso

 21/01/2022 - Publicado há 2 anos
Montagem feita por Guilherme Castro/Jornal da USP com imagens de Flickr (Mídia Ninja e Andre Fossati)

Nesta última quinta-feira, dia 20 de janeiro, morreu Elza Soares. Eleita, em 1999, pela Rádio BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio, ela também está na lista das cem maiores vozes da música brasileira da revista Rolling Stone Brasil.

A Rádio USP preparou uma homenagem a Elza Soares, relembrando o começo de sua trajetória e as dificuldades que teve em sua vida. No programa, o radialista Cido Tavares conversa com o cantor e compositor Tom Zé e com o pesquisador e colunista da Rádio USP Omar Jubran. E destaca que, entre as muitas homenagens que recebeu em mais de sete décadas de trajetória, uma das mais importantes aconteceu em 2020, no último Carnaval, quando Elza Soares foi tema de sua escola de samba de coração, a Mocidade Independente de Padre Miguel.

Nascida em 23 de junho de 1930 no Rio de Janeiro, Elza Gomes da Conceição foi uma cantora e compositora brasileira, que teve uma vida bem difícil. Filha de uma lavadeira e de um operário, foi criada na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Passou por um casamento arranjado aos 12 anos, teve seu primeiro filho aos 13 e ficou viúva aos 21. Foi lavadeira, operária em uma fábrica de sabão e até faxineira para sustentar os filhos – teve oito no total, dos quais quatro morreram: dois deles recém-nascidos por desnutrição, outro de fome, e ainda Manoel Francisco, conhecido como Garrinchinha (do seu casamento com Garrincha), que morreu aos nove anos em um acidente de carro. Ainda teve que entregar um dos filhos para adoção e teve uma filha sequestrada com um ano de idade que só reencontrou adulta.

Elza Soares, a Rainha do Rádio – Foto: Andre Fossati/Flickr

Mas nem assim desistiu de seu sonho de cantar. Desde a infância compunha canções, e aos 23 anos decidiu se inscrever no concurso musical do programa Calouros em Desfile, apresentado pelo compositor Ary Barroso, na Rádio Tupi. É a própria Elza quem conta que só fez isso para ganhar o prêmio e poder cuidar de seu primeiro filho, Carlinhos (João Carlos Soares), que estava doente: “Havia um prêmio acumulado, acho que eram cinco contos de réis, que na época era muita grana”. E completa, dizendo que conseguiu: “Nunca me senti tão profissional, tão importante como naquele dia”. Ela cantou Lama, de Paulo Marques e Aylce Chaves, e foi então que Ary Barroso anunciou que, naquele exato momento, acabava de nascer uma estrela. Tom Zé também relembra, no programa, daquele dia. Ele conta que Ary Barroso perguntou a Elza Soares, de um jeito desaforado: “De onde você veio, minha filha?”, e ela respondeu, “eu vim do planeta fome”, e isso repercutiu em todos os lugares. Tom Zé ainda diz que desde criança via Elza como uma grande cantora, acompanhando sua carreira, cheia de títulos, um deles de a Rainha do Rádio. “Todos nós sentimos muito”, lamenta.

Ao longo de sua carreira, Elza Soares lançou 34 discos, aproximando-se do samba, do jazz, da música eletrônica, do hip hop e do funk e dizia que a mistura era proposital. Seu último disco Planeta Fome foi lançado em 2019. Para Jubran, produtor e apresentador do programa Olhar Brasileiro na Rádio USP, Elza era uma cantora versátil. “Até alguns anos atrás, a Elza Soares poderia ser considerada uma grande cantora de samba. Contudo, ao longo do tempo, ela, com seu enorme talento e versatilidade, mostrou como foi fácil transitar desse mesmo samba até a eletrônica”, afirma. “Apesar de todas as agruras pelas quais Elza Soares passou, sem a menor sombra de dúvida, seu nome não pode ser jamais esquecido pois ele representa um dos maiores que a nossa música de qualidade guardará em nossa galeria”, diz, citando ao final uma frase dita pela própria Elza: “A música é uma alternativa da dor”.

 

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