Mesmo recuperados, pacientes podem apresentar dores crônicas pela covid-19

De acordo com o neurologista Daniel Ciampi, “o paciente pode ter um quadro relativamente leve e ter um impacto pós-covid relativamente agressivo

 10/03/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 11/03/2021 as 19:00
Dentro de um grupo de 120 indivíduos com sequelas decorrentes da covid, 5% relataram dor de cabeça e 19% dor crônica – Imagem: Reprodução/ Pixabay
Logo da Rádio USP

Novos fatores se somam ao cenário de preocupações trazido pela covid-19: a permanência de sequelas e a piora de condições já existentes. Um exemplo vem de estudos do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) apontando que a covid-19 tem influência sobre quadros de dores crônicas, mesmo depois de superada pelo paciente infectado.

A dor crônica é aquela que persiste em indivíduos por mais de três meses durante a maioria dos dias. Dentre as dez doenças mais prevalentes no mundo, quatro são dores crônicas. No contexto de covid, este quadro se agravou: “Na prática clínica, começamos a ver muitos pacientes sobreviventes se queixando de muita dor de cabeça, dor no corpo, dores musculares e alguns casos persistindo por muito tempo”, afirma Daniel Ciampi, do Departamento de Neurologia e responsável pelo Ambulatório de Dor da Neurologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC), em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição.

A pesquisa, que teve participação de Campi, também mostrou que, dentro de um grupo de 120 indivíduos com sequelas decorrentes da covid, 5% relataram dor de cabeça e 19% dor crônica.

Apesar de o estudo também associar essa piora no quadro de doenças crônicas à internação em UTIs – onde o paciente está suscetível a um bloqueio neuromuscular, agente que pode causar miopatias, doenças musculares – o neurologista alerta que as dores pós-covid não aparecem só nos casos graves. “O paciente pode ter um quadro relativamente leve e ter um impacto pós-covid relativamente agressivo, isso é algo que está se mostrando na prática clínica”

Para ele, a pesquisa pode ser importante para o planejamento pós-pandemia, principalmente no sentido de “como lidar com os pacientes que são sobreviventes da covid e que saem com algum tipo de restrição e com algum impacto negativo na vida deles”. Porém, considerando que os dados da pesquisa apontam que pelo menos 20% dos pacientes recuperados apresentam quadros de doenças crônicas, o alerta recai sobre um sistema de saúde ainda mais sobrecarregado, agora com pacientes já recuperados, mas que ainda possuem sequelas.

Segundo o especialista, os próximos passos da pesquisa são buscar formas de tratar essas dores pós-covid, encontradas principalmente nos pés e nas mãos. “Pacientes têm um impacto muito grande na vida deles por causa dessa dor, dessas dores novas”, comenta.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.