Cirurgia metabólica traz novo enfoque e prioriza o tratamento integrado da obesidade 

Segundo Wilson Salgado Junior, estima-se que apenas 0,3% dos possíveis candidatos à cirurgia para controle das doenças associadas à obesidade sejam operados

 01/03/2024 - Publicado há 2 meses
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A nível mundial e no Brasil, a cirurgia metabólica está sendo realizada em pacientes com IMC entre 30 e 35 kg/m², dentre outros critérios – Foto: jcomp/Freepik
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O futuro indica que, cada vez mais, o tratamento cirúrgico da obesidade será focado nas doenças associadas a ela, principalmente o diabetes mellitus do tipo 2, a hipertensão arterial e a dislipidemia, doenças que compõem a síndrome metabólica. “Estamos migrando do conceito de cirurgia bariátrica para o de cirurgia metabólica e as portarias ministeriais, que disciplinam as cirurgias bariátrica e metabólica no Brasil, devem passar por modificações para uma abordagem mais unificada desses procedimentos”, afirma o professor Wilson Salgado Junior, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e especialista em cirurgia do aparelho digestivo.

Wilson Salgado Júnior – Foto: Currículo Lattes

O termo “bariátrica”, de origem grega, derivado de “baros” (peso e densidade) e “iatros” (tratamento, cuidado), tem sua história relacionada ao tratamento de casos graves de obesidade desde a década de 1960. A relevância da cirurgia bariátrica cresceu notavelmente a partir dos anos 1980.

Em 2013, o Ministério da Saúde estabeleceu regulamentações para a cirurgia bariátrica, determinando critérios como o Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 40 kg/m², ou IMC acima de 35 kg/m², quando associado a doenças vinculadas à obesidade. “A atenção para esse procedimento se voltou cada vez mais para as doenças relacionadas à obesidade.”

Segundo o professor, estudos indicam resultados mais eficazes a médio e longo prazo no controle dessas condições, mesmo em pacientes com IMC inferior a 35 kg/m², quando submetidos à cirurgia em comparação ao tratamento clínico. “A nível mundial e no Brasil, a cirurgia metabólica está sendo realizada em pacientes com IMC entre 30 e 35 kg/m², dentre outros critérios.” 

Prioridade

Apesar das diferenças conceituais, “as técnicas cirúrgicas, nas abordagens bariátrica e metabólica, são as mesmas”, de acordo com Salgado Junior.  “Diante da crescente demanda por essas cirurgias, a priorização será para pacientes com doenças associadas, mesmo com IMC inferior a 35. Os benefícios, como a remissão ou melhora de doenças associadas, indicam para o futuro uma integração mais estreita entre os cuidados cirúrgicos e o tratamento da obesidade”.

O professor destaca, ainda, melhorias pós-cirúrgicas em diversas condições, como colesterol e triglicérides elevados, esteatose hepática, apneia do sono, hipertensão intracraniana idiopática e infertilidade feminina. Além disso, ressalta,  “tratar a obesidade diminui o risco de diversos tipos de cânceres”. Mesmo com os benefícios, o professor alerta para os riscos dessas cirurgias, que exigem sacrifícios e colaboração por parte do paciente, não sendo isentas de complicações. A necessidade de acompanhamento ao longo da vida é crucial para otimizar os resultados obtidos.

Para o professor, os desafios enfrentados pelos serviços de saúde atualmente incluem o gerenciamento da fila de espera para esse tipo de cirurgia, especialmente em instituições públicas, em meio à crescente demanda, agravada pela pandemia de covid-19. O professor destaca a necessidade de um financiamento maior para ampliar o credenciamento de novos hospitais públicos e, dessa forma, viabilizar um número maior dessas cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Estima-se que apenas 0,3% dos possíveis candidatos à cirurgia são operados anualmente pelo SUS, o que demonstra a urgência dessa ampliação.


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