A mulher na ciência e na governança empresarial é pautada por lutas, desafios e conquistas

Evento traz reflexão sobre conciliar carreira científica e a maternidade e o olhar feminino na governança ambiental, social e corporativa

 08/03/2024 - Publicado há 2 meses
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Foto: krakenimages/Freepik

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O Brasil conta atualmente com a participação ativa de 48 milhões de mulheres na força de trabalho, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE em 2023. Embora esse número represente uma presença significativa em diversos setores, a inserção da mulher no cenário científico é de pouco mais de 30 mil, segundo a Open Box da Ciência.

Em todas as áreas os desafios para as mulheres são inúmeros, entre eles conciliar maternidade e carreira, o que não tem sido tarefa fácil, especialmente na academia. Na USP em Pirassununga, evento em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, algumas pesquisadoras e profissionais foram convidadas a refletirem sobre suas carreiras e o papel feminino na governança: A Sustentabilidade e a Ciência pelo Olhar Feminino. Algumas das convidadas adiantaram suas reflexões à Rádio USP Ribeirão.  

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Evento na USP em Pirassununga discute sustentabilidade e ciência pelo olhar feminino

A professora Fernanda Vanin da Faculdade de Zootecnica e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP é categórica ao afirmar que a maternidade tem efeitos impactantes na carreira. “Deixamos de participar de eventos, não assumimos tantos orientados e isso tem impacto, pois deixamos de ser consideradas produtivas quando comparadas com outros colegas, principalmente homens.”

Entender a dinâmica do processo de conciliar o papel de mãe e pesquisadora só foi possível nos primeiros meses da licença maternidade, conta a professora Ana Carolina S. Silva, do Departamento de Ciências Básicas da FZEA, outra convidada do evento. “Foi muito desafiador e a recompensa foi perceber que conseguia realizar as duas tarefas e que as expectativas criadas é que são erradas.” 

Instigadas a falar como as instituições científicas podem melhor apoiar as cientistas que são mães, as pesquisadoras foram unânimes em afirmar que as instituições precisam entender que as pesquisadoras com filhos pequenos não estão em pé de igualdade com seus pares e de alguma forma fomentar políticas que compensem essa desigualdade.

Fernanda lembra que as tarefas dos pesquisadores e pesquisadoras estão inseridas num quadripé: ensino, pesquisa, extensão e administração, e nesse cenário, as mulheres são substituídas durante a licença maternidade. “Mas essa substituição é só para 25% das suas atividades. Entretanto, mesmo durante a licença maternidade, a sua vida científica continua correndo, seus orientados e os projetos vigentes continuam com os mesmos prazos, por isso precisamos de algum mecanismo automático, que fizesse com que aquela profissional em licença tivesse certa dilação dos prazos ou um suplente também nessas atividades.” 

Olhar feminino em governança

Outra questão levantada para discussão sobre a mulher no mercado de trabalho foi seu papel na ESG (sigla em inglês para Governança Ambiental, Social e Corporativa). Nesse contexto a convidada Marina Piatto Garcia, diretora executiva da Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola traz reflexões sobre os processos de governança das empresas e instituições. 

Para Marina esses processos devem respeitar os recursos ambientais, os direitos humanos básicos e também todos os direitos trabalhistas, de saúde e segurança, de forma estruturante, transversal, integral e em todas as áreas. “As empresas devem usar de forma eficiente seus recursos, se preocupar com a qualidade de vida dos funcionários, cuidando do emocional e da sanidade de todos e se atentar às questões trabalhistas, que vão além da legislação e isso se integra no ESG de forma ampla e em todos os níveis hierárquicos. “Só de forma integrada, consistente e legítima entre todos os funcionários, de todos os níveis hierárquicos, é que a ESG vai ser realmente uma ferramenta de transformação e de impacto positivo para a sociedade.”

A desembargadora federal Consuelo Yatsuda M. Yoshida, também palestrante convidada,  comemora o fato de as mulheres se capacitarem cada vez mais profissionalmente, com isso conseguindo mais espaço nas organizações. “Ao mesmo tempo, as empresas são obrigadas a adotarem práticas mais sustentáveis e responsáveis, habilidades naturalmente peculiares entre as mulheres”, reflete.

Ao saudar o Dia Internacional das Mulheres, Consuelo ainda espera por mais na questão de equidade de gênero e equiparação salarial. “Só assim vamos conseguir um desenvolvimento social equilibrado.” 


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