Sanções econômicas contra a Rússia afetam também países que compram seus produtos

Paulo Borba Casella observa que se deve levar em conta que a Rússia é uma economia grande, uma fornecedora importante de gás e petróleo para o mundo

 25/02/2022 - Publicado há 2 anos
“Enquanto os tecnocratas decidem a guerra, são os soldados e os civis que correm risco de vida” – Foto: Flickr
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Kiev, a capital da Ucrânia, sofreu novos bombardeios da Rússia, que amplia sua ofensiva para tomar a cidade do país vizinho. Esse conflito tem uma série de implicações humanitárias, geopolíticas e econômicas que são explicadas, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, por Paulo Borba Casella, professor do Departamento de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP e coordenador do Grupo de Estudos sobre o Brics (Gebrics).

Na avaliação de Casella, o ataque russo é gratuito e desnecessário. “Enquanto os tecnocratas decidem a guerra, são os soldados e os civis que correm risco de vida”, afirma o professor. A rapidez da ofensiva russa também indica que esse confronto já estava sendo planejado.

Economia

Paulo Borba Casella – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Em retaliação, países como os Estados Unidos e membros da União Europeia impuseram uma série de sanções econômicas à Rússia. Segundo Casella, isso cria problemas para os russos, mas também para os países que compram seus produtos. “Temos de levar em conta que [a Rússia] é uma economia grande, uma fornecedora importante de gás e petróleo para o mundo.” Também há dúvidas de que essas sanções possam interromper o conflito.

O professor ressalta que o país já tinha sido alvo de sanções econômicas em 2014, quando anexou a Crimeia, outra região ucraniana. Desde então, desenvolveu a produção interna de produtos que antes eram importados. A Rússia de Putin se preparou cuidadosamente para esse conflito: diminuiu sua dependência em relação ao dólar, aumentou reservas em outras moedas, diversificou acordos de fornecimento de gás e petróleo e ampliou, por exemplo, sua parceria com a China”, afirma.

Brics

Além da importância econômica, a parceria com os chineses pode ter consequências em Taiwan, território reivindicado pelos chineses. Tanto China quanto Rússia compõem o Brics, bloco econômico formado também por Brasil, Índia e África do Sul. 

Casella lembra que discursos de alinhamento pelo direito internacional e fortalecimento das Nações Unidas eram comuns em reuniões do bloco. “Isso, a partir de agora, não pode mais ser falado da forma como era dito até aqui”, afirma o professor, ao comentar as violações cometidas pela Rússia.

 

Crise humanitária

 

A invasão russa levou muitos ucranianos a deixarem o país. Segundo cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 100 mil pessoas tiveram que procurar refúgios em cidades do exterior e países vizinhos como a Polônia. Essa situação pode agravar a questão migratória, que já é crítica na Europa. “O cidadão comum que paga a conta, sofre com o conflito, tem desabastecimento e falta de suprimentos básicos”, explica Casella. 

Em algumas regiões ao leste da Ucrânia, parte da população é composta de russos étnicos que são favoráveis à invasão. Na Rússia, mais de 1,5 mil pessoas foram presas em protestos contrários à invasão. 

Casella afirma que há o risco dessa se tornar uma conflagração generalizada. “Depois que se desencadeia um conflito armado contra um país de 45 milhões de habitantes, você não tem controle do que pode acontecer.”

 


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