Invasão da Ucrânia é consequência da constante relativização dos crimes de Putin

Marília Fiorillo diz que o presidente russo “é um homem acostumado com a impunidade”

 25/02/2022 - Publicado há 2 anos

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Na coluna Conflito e Diálogo desta semana, Marília Fiorillo, que leciona Filosofia Política e Retórica na Escola de Comunicações e Artes da USP, comenta como a complacência da comunidade internacional com os constantes crimes de Putin viabilizou a invasão à Ucrânia. 

A professora ilustra: “Foi o apoio da Rússia e seus bombardeios contra a população síria que garantiram a vitória do ditador Bashar al-Assad”, acontecimento no ano 2000 cujas consequências reverberam até os dias atuais, “e a comunidade internacional se calou. Idem quando os chechenos ocuparam um teatro em Moscou, em 2002, e Putin ordenou o uso de um gás letal que simplesmente matou os 130 reféns. Na ocasião, o mundo mal tomou conhecimento. Surtiram poucas providências”, prossegue Marília, que diz que, na madrugada da última quarta para quinta-feira, no entanto, a comunidade internacional finalmente despertou. 

Na data, Putin deu sinal verde à invasão de Donbass, região do sudeste ucraniano, e deflagrou ataques por terra, água e mar em todo o país. Bombardeamentos ocorreram em diversas cidades, entre elas, a capital Kiev. O ataque pegou de surpresa diplomatas, analistas e a própria população ucraniana. “O desprezo do czar ficou claro na zombaria de Putin em escolher anunciar a invasão no mesmo momento em que a ONU suplicava por paz ”, menciona a professora. “Se a comunidade internacional acordou, foi muito tarde e muito tímido.”

O enorme arsenal militar russo torna o cenário ainda mais apreensivo, porém, o momento propiciou que a Otan “ressuscitasse da letargia”, nas palavras de Marília, e aproximou uma então dividida comunidade europeia. 

“Putin é um homem acostumado com a impunidade. Jamais objetaram a sua brutalidade, seu cinismo, seu desprezo pelo ordenamento internacional. Ontem, a presidente da comissão europeia repetiu o mantra do ultraje, porém foi exatamente a complacência da comunidade internacional com os continuados crimes de Putin durante anos que lhe deu licença para matar. A diferença é que, desta vez, o estrago será em larga escala”, finaliza.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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